Dia 31 |Membros da corporação de Bombeiros Voluntários da Vila do Porto, afectos aos serviços do aeroporto da ilha, aguardam em prevenção a aterragem de uma aeronave com origem em São Miguel, num auto-tanque especialmente concebido para o combate a incêndios e assistência de emergência a eventuais desastres aéreos. Treinados especificamente para este serviço, têm um tempo de resposta impressionante: no limite 45 segundos para estarem operacionais após o toque de alarme!
Aeroporto de Santa Maria | Santa Maria
Dia 30 |Artes de pesca repousam no convés de um pequeno barco de pesca de boca aberta no porto da Vila, lado a lado com o monstruoso Express Santorini, o navio de passageiros fretado para as viagens inter-ilhas durante o verão, que traz centenas de turistas à mais estival ilha açoriana, especialmente por alturas do festival Maré de Agosto.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 29 |Carlos Monteiro, pioneiro no cultivo da meloa em Santa Maria, percorre as extensas estufas onde o fruto é produzido. O solo e o clima secos apresentam características únicas nos Açores, o que levou a que este produto agrícola conseguisse a Indicação Geográfica Protegida (IGP), certificação atribuída pela União Europeia.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 28 |André segue os passos da mãe, Joana Dias, artesã radicada em Santa Maria e que se dedica à utilização da lã para a produção de vestuário e acessórios. Buscando recuperar e manter uma tradição outrora enraizada na ilha, Joana trabalha esta matéria prima totalmente em casa, manualmente. Com a descida do preço da lã a valores irrisórios, para os produtores a tosquia é uma necessidade, mais que uma fonte de rendimento.
Almagreira | Santa Maria
Dia 27 |António Valente é uma instituição. Na Rádio Asas do Atlântico. Em Santa Maria. E no panorama jornalístico nacional. Provavelmente o radialista mais antigo em serviço no país, começou a trabalhar aos 17 anos, corria o ano de 1967, quase por acidente, ao substituir um colega. E sempre se manteve na mesma radio, sediada no Clube Asas do Atlântico, por onde celebridades como Frank Sinatra ou Humphrey Bogart terão passado, quando a travessia Europa-América obrigava a escalas técnicas na ilha.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 26 |Após sair no seu semi-rígido para dar as boas-vindas à tripulação de um veleiro chegado do continente, o advogado João Vasco Costa reboca uma embarcação que se encontrava à deriva ao largo de Santa Maria, devido a uma falha no motor, após ter escutado o pedido de ajuda por radio. Após mais de uma hora de viagem em ritmo lento, foi com um simples e genuíno “No mar, hoje tu, amanhã eu!”, que cumprimentou o infortunado tripulante, zarpando de imediato.
Largo de Santa Maria | Santa Maria
Dia 25 |Carregar um motor fora de borda às costas por uma escadas verticais acima é tarefa corriqueira para a equipa do barco Baía da Maia. O trabalho de um pescador começa muito antes da saída para o mar e termina muito depois. A manutenção é importantíssima para a longevidade do equipamento e para que os problemas não surjam durante a faina.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 24 |Antigas estruturas de apoio ao aeroporto de Santa Maria são agora usadas para fins bem diferentes dos originais, criando um cenário industrial decadente… mas ainda assim belo à luz do ocaso.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 23 |Um mural ambientalista alerta para a problemática das obras públicas na orla costeira. Em causa o controverso plano para os Anjos, que muitos contestam por considerarem que desvirtuará uma das localidades de veraneio mais populares na ilha.
Anjos | Santa Maria
Dia 22 |José Rezendes Santos, presidente da Associação de Pescadores da ilha de Santa Maria, inspecciona as entranhas da sua embarcação, no porto da Vila. 2015 foi, segundo o próprio, um dos piores anos de pesca de que tem memória, realidade com a qual priva de muito perto, não só como pescador profissional como também como dirigente associativo.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 21 |As ligações inter-ilhas são o cordão umbilical para as ilhas mais pequenas, sobretudo durante o inverno, em que as conexões marítimas de passageiros são interrompidas. Com a recente liberalização do espaço aéreo nos Açores a SATA, transportadora regional, entretanto rebaptizada Azores Airlines, perdeu o duopólio que mantinha com a TAP, o que tem vindo a implicar diversas adaptações de serviço, sentidas pela grande maioria dos açorianos.
Aeroporto de Santa Maria | Santa Maria
Dia 20 |Na serpenteante estrada do Sudeste da ilha de Santa Maria, Malbusca deixada para trás, um barco repousa num terreno, em seco, lembrança de que o mar e a pesca são omnipresentes na realidade açoriana.
Santo Espírito | Santa Maria
Dia 19 |Joana Baptista e Inês Cardoso, aqui em aula, são duas das alunas de piano da Escolinha da Maré, uma iniciativa da Associação Cultural Maré de Agosto, responsável também pela organização do festival homónimo.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 18 |Em plena Vila do Porto, a maior localidade de Santa Maria, cavalos e vacas pastam à beira do passeio de um bairro residencial. A separação entre os meios rural e urbano quase não existe aqui, resultando numa humanização delicada do território, onde as agressões ambientais são raras.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 17 |O centro de operações de controlo da FIR (Flight Information Region) Oceânica de Santa Maria é por onde toda a gestão do tráfego aéreo do Atlântico Norte (entre os continentes americano e europeu) passa. É nesta sala que se coordena uma das mais movimentadas zonas de sobrevoo do mundo, com uma área que equivale a toda a Europa!
Aeroporto de Santa Maria | Santa Maria
Dia 16 |João Pimentel foi durante anos a cara e o espírito da Maré de Agosto, um peculiar festival de Verão que se tornou o mais importante dos Açores e que comemorou em 2014 a sua 30ª edição. Apaixonado por música pesada e, mais tardiamente, motas, tem também na sua garagem um autêntico atelier, onde dá nova vida a sucata, madeira e às mais variadas peças que se possam imaginar!
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 15 | Santa Maria é, quiçá, a mais tecnológica das ilhas açorianas. Um dos mais recentes projectos ali instalados é a Galileu Sensor Station, da Agência Espacial Europeia (ESA) que, entre outras valências, faz o seguimento de veículos espaciais sobre o Atlântico Norte.
Monte das Flores | Santa Maria
Dia 14 |Jorge Câmara e Nuno Resendes testam o funcionamento da câmara de fogo do Centro de Formação Aeronáutica dos Açores, recentemente inaugurado em Santa Maria. Esta estrutura, que conta também com aviões em tamanho real, tem como objectivo a formação do pessoal da transportadora aérea regional.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 13 |O farol de Gonçalo Velho é um dos ícones da Ilha Amarela, como Santa Maria é conhecida. Encarrapitado num promontório natural a Sudeste, a 114m de altitude, entrou em funcionamento em 1927.
Em primeiro plano vêem-se currais de vinha nas encostas aprumadas, progressivamente abandonados com as consecutivas vagas migratórias e abandono do mundo rural.
