Liv Boeree e Vanessa Rousso. Atrás da beleza há um cérebro de genio


A música, dos finlandeses Children of Bodom, começa a ecoar pelo quarto. Liv Boeree, de guitarra ao colo, solta um sorriso para a câmara. Um segundo depois já os acompanha. Não é um momento inédito, apesar de ser dos poucos registados em vídeo. “Tenho cinco guitarras. Comecei a tocar quando tinha 16 anos. Interessava-me cada…


A música, dos finlandeses Children of Bodom, começa a ecoar pelo quarto. Liv Boeree, de guitarra ao colo, solta um sorriso para a câmara. Um segundo depois já os acompanha. Não é um momento inédito, apesar de ser dos poucos registados em vídeo. “Tenho cinco guitarras. Comecei a tocar quando tinha 16 anos. Interessava-me cada vez mais pelo metal e comprei uma guitarra – uma Epiphone Les Paul – em segunda mão, no eBay. E aprendi a partir daí.”

Liv podia ser mais uma adolescente à procura de fama e dinheiro através do YouTube. Nada mais errado. Já é famosa no seu mundo, o póquer. E está longe de ser pobre. Há um ano e meio ganhou 1,25 milhões de euros num torneio em San Remo. Foi a primeira grande vitória e um momento de afirmação.

Até aí abundavam os olhares de soslaio, as vozes mais críticas – sempre de homens, claro. Para muitos ainda era impensável ver uma mulher bonita ganhar um torneio importante. “Agora gosto de pensar que me olham com respeito”, confessa a jogador inglesa, de 27 anos, natural de Kent. E_não é caso único.

Vanessa Rousso está no top 5 das mulheres que mais dinheiro ganharam. Tem 28 anos, é franco-americana e – tal como Liv Boeree – sofreu para escapar ao simples rótulo de sex symbol. “Já ganhei quatro milhões de dólares e jogo profissionalmente há seis anos. Hoje em dia sou apenas mais uma jogadora de póquer aos olhos dos homens. Se olham e vêem apenas uma mulher, a vantagem é minha, porque estão a subestimar-me.”

Quem lhes conhece o percurso percebe como chegaram aqui. A beleza até pode ter aberto as portas dos patrocinadores – as entradas nos principais torneios custam vários milhares de euros. Mas as vitórias contra centenas de adversários não aparecem do nada, por mera sorte.

“Estudei Física e Astrofísica na universidade, em Manchester. Isso ajudou-me muito na parte mais analítica, tão importante no póquer. Treinou-me o cérebro, tornou-o mais ágil. Tudo isso ajuda”, explica Liv, que fala a um ritmo difícil de acompanhar.

Vanessa, por outro lado, seguiu uma área de estudos mais convencional. O_estatuto de melhor aluna do liceu abriu–lhe as portas da Universidade Duke, na Carolina do Norte, com uma bolsa de mérito. Dois anos e meio depois acabava um major em Economia, com minor em Ciência Política. “Em condições normais teria feito o curso em quatro anos. Mas tive aulas extra, deram-me autorização para ir além do que era permitido.” Depois disso ainda estudou Direito – que não acabou – e Produção Musical, via internet, na Berklee College of Music, de Boston.

Pensando bem, Liv e_Vanessa até podiam juntar-se no mundo da música. Uma tocava guitarra com a sua banda; a outra produzia o álbum. Experimentámos lançar a ideia, mas sem êxito. Vanessa riu-se, Liv foi mais esclarecedora. “Hum, talvez um dia. Agora não tenho tempo para pensar sequer em criar uma banda.”

Por agora, o póquer ocupa-lhes a vida. Vanessa Rousso vai mais longe:_é casada com Chad Brown, também ele jogador profissional. Em 2009 ainda arranjou umas semanas para se pôr em forma e aparecer na edição de fato de banho da “Sports Illustrated”. “Entretanto já voltei à minha dieta de póquer [risos].”

No fundo, tudo isto é cíclico. A visibilidade no póquer também abre mais perspectivas de futuro. Liv Boeree começou a jogar num reality show. Um dia espera voltar à televisão como apresentadora.