Ponta do Castelo | Santa Maria
Dia 12 |A tripulação do veleiro Alegro, a chegar desde Lisboa na viagem inaugural, é recebida com vivas, ainda em alto mar, por um grupo de amigos que zarpou para lhe dar as boas-vindas. As minis frescas são efusivamente recebidas e tragadas, terminando um jejum de álcool auto-imposto de vários dias.
Costa Sul | Santa Maria
Dia 11 | Hélio Bairos exibe com indisfarçável orgulho uma peça da melhor carne do talho nº 2 do mercado de Vila do Porto, de uma das rezes que ele próprio criou. No mesmo dia, à noite, viria a encontrá-lo num ambiente completamente diferente: um ensaio do grupo de teatro local.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 10 | Numa das localidades mais interiores da ilha, mas surpreendentemente activa culturalmente, a Cooperativa de Artesanato de Santo Espírito dá emprego a várias mulheres. Seguindo uma receita popular ancestral, os biscoitos de orelha são uma das especialidades ali produzidas
Santo Espírito | Santa Maria
Dia 09 |Pepe Brix é o inconfundível nome pelo qual é conhecido em toda a ilha de Santa Maria e arredores. Herdou o negócio da fotografia do pai, um estúdio fotográfico na rua principal da Vila. Fotógrafo, designer, músico e viajante, Pepe desafia o preconceito do que é viver isolado numa ilha, considerando-se quase “nómada” - vive entre a sua carrinha, o seu barco, e o seu mundo, lá fora, por onde viaja vários meses por ano.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 08 | Ao entardecer, o controlador aéreo Pedro Roque assume os comandos na torre de controlo do aeroporto de Santa Maria, orientando a aterragem de um voo inter-ilhas da SATA, originário de São Miguel, a ilha vizinha.
Aeroporto de Santa Maria | Santa Maria
Dia 07 | António Moura tem uma longa história de vida: oriundo de uma família de moleiros, foi moleiro, trabalhou na construção do aeroporto, emigrou para a América e regressou à terra que o viu nascer. E olha com nostalgia para as ruínas dos moinhos que explorou até aos anos 60
Arrebentão | Santa Maria
Dia 06 |José António é um cantador ao desafio, e ainda hoje a voz não lhe falha. Começou a trabalhar aos 11 anos, vendendo o leite que as vacas dos pais produziam. Ao longo da vida esteve sempre ligado à lavoura, trabalhando com juntas de bois, mantendo uma surpreendente jovialidade e boa disposição.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 05 | Ao amanhecer, no topo da pista do aeroporto de Santa Maria, a imensidão do asfalto parece interminável. Com 3048m de comprimento, é a segunda maior do arquipélago, ostentando um longo historial de presença estrangeira. A sua construção foi levada a cabo em estreita colaboração com os norte-americanos, durante a II Guerra Mundial, que tinham como objectivo ter um ponto de apoio à Base das Lages, na Terceira.
Aeroporto de Santa Maria | Santa Maria
Dia 04 | A neblina que se abate de repente na paisagem é uma das imagens intrínsecas do quotidiano açoriano. Mas Santa Maria é, paradoxalmente, uma das ilhas mais secas do arquipélago, a par da Graciosa e conta com uma história geológica muito mais antiga que qualquer uma das restantes ilhas.
Santo Espírito | Santa Maria
Dia 03 | “Vacas tecnológicas” pastam junto à novíssima estação geodésica e espacial, uma estrutura que inclui um radiotelescópio VLBI (interferometria de base muito longa), com aplicações em áreas como a indústria espacial, proteção civil e alerta de riscos naturais. Santa Maria tem tradição de albergar projectos de índole tecnológica, sendo este o mais recente de uma já longa lista.
São Pedro | Santa Maria
Dia 02 | Bóias de sinalização de redes e artes de pesca dão cor a uma parede escura no cais da Vila do Porto, a maior localidade de Santa Maria e a porta de entrada histórica na ilha.
Vila do Porto | Santa Maria
Dia 01 | Longe das praias que deram a fama a Santa Maria de “Algarve dos Açores”, Emanuel Figueiredo muda o gado de pasto, sobranceiro às falésias aprumadas. Para proteger as reses de quedas e evitar que fujam, delimita o terreno com estacas para uma cerca eléctrica e corta erva com uma roçadoira mecânica, de seguida, para os animais.
Malbusca | Santa Maria
Dia 30 |O Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, inaugurado em 2008, representa um dos marcos arquitectónicos do Faial. Interactivo, permite ao visitante perceber a génese do vulcão e compreender melhor a paisagem lunar que o rodeia e o impacto ecológico e sobretudo social que teve na vida do Faial.
Capelinhos | Faial
Dia 29 |No antigo Cruzeiro do Canal, entretanto substituído por navios maiores, supostamente com capacidade para navegar em mar aberto e fazer as ligações às restantes ilhas do Grupo Central (Terceira e Graciosa - facto que não se concretizou até ao momento, para desilusão dos habitantes), o vai-e-vem do quotidiano repete-se, com a silhueta da Horta no horizonte.
Canal Faial - Pico | Faial
Dia 28 |Após um intenso treino de remo na marina da Horta, o convivio chega, relaxadamente, na forma de codornizes assadas e minis frescas, com a silhueta do Pico sempre presente, em fundo.
Horta | Faial
Dia 27 |À beira da estrada, em Pedro Miguel, a igreja em ruínas oferece um pungente testemunho dos danos provocados pela actividade sísmica, repetidamente, no arquipélago dos Açores. A 9 de Julho de 1998, um forte terramoto de 5.8 na escala de Richter provocou o caos, sobretudo na ilha do Faial, a mais próxima do epicentro, onde faleceram 9 pessoas. Danificado pelo abalo, a igreja acabou por sofrer ainda um incêndio, chegando assim ao estado de abandono total em que se encontra hoje.
Pedro Miguel | Faial
Dia 26 |João Miguel é um homem de muitos ofícios: funcionário público, é também taxista e, nas horas vagas, cria vacas e porcos numa longa e estreita parcela de terra, com vista para o mar. Ao fim da tarde, regada com uma mini, conduz uma rês para comer a “sobremesa” - ração melhorada, para complementar a erva viçosa que no Faial é omnipresente.
Feteira | Faial
Dia 25 |Nos laboratórios do Departamento de Oceonografia e Pescas (DOP), da Universidade dos Açores, investigadores estudam a população de cracas, um crustáceo muito apreciado pelo seu característico sabor a mar, no sentido de melhor conhecer a biologia da espécie e, eventualmente, averiguar a viabilidade de produção em cativeiro, para consumo humano.
Horta | Faial
Dia 24 |A piada mais comum de um picaroto, quando quer espicaçar a rivalidade antiga com os faialenses, é a inevitável pergunta: “ - O que é que o Faial tem de melhor?” Ao que, prontamente, responde à sua própria questão: “ - A vista para o Pico!”
Juízos à parte, o cenário é absolutamente fenomenal… e mais ainda num dia de lua cheia!
Espalamaca | Faial
Dia 23 |A matança do porco continua a ser uma tradição fortemente enraizada nos Açores. Conhecida como a “festa do pobre”, era historicamente uma ocasião em que as famílias de menores rendimentos, que criavam porcos nos quintais, juntavam amigos e familiares e em que, por vezes, praticamente todo o porco era consumido em vários dias consecutivos de convívio.
Feteira | Faial
Dia 22 |O Peter’s é, a par dos Capelinhos e da Caldeira, um dos pontos imperdíveis numa visita ao Faial. Vai já na terceira geração de anfitriões, tendo-se tornado o epicentro da vida social da Horta, onde velejadores de todo o mundo se encontram ao fim da tarde, trocando informações e estórias de marinheiros mais ou menos inverosímeis, regadas pelo famoso gin. Ainda hoje, com o advento da internet, serve como “posto de correios”, guardando e entregando mensagem manuscritas, à moda antiga, em papel.
Horta | Faial
Dia 21 |“Mau tempo no Canal”, uma das obras maiores da literatura portuguesa, inspirou-se aqui. O canal Pico - Faial está intrinsecamente ligado à açorianoridade, e para quem faz deste percurso o seu quotidiano, vagas que somem embarcações na sua cava, por longos segundos, são uma realidade comum.
Canal Faial - Pico | Faial
Dia 20 |Marco Santos integra uma equipa de remadores que treina às portas da Horta para a regata de botes baleeiros que se avizinha. A rivalidade entre as várias freguesias da ilha - e em especial com as do Pico - é notória, mas num ambiente de saudável companheirismo.
Horta | Faial
Dia 19 |Paisagem lunar, de uma beleza tão intensa quanto a dureza que transmite e às quais as palavras não farão nunca jus, o vulcão dos Capelinhos é testemunho das forças incomensuráveis que jazem, dormentes, sob os pés do viajante. Durante 13 meses, entre 27 de setembro de 1957 e 24 de outubro de 1958, jorrou lava, cinzas e vapor de água, trazendo a ruína e a miséria às localidades de Norte Pequeno e Capelos e provocou uma das maiores vagas de emigração que o Faial conheceu.
Capelinhos | Faial
Dia 18 |Na ponte do Cruzeiro do Canal, recentemente retirado de serviço, após mais de 25 anos a fazer a travessia Horta-Madalena, o mestre coordena as manobras de atracagem, particularmente delicadas à noite.
Canal Faial - Pico | Faial
Dia 17 |Miguel Machete é um homem multifacetado. Conheci-o como front man da banda de música popular portuguesa Bandarra, que junta açorianos e continentais em torno de um som peculiar, num concerto memorável, de casa cheia, no Teatro Faialense. Mas é também o coordenador do Programa de Observação para as Pescas dos Açores (POPA), da Universidade dos Açores, que procura verificar o cumprimentos das regras de pesca nos mares do arquipélago.
Horta | Faial
Dia 16 |Pormenor de dente da baleia com trabalho em scrimshaw, pela mão do mestre John von Opstal, na sua oficina com vista para o Pico, sob a grande estátua de Nossa Senhora da Conceição.
Espalamaca | Faial
Dia 15 |O novo terminal de passageiros da Horta revolucionou a forma de viajar entre o Faial e o Pico. Mas não sem polémica. Obra de grande envergadura, retirou a centralidade do antigo terminal, mesmo no coração da cidade. E, os mais críticos, acusam as autoridades responsáveis de não o terem dimensionado devidamente, impedido a atracagem dos grandes navios de cruzeiro.
Horta | Faial
Dia 14 |A omnipresença do mar é palpável até nas pequenas coisas: tudo o que contém materiais ferrosos enferruja rapidamente, exigindo uma manutenção redobrada.
Varadouro | Faial
Dia 13 |Culturas de microalgas no Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores, no seu pólo do Faial. Estes organismos apresentam um enorme potencial, em várias áreas - energéticas, alimentares, cosméticas e até medicinais - constituindo uma linha de investigação com grande interesse prático num futuro próximo.
Horta | Faial
Dia 12 |O vórtice visual criado pela escadaria de acesso ao topo do farol dos Capelinhos leva o visitante a imaginar o caos que aqui se deu em 1957, com a erupção do vulcão homónimo.
Capelinhos | Faial
Dia 11 |A marina da Horta e os seus icónicos grafitis surgem ainda mais esplendorosos numa noite de luar, com o Pico ao fundo, ali mesmo à distância de um toque, como se o canal se transpusesse de um salto. Segundo a tradição, os iatistas devem deixar no cais o sinal da sua passagem, sob pena de, se não o fizerem, serem acompanhados pela má sorte na sua viagem.
Uma particularidade: é a Câmara Municipal a disponibilizar as tintas, não seja esse o motivo de azares para os velejadores!
Horta | Faial
Dia 10 |Os desportos de aventura têm nos Açores um cenário absolutamente estrondoso, tanto pelos ambientes naturais existentes, como pela diversidade e condições climatéricas relativamente favoráveis durante a maior parte do ano. Na Caldeira do Faial é comum ver-se adeptos das caminhadas, mas também um crescente número de BTTistas, que não se deixam demover pelos 7km de trilhos irregulares e estonteantes que circundam a cratera principal da ilha, com 2km de diâmetro e 400m de profundidade.
Caldeira | Faial
Dia 09 |O Teatro Faialense tem o condão de levar o espectador a entrar numa máquina do tempo, remetendo para um imaginário visual que o coloca em inícios do século passado. O actual edifício completará 100 anos em 2016, e foi o primeiro teatro regular do arquipélago, mantendo-se como uma das principais instituições culturais do Faial.
Horta | Faial
Dia 08 |John von Opstal é um açoriano do coração. Originário da Holanda, radicou-se no Faial há quase 30 anos, desenvolvendo uma das mais nobres artes associadas à tradição baleeira: o scrimshaw. Tendo como tela dentes de cachalote, cada vez mais raros e difíceis de obter, dada a moratória internacional da caça à baleia, o artista cria pormenores de uma minúcia inacreditável.
Espalamaca | Faial
Dia 07 |Para um continental, as ligações Horta-Madalena são paradoxais, tanto se revestindo de um carácter de quase transporte urbano, um “vou apanhar o autocarro para ir para casa”, como parecendo-se com uma viagem épica, em dias de tempestade. No entanto, para muitos habitantes das duas localidades, atravessar o canal que Vitorino Nemésio imortalizou faz parte de uma rotina quotidiana como outra qualquer.
Espalamaca | Faial
Dia 06 |A tradição baleeira esteve em risco de se perder, após o fim da caça à baleia, nos anos 80. A observação de cetáceos veio de alguma forma inverter essa tendência. Mas não só: hoje, equipas do Faial e do Pico disputam acesas regatas em botes baleeiros, à vela e a remos. Para alcançar a glória, treina-se intensamente nas duas ilhas!
Horta | Faial
Dia 05 |A areia negra das praias açorianas, devida à pedra basáltica, é uma das imagens de marca do arquipélago. Na praia do Almoxarife, ao entardecer, pés na água cálida do fim do Verão, a vista não poderia ser mais impressionante, com o Pico no seu esplendor, iluminado pelos últimos raios de sol…
Almoxarife | Faial
Dia 04 |Com o sol a tocar o horizonte, a descida da encosta poeirenta do vulcão dos Capelinhos é um desafio para joelhos e pulmões, tão fina é a cinza vulcânica que a recobre e que se eleva no ar a cada passada.
Capelinhos | Faial
Dia 03 |Domingos André é um homem que foi ao fim do mundo. E regressou. Proprietário do minúsculo mas ainda assim imensamente charmoso bar a que, com propriedade, dado o local inóspito e distante onde se encontra, apodou de “Fim do Mundo”, assistiu em criança à erupção do vulcão dos Capelinhos, que dista apenas um par de quilómetros, e emigrou para a América ainda jovem. Voltou. Mas hoje o estabelecimento está na eminência de fechar. O fim do mundo fica mais distante…
Norte Pequeno | Faial
Dia 02 |No final das tardes quentes de Verão, a esplanada do restaurante Atlético, explorado por uma família russa, é ponto de encontro de clientes, alguns habituais, outros esporádicos.
Horta | Faial
Dia 01 |Norberto Serpa é um dos rostos do Faial e do mar açoriano. Pioneiro nas actividades turístico-maritimas, como a observação de cetáceos, mergulho e apoio à fotografia subaquática, está também ligado à Universidade dos Açores e à investigação oceanográfica.
Horta | Faial
Dia 31 |Virginio Salgado, baleeiro, fita a encosta abrupta na qual o pequeno porto do Topo se encaixa. Daqui, ao longo de muitos anos, partiu para a caça à baleia, até 1965, desafiando o mar e os cetáceos a cada viagem. As memórias mantêm-se vivas: o maior cachalote que alguma vez trouxe para terra tinha 23 metros, e chegou, num dia extraordinário, a caçar 9 baleias.
Topo | São Jorge
Dia 30 |Rezar o terço ao anoitecer, ao fim de mais um dia de trabalho, tem tanto de religioso como de pagão, e em casa de Goreti e António, que pagam uma promessa, reúnem-se amigos e familiares de várias gerações. O garrafão lá está também, que não só a alma precisa de alimento.
Norte Pequeno | São Jorge
Dia 29 |Como que abençoado pela presença protectora da pomba branca, na tradicional bandeira grená, um bebé dorme na casa do Espírito Santo no meio de grande algazarra, nos preparativos para o banquete que, dentro de poucas horas, ali terá lugar.
Topo | São Jorge
Dia 28 |O crepúsculo cai, quando o sol mergulha a Oeste, por detrás do Faial, no convés do Expresso do Triângulo. Linha vital no quotidiano inter-ilhas, as embarcações fazem actualmente ligações bi-diárias durante o verão, algo relativamente recente e que facilitou grandemente a vida a quem trabalhe e vive numa ilha diferente.
Canal São Jorge | São Jorge
Dia 27 |José Teodoro (à esquerda) descansa numa pausa dos preparativos para o Bode de Leite, na freguesia do Topo. O mordomo da festa oferece, com a ajuda de uma numerosa equipa (maioritariamente mulheres), o almoço à população, variando o número de comensais entre as dezenas e as centenas.
Topo | São Jorge
Dia 26 |Serafim Brasil é daqueles homens a quem a idade não assenta. Com uma jovialidade que os 70 anos contradizem, corre por montes e vales, descendo agilmente até à Fajã do Mero, onde tem uma pequena casa rural e onde faz questão de receber os visitantes, permitindo um vislumbre do que seria a vida nestas bandas há décadas atrás.
Norte Pequeno | São Jorge
Dia 25 |José “Pistola” Ferreira reencontra no mais improvável dos sítios um antigo conhecido, de outras vidas, num surf camp. Fotógrafo e operador vídeo, além de escalador e slackliner nas horas vagas, passou pela Caldeira em trabalho, tendo os Açores como cenário para uma campanha publicitária.
Fajã da Caldeira de Santo Cristo | São Jorge
Dia 24 |Joana Âmbar tem de buscar rede de telemóvel no exterior, com a gloriosa vista para o Pico e Faial, para conseguir receber o pagamento por multibanco de um cliente da Quinta de São Pedro. Filha de açorianos nascida e criada em Lisboa, tomou, com a irmã mais velha, a opção de regressar às origens e recuperar a quinta da família, tornando-a num dos mais acolhedores espaços de turismo de habitação na ilha de São Jorge.
Velas | São Jorge
Dia 23 |Maria Jelsemina não brinca em serviço, quando se trata de orientar os trabalhos na cozinha da Casa do Espírito Santo, na véspera do bodo oferecido na localidade do Topo, numa das mais tradicionais festividades de São Jorge. Com uma equipa de 10 voluntárias, serão preparadas centenas de refeições, acompanhadas pelo pão caseiro que ela própria prepara no grande forno do piso térreo.
Topo | São Jorge
Dia 22 |Duarte Silveira tem a música no sangue - já o pai era tocador de viola da terra. Na sua sala de estar - que duplica como sala de ensaios - tem 16 guitarras, de vários tipos, tamanhos e feitios! Antigo presidente da câmara municipal local e músico autodidacta, faz parte de diversos grupos, dos quais se destaca Tributo, uma banda de música tradicional portuguesa com mais de década e meia de existência e 3 discos editados,
Calheta | São Jorge
Dia 21 |A vida de levoura começa cedo para muitos açorianos. Mesmo no mundo infantil! Num quintal anónimo da costa Norte, bonecos-vacas desempenham os seus papeís num cenário montado por crianças invisíveis, algures recolhidas em casa ou na escola.
Costa Norte | São Jorge
Dia 20 |Já na fase final da linha de produção na fábrica da Calheta, conservas de atum surgem amontoadas, num padrão de forma e cor que dentro de dias viajará para o continente, aterrando nas prateleiras das principais cadeias de distribuição. br>Calheta | São Jorge
Dia 19 |A tecelagem em grandes teares foi desde tempos longínquos uma presença em São Jorge. Hoje, o artesanato permite manter esta arte, de que resultam imponentes colchas, finamente trabalhadas, por cima do Café Nunes, famoso também pelo café produzido na fajã pelo seu proprietário, Manuel Nunes.
Fajã dos Vimes | São Jorge
Dia 18 |A família Brasil sempre manteve uma relação muito forte com a lavoura, e apesar de manterem apenas algumas vacas - o que obriga à ordenha manual - a cumplicidade é impressionante, com cada animal a reagir ao seu nome e às festas que lhes fazem, na brincadeira.
Norte Pequeno | São Jorge
Dia 17 |A visão do Pico é omnipresente em quase toda a ilha. Ao fim da tarde o estreito canal que separa as duas ilhas reflecte uma infindável paleta de cinzas e azuis, sendo comum o avistamento, de terra, de golfinhos e até de baleias. A simbiose entre as três ilhas (São Jorge, Pico e Faial) vem de longe, e é aqui que mais se sente estarmos verdadeiramente num arquipélago.
Canal de São Jorge | São Jorge
Dia 16 |Escolher o arroz que será preparado em enormes panelas sobre fogões industriais no chão das cozinhas é uma tarefa familiar, por alturas das festividades em São Jorge, unindo gerações em torno de grandes mesas. As conversas divagam entre os assuntos mais mundanos e os mais sérios, estando a fé e a religiosidade sempre subjacentes.
Norte Pequeno | São Jorge
Dia 15 |Carlos David tem uma paixão pelo campo. Diariamente, por vezes de manhã e à tarde, vem mungir as suas vacas, em verdejantes prados sobranceiros às fajãs da costa Norte, com as silhuetas da Graciosa e da Terceira ao fundo, sumindo-se na neblina que o Atlântico liberta.
Norte Grande | São Jorge
Dia 14 |São Jorge é, alegadamente, o único local da Europa onde se produz café de forma comercial. Tirando partido do clima ameno e protegido que a fajã proporciona, a plantação de cafezeiros tem vindo a aumentar, em pequenos quintais, sendo depois to café torrado para o estabelecimento local, conhecido em toda a ilha por este facto.
Fajã dos Vimes | São Jorge
Dia 13 |O porto das Velas - a maior localidade e epicentro da vida da ilha - quase nunca pára, apesar do aparente ritmo dolente que emana. Das pequenas embarcações de pesca de recreio, aos pescadores que vão e vêm da faina dia após dia, e à azáfama que de manhã e ao fim do dia acontece com a atracagem do catamaran que liga as três ilhas do Triângulo, neste pequeno microcosmos pode-se ver espelhada a vivência jorgense.
Velas | São Jorge
Dia 12 |O queijo de São Jorge é provavelmente o mais reconhecido produto originário da ilha-dragão, sob Denominação de Origem Protegida (DOP). Com diferentes curas, que podem ultrapassar os 3 meses, consoante o sabor pretendido, cada queijo varia entre os 8 e os 12kg. A dedicação que os funcionários da Uniqueijo põem na sua manufactura impressiona, tal como a experiência gustativa.
Beira | São Jorge
Dia 11 |A manteiga que irá ser usada na preparação da massa sovada brilha à luz matinal, levemente derretida pelo calor de mãos experientes que, durante por vezes mais de uma hora, a amassarão na confecção deste pão tipicamente açoriano.
Norte Pequeno | São Jorge
Dia 10 |A fábrica de conservas Santa Catarina, sedeada na Calheta, é um dos principais empregadores do concelho, sendo o atum o seu principal produto. Apostando em linhas gourmet e num design menos tradicional, tem vindo a singrar num mercado sempre conturbado, mantendo-se como uma âncora social.
Calheta | São Jorge
Dia 9 |A máxima “o cão é o melhor amigo do Homem” pode ser testemunhada em qualquer parte do mundo, em qualquer ambiente, em qualquer estrato social. As casas de apoio agrícola, construídas com pedra basaltica, são muitas vezes, nos Açores, o epicentro de uma vida social tecida com apertados laços, e o fiel amigo raramente está ausente.
Fajã do Mero | São Jorge
Dia 8 |Cigarros, prados e carrinhas de caixa aberta. Uma parte do quotidiano de muitos lavradores orbita em torno destes componentes. São Jorge é a quarta maior ilha dos Açores, mas tem uma população relativamente reduzida. As oportunidades de emprego não são muitas, sobretudo com o forte decréscimo que nos últimos anos os lacticínios sofreram.
Topo | São Jorge
Dia 7 |A ordenha manual está em rápido desaparecimento nos Açores, substituída por máquinas que fazem o trabalho de horas em minutos. No entanto, o avultado investimento não se justifica para os pequenos criadores de gado. A destreza das mãos curtidas pela lavoura surpreende, emprestando um ritmo sincopado aos jactos de leite quente e de odor intenso que tocam o metal numa manhã enevoada.
Nortes | São Jorge
Dia 6 |Adroaldo Mendonça não é um presidente de junta de freguesia qualquer. No Norte Pequeno existem vários percursos pedestres de iniciativa municipal, para além dos oficiais, e apesar de viver ao lado da famosa Fajã da Caldeira de Santo Cristo, a freguesia promove com orgulho as suas próprias fajãs, assim como o artesanato e as vivências rurais.
Norte Pequeno | São Jorge
Dia 5 |David Moreira prepara para os convidados um jantar que ele próprio conseguiu: lapas grelhadas arrancadas das pedras da costa, peixe assado que trouxe de uma saída de caça submarina, tudo preparado na cozinha que ajudou a reconstruir com as suas próprias mãos. Jovem e empreendedor, amante das míticas ondas da fajã, recebe turistas de verão e, nalguns invernos, é tripulante de veleiros, emprestando à mais icónica fajã dos Açores uma nova vida.
Fajã da Caldeira de Santo Cristo | São Jorge
Dia 4 |Raimunes Leonardes é um dos escassos fabricantes de viola da terra em actividade. Membro de uma nova geração, carpinteiro filho de carpinteiro, recebe encomendas de todo o mundo e a qualidade dos seus instrumentos é inequivocamente reconhecida, aliando tradição a novas tecnologias na sua poeirenta oficina na ponta sudeste da ilha.
Topo | São Jorge
Dia 3 |O Divino Espírito Santo é uma tradição presente em todas as ilhas do arquipélago, mas em poucas é tão vivido como em São Jorge. Os preparativos para os vários domingos acontecem com dias de antecedência, incluindo a cozedura de bolos e pão, e toda a comunidade é envolvida, com vizinhos e familiares participando numa convivência intensa, que culmina diariamente com a reza do terço, ao fim da tarde, junto ao altar que cada lar prepara para a quadra.
Norte Pequeno | São Jorge
Dia 2 |António Pedroso é o homem dos sete ofícios: artista plástico, organista, empresário hoteleiro e deputado regional, encarna a multidisciplinaridade que muitos açoranos demonstram em diferentes sectores da sociedade insular, em parte fruto de um isolamento que só nas últimas décadas se minimizou.
Velas | São Jorge
Dia 1 |Do topo da “ilha dragão”, como São Jorge é conhecida, pela sua forma oblonga, peculiar, podem-se enxergar 5 das 9 ilhas do arquipélago, em dias límpidos. O Pico da Esperança, com 1053m de altitude, é a mais alta de uma série de elevações vulcãnicas, visíveis em linha quase recta. para ambos os extremos da ilha.
Pico da Esperança | São Jorge
Dia 31 |De semblante compenetrado, dado o peso que é dado à coroação do Divino Espírito Santo, vários jovens da família saem da igreja das Fontinhas, em direcção à casa do povo, onde o bodo será servido à população. Entretanto serão leiloadas, no adro, as ofertas, cujo proveito reverterá a favor de causas sociais.
Fontinhas | Terceira
Dia 30 |Noelie, francesa, Solange, portuguesa continental e Ana, espanhola, treinam na parede de escalada artificial instalada no Regimento de Guarnição nº1, no Monte Brasil, sobranceiro à baía de Angra. As jovens estão por diferentes motivos nos Açores, mas são uma metáfora social da vivência quotidiana da ilha: jovem, divertida e cosmopolita.
Monte Brasil | Terceira
Dia 29 |Convivas da rota das adegas, nos Biscoitos, freguesia com forte tradição na produção vitivinícola, param para descanso. O evento, já na sua 2ª edição, visa a promoção do vinho aqui produzido, reforçando o papel que os pequenos produtores têm, não só na produção de vinho propriamente dita, mas também como mais-valia cultural e turística.
Biscoitos | Terceira
Dia 28 |João Mendes ajusta o áudio, na mesa de mistura, num ensaio da banda Ti-Notas, criada no já distante ano de 1997. Reunidos num anexo à garagem preparado para o efeito, os 11 músicos que o grupo congrega são originários das freguesias do Raminho e Altares. Todos são amadores, à excepção de João, mesclando influências que vão da musica tradicional portuguesa a sonoridades mais eléctricas.
Raminho | Terceira
Dia 27 |Um novilho morto jaz na caixa aberta de uma pick-up, enquanto o lavrador aguarda, pacientemente, que a procissão passe. O profano e o sagrado cruzam-se amiúde no arquipélago, onde a Igreja conta ainda com uma forte implantação social.
Fontinhas | Terceira
Dia 26 |Do topo da torre de controlo do aeroporto das Lajes saltam aos olhos os códigos que os edíficios amarelos da base norte-americana ostentam na fachada: “T-xxx”. T, de “Temporary”. Lembrança de que, apesar do forte impacto que esta unidade militar teve nas últimas décadas na economia local da ilha, a sua presença sempre foi vista como efémera e que os EUA a encaram como… temporária.
Lajes | Terceira
Dia 25 |Nas estufas da Universidade dos Açores são criados milhares de pés de plantas autóctones, para posterior replantação pelo arquipélago, num esforço de restablecer o coberto vegetal original do arquipélago, fortemente afectado pela introdução, involuntária nalguns casos mas também intencional noutros, de espécies exóticas, que acabaram por competir pelo mesmo nicho ecológico.
Terra Chã | Terceira
Dia 24 |A pedra vulcânica é um material abundante em todas as ilhas dos Açores. Mas se bem que constituiu a base da construção tradicional, criou também problemas ao aproveitamento agrícola nalgumas zonas, nomeadamente para a vinha. Tal como os maroiços (montes de pedra arrumados nas extremas dos terrenos, no Pico), na Terceira estas também foram amontoadas, mas com o objectivo de elevar a vinha acima do nível do solo, particularmente húmido nesta ilha, algo que esta cultura não aprecia.
São Bartolomeu | Terceira
Dia 23 |A alcatra é um dos pratos mais característicos da gastronomia terceirense, fazendo uso da abundante carne de vaca na ilha. Confeccionado num alguidar de barro afunilado, apura com o tempo, sendo por isso demorada a sua preparação. Tradicionalmente era acompanhado apenas de pão ou de massa sovada.
Fontinhas | Terceira
Dia 22 |As térmitas são um problema pouco visível mas de enorme gravidade na Terceira, em particular nos antigos edifícios de Angra do Heroísmo, cidade classificada como Património da Humanidade após o catastrófico terramoto de 1 de Janeiro de 1980. Alóctones, alimentam-se nas estruturas de madeira, que vão lentamente destruindo. Orlando Guerreiro, da Universidade dos Açores, prepara armadilhas para a espécie, que estuda há vários anos, na tentativa de encontrar soluções a longo prazo para esta ameaça.
Pico da Urze | Terceira
Dia 21 |Jorge Nunes não esconde o carinho e o orgulho que sente pelas suas vacas Ramo Grande, mesmo num dia chuvoso. Com a lama agarrada às galochas, passa a mão pelo pêlo húmido de um imponente boi. A única raça bovina autóctone dos Açores, foi sobretudo usada como animal de força, quando carroças e alfaias agrícolas ainda eram puxadas por juntas. Produzindo pouco leite e não sendo particularmente adequada à produção de carne, o futuro desta raça é pouco auspicioso.
Doze Ribeiras | Terceira
Dia 20 |Na Base das Lajes o controlo aéreo é gerido em tempo real por equipas mistas de militares portugueses e norte-americanos, que trocam impressões diante de fiadas de écrans. Formalmente a base militar é portuguesa, mas a escala da presença de tropas dos EUA tornam-na num caso único, tendo inclusivamente sob sua tutela o tráfego aéreo civil.
Lajes | Terceira
Dia 19 |Telma Barcelos é um dos rostos do novo empreendedorismo açoriano. Administradora da Quinta dos Açores, um espaço único em que os produtos da empresa - carne bovina e lacticinios - são disponibilizados para compra ou para consumo, apostou no design para se diferenciar. Com as duas irmãs, assumiu em mãos o negócio de família, revolucionando-o, tendo como mascote a Quieta, uma vaca de estimação que preencheu boa parte da sua infância e que hoje “recebe” os visitantes à entrada do restaurante.
Pico Redondo | Terceira
Dia 18 |A tradição do Divino Espírito Santo está fortemente enraízada em todas as ilhas açorianas. Crê-se que, em Portugal, tenha sido introduzida pela Raínha Santa Isabel, e depois levada para o arquipélago pelos primeiros povoadores. Ao longo de várias semanas, após a Páscoa, são diversos os eventos relacionados com a festividade. Na imagem, famíliares e amigos de Paulo Vieira rezam o terço, diariamente, diante do altar que, cuidadosamente, os anfitriões prepararam.
Terra Chã | Terceira
Dia 17 |O fumo provocado pelo azoto líquido envolve um contentor, no qual Sofia Teixeira insere dezenas de pequenos recipientes coloridos com sémen de porco. A investigadora da Universidade dos Açores busca o Santo Graal da produção de suínos: a congelação viável de material genético de porco para inseminação artificial, à semelhança do que já se faz com outras espécies, algo que até agora não foi conseguido.
Pico da Urze | Terceira
Dia 16 |As coroações são um dos momentos altos das festividades do Divino Espírito Santo. Em Abril/Maio, repetem-se um pouco por toda a ilha. A família de José Borges ofereceu um enorme almoço - o bodo - aos convidados, que neste caso ascendiam a 400. Ao longo de toda a semana é preparado, culminando no Domingo, numa procissão que segue até à igreja, onde a coroação se dá, e daí ao local do repasto. No final, a procissão é retomada e as coroas são entregues a uma outra família que, na semana seguinte, receberá o Espírito Santo.
Fontinhas | Terceira
Dia 15 |Num dos hangares da Base das Lajes, dois helicópteros Merlin EH-101 preparam-se para operações de manutenção, após uma noite particularmente intensa, em que várias missões de busca e salvamento foram levadas a cabo ao largo dos Açores, devido às condições meteorológicas particularmente adversas.
Lajes | Terceira
Dia 14 |Alla Lanova, maestrina ucraniana radicada há mais de uma década na Terceira, ensaia o grupo coral AMIT. A soprano é também professora de canto no Conservatório de Música.
Angra do Heroísmo | Terceira
Dia 13 |Um enorme cedro do mato, certamente centenário, estende os seus ramos numa pequena mancha florestal no interior da ilha. Muito procurada pela qualidade da madeira, esta espécie arbórea foi vendo a sua presença progressivamente reduzida, sendo hoje relativamente raro encontrar exemplares de grande porte.
Terra Chã | Terceira
Dia 12 |Palhaços “distribuem” sorrisos na Praça Velha, bem no centro da cidade, a crianças, turistas, idosos e simples curiosos, numa acção de dinamização cultural a propósito do Dia Mundial do Sorriso, comemorado a 28 de Abril.
Angra do Heroísmo | Terceira
Dia 11 |Num arquipélago em que a produção bovina é um dos pilares da economia local, os matadouros são importantes peças do jogo. Longe do olhar do público, que muitas vezes prefere não pensar no processo intermédio entre as “vacas felizes” omnipresentes nos prados açorianos e o prato, o quotidiano é duro, sangrento, mas asséptico, sob apertadas regras de higiene.br>Praia da Vitória | Terceira
Dia 10 |É, sem dúvida, o mais impressionante fenómeno geológico da ilha Terceira. E uma das jóias naturais dos Açores! De fora, nada faz suspeitar a paisagem subterrânea. Bem no âmago da ilha, o Algar do Carvão, cone vulcânico testemunho de uma erupção, eleva-se das entranhas da terra, num vórtice de cores e formas que só os sentidos podem captar cabalmente.br>Algar do Carvão | Terceira
Dia 9 |O pónei da Terceira é a quarta raça de cavalos portuguesa a ser reconhecida internacionalmente, tendo Artur Machado, professor universitário, com um dos grandes impulsionadores. Com a morfologia de um cavalo, mas a dimensão de um pónei, é particularmente adequado ao ensino equestre, porque a escala permite às crianças e jovens uma melhor aprendizagem.br>Vinha Brava | Terceira
Dia 8 |No Centro de Biotecnologia da Universidade dos Açores, Hélder Nunes mantém sob atenta vigilância milhares de tubos de ensaio contendo minúsculas plantas endémicas. O objectivo da investigação é um maior conhecimento sobre as mesmas, para posterior a replantação no arquipélago. Estas espécies, devido à acção humana e à competição de invasoras, foram progressivamente definhando na Natureza, restando poucas bolsas em habitats naturais.br>Terra Chã | Terceira
Dia 7 |Com um olhar tão acutilante quanto o discurso que sustenta, Francisco Maduro Dias, um erudito museólogo terceirense, revela-se um conversador nato, daqueles que podemos ficar horas a fio a escutar, sem que o tédio se intrometa, versando habilmente sobre temas tão díspares como as touradas à corda ou o papel da sua ilha na História de Portugal.br>São Bartolomeu | Terceira
Dia 6 |A famosa “manta de retalhos” que se estende no sopé da Serra do Cume, perto da Praia da Vitória, é um testemunho indelével da relevância da agricultura na história sócio-cultural da Terceira. Largas dezenas de propriedades são divididas por muros de pedra, num intrincado mosaico natural em que a mão do Homem, excepcionalmente, interviu de forma harmoniosa.br>Serra do Cume | Terceira
Dia 5 |Bruno é um apaixonado por tourada à corda. Como a grande maioria dos terceirenses, tem a sua ganadaria preferida, quase como um clube de futebol. Ao fim de semana, reúne-se com os amigos para ajudar a tratar dos touros. Assim que a época das touradas abrir - a 1 de Maio - irá percorrer o circuito na ilha, como “pastor” - os homens que aguentam o touro, na ponta da corda.br>Ganadaria José Albino Fernandes | Terceira
Dia 4 |André alinha no clube local e ambiciona um dia ser jogador de futebol profissional. Num pasto ao lado de sua casa, com uma baliza improvisada, desafia amigos para uma partida no meio da erva alta.br>Fontinhas | Terceira
Dia 3 |Herdeiro de uma família incontornável que revolucionou a produção vitivinícola na ilha Terceira, Luís Brum alimenta a ligação a esta arte, como fundador da Confraria do Vinho dos Biscoitos e mantendo o Museu do Vinho. Simultaneamente procura equilibrar as suas funções de homem de negócios com as de criativo, particularmente na área da ilustração.br>Biscoitos | Terceira
Dia 2 |As bandas filarmónicas são um dos elos comuns às ilhas açorianas. Após mais uma procissão, os músicos desmobilizam, enquanto o trânsito retoma pachorrentamente o seu ritmo domingueiro, ao qual um cavalo parece absolutamente alheio.
Fontinhas | Terceira
Dia 1 |Num dia chuvoso e cinzento, abrigados num alpendre, monta-se um novo portão para os cercados onde o gado é mantido. Amigos juntam-se ali ao Sábado de manhã, para ajudar em tarefas várias, até que a hora de almoço marca a merecida pausa.
Quatro Caminhos | Terceira
Dia 30 |Rui Dutra não esconde o afecto pelos cães da família, à boleia numa carrinha de caixa aberta. No Pico é rara a casa que não tem um 4x4, e não é um luxo: as muitas estradas de bagacina (terra batida avermelhada, vulcânica), montanha acima, a isso obrigam, nos sempre presentes trabalhos no campo.
Criação Velha | Pico
Dia 29 |Parte da convivência no Pico passa pelas adegas. Esta é uma das características que a diferenciam de outras ilhas. E na altura das vindimas, mais ainda. O cheiro a mosto, com as uvas em fermentação, tempera um merecido almoço em mesa corrida.
Lajido | Pico
Dia 28 |Três gerações cruzam, juntas, o profundo canal que separa o Pico de São Jorge, num entardecer que se repete - nos dias de hoje - diariamente. Até há não muito tempo as ligações Faial - São Jorge, por exemplo, só aconteciam algumas vezes por semana, com sérias implicações na organização das vidas quotidianas de picarotos e jorgenses.
Canal Pico - São Jorge | Pico
Dia 27 |Marcelo Soares herdou do pai uma das mais únicas e especiais profissões do Pico: vigia de baleias. Desta vez não para as caçar, mas sim para as observar. Na Vigia da Queimada, sobranceira às Lages, com potentes binóculos, perscruta o horizonte em busca dos “bufos” das cetáceos, comunicando por radio ou telemóvel com os skippers dos semi-rígidos de whale watching que, na água, a algumas milhas da costa, proporcionam uma experiência de observação de vida selvagem a que ninguém fica indiferente…
Lages | Pico
Dia 26 |O sagrado e o profano mesclam-se amiúde nos Açores. Com uma matriz católica profundamente enraizada na cultura popular, as festas religiosas multiplicam-se pelas diferentes freguesias, mas a elas nunca faltam coisas tão mundanas como pipocas e barraquinhas de comes e bebes.
Lajido | Pico
Dia 25 |O Pico só muito recentemente passou a ter voos directos para o continente, dadas as obras de melhoramento do seu aeroporto. Daí que o cais de partidas e chegadas do porto seja, por instantes, o epicentro da vida quotidiana de São Roque e da Madalena.
São Roque | Pico
Dia 24 |As procissões religiosas são um dos denominadores comuns da vida nas diferentes ilhas (e até fora delas). A boa disposição dos padres, encharcados pela forte e inesperada chuvada, contrasta com o tempo, soturno.
Lajido | Pico
Dia 23 |No meio de uma tempestade, jovens picarotos passam a noite de adega em adega, na montanha, na festa do Ajuntamento, intimamente ligado à forma de estar e de confraternizar no Pico, e que a distingue de outras ilhas. Originalmente o Ajuntamento ocorria no final da época, em Setembro, e coincidia com a reunião (daí a designação) do gado, antes do Inverno. Hoje a tradição mantém-se, embora o motivo original tenha deixado de existir.
Montanha | Pico
Dia 22 |Uma das revoluções económicas da ilha, o recente sucesso do vinho do Pico revitalizou muitas vinhas que se encontravam ao abandono, após anos de doenças e de desinteresse geral. Pelas suas condições específicas, a vindima é totalmente manual e particularmente dura, pois as uvas encontram-se junto ao solo, em terrenos rochosos. Na imagem os bagos são separados do cangaço manualmente, embora alguns produtores já utilizem métodos mecânicos para este processo.
Criação Velha | Pico
Dia 21 |Acima da povoação, num prado amplo em que tendas teepee inspiradas nos indígenas norte-americanos se destacam em contraluz, sons etéros interrompem o sliêncio da noite. Um concerto de hang - instrumento inventado na Suiça em 2000, que se assemelha a uma grande frigideira - decorre ali, integrado no Azores Fringe Festival, evento que reune artistas alternativos de diferentes áreas e que tem vindo a percorrer várias ilhas.
Madalena | Pico
Dia 20 |Faroleiro é uma daquelas profissões que sabemos existir mas com a qual muito raramente nos cruzamos. Militares de carreira, asseguram o bom funcionamento dos equipamentos de navegação marítima, cada vez mais automatizados mas, paradoxalmente, mais delicados, sobretudo por estarem localizados em zonas expostas aos elementos, o que implica uma vigilância permanente.
Ponta da Ilha | Pico
Dia 19 |Pausa de almoço, numa tarde de fim de verão, no Lajido. O largo junto ao café acaba por ser ponto de encontro dos trabalhadores, locais e forasteiros, num cenário que tanto tem em comum com muitas localidades do continente.
Lajido | Pico
Dia 18 |Sob um céu plúmbeo e um tímido arco-iris, testemunhos da inconstância meteorológica que se tornou célebre nos Açores, os funcionários da Transmaçor atracam no porto de São Roque, a caminho de São Jorge.
São Roque | Pico
Dia 17 |A visão matinal que se tem daa janela de uma pequena adega, no sopé da montanha do Pico, mostra a contínua dança do nevoeiro nas encostas e prados que vão subindo até cotas mais altas. Lá, o verde dá lugar ao negro da rocha, até ao topo dos seus 2351m de altitude.
Montanha | Pico
Dia 16 |Almerindo Lemos é um contador de histórias nato e pertence a uma espécie em extinção: baleeiro. Durante décadas trabalhou arpoou cachalotes nos mares do Pico, a mais baleeira das ilhas açorianas, como trancador - o homem que, à proa, lançava o arpão, na mais perigosa posição da embarcação. Em 1976 foi fotografado para a National Geographic, cujo exemplar guarda religiosamente, numa casa que respira histórias de baleias e de lobos do mar.
Calheta do Nesquim | Pico
Dia 15 |Por ser a mais recente, o Pico é a ilha que apresenta maior quantidade e diversidade de testemunhos de fenómenos vulcânicos. A Gruta das Torres é disso exemplo, constituíndo o maior tubo lávico conhecido em Portugal. Muito recente, geologicamente falando (terá entre 500 a 1500 anos) ultrapassa os 5km de comprimento, em direcção ao mar. Formou-se aquando de uma erupção vulcânica, em que a lava, em contacto com o ar, solificiou à superfície, mas continuou a escorrer no interior, criando um longo túnel, que se esvaziou à medida que o rio de lava no seu interior se escoava. Aberto ao público, o centro de interpretação viria a ganhar o prémio de arquitectura Tektónica em 2009.
Gruta das Torres | Pico
Dia 14 |As touradas à corda atingem o seu expoente máximo na Terceira, mas têm. nos últimos anos, vindo a ganhar grande popularidade em várias outras ilhas. O touro, criado em ganadarias próprias, é simplesmente amarrado com uma longa corda, no final da qual os “pastores” controlam até onde ele pode ir. Nos topos do terreno da corrida há duas linhas, marcada a cal no chão, que delimitam até onde o touro pode ir, e a partir de onde ele já não passa - supostamente.
Montanha | Pico
Dia 13 |Classificada como Património da Humanidade, a vinha do Pico é testemunho do engenho humano, ao tornar uma das zonas mais inóspitas da ilha - campos de lava solidificada - em produtivos terrenos agrícolas, particularmente adaptados à vinha. O basalto negro absorve o calor durante o dia, mantendo a temperatura elevada mesmo durante a noite, algo que a planta da vinha aprecia, enquanto os currais (muros de pedra solta) a protegem de ventos e do salitre que o vento faz chegar da costa, a apenas algumas dezenas de metros.
Criação Velha | Pico
Dia 12 |Para além de passageiros, o Cruzeiro do Canal transportava também produtos essenciais ao quotidiano do Pico. Recentemente substituído por navios maiores e com melhores condições, há ainda muitos clientes habituais da travessia que recordam com alguma nostalgia os mais de 20 anos em que esteve ao serviço.
Madalena | Pico
Dia 11 |Qualquer sitio é bom para estar em boa companhia… Mesmo ao volante de um tractor!Nos Açores o mundo rural ainda é uma realidade marcadamente presente no quotidiano. Muitos jovens seguem os passos da família, em explorações de gado bovino, mantendo, nos tempos livres, um estilo de vida que pouco difere do de ambientes mais urbanos.
Estrada da montanha | Pico
Dia 10 | João Quaresma tem ADN picaroto. Homónimo do seu avô, célebre cidadão da ilha - que empresta hoje o nome ao terminal marítimo recém-inaugurado na Madalena - gravitou sempre entre Lisboa e o Pico, até fixar residência na ilha há quase duas décadas, quando o nicho do whale watching dava ainda os primeiros passos. Skipper no Espaço Talassa, nas Lages, é também fotógrafo de vida marinha nas horas vagas, mantendo ainda uma das maiores coleções de whisky do mundo, herdada do pai e do avô, do tempo em que ainda se pagava em géneros.
Lages | Pico
Dia 9 | A conexão Pico | Faial vem de longe, com os ilhéus “Em pé” e “Deitado” erguendo-se como sentinelas à entrada do porto da Madalena do Pico. Apesar de algumas ilhas contarem com uma população relativamente jovem, os Açores debatem-se com uma realidade de difícil gestão a médio/longo prazo, comum a outras regiões periféricas ou do interior: como fixar os mais novos, levando a que estes não saiam ou que, ao partir, regressem, mantendo uma população activa estável e dinâmica.
Madalena | Pico
Dia 8 | Ao raiar do dia, Manuel Dutra galga muros de pedra solta para separar uma novilha da manada, que será vendida mais tarde nessa manhã, no sopé da montanha do Pico. Parte das forças vivas da Madalena do Pico, Manuel foi, para além de criador de gado e produtor de vinho, vice-presidente da Cooperativa da Vitivinícola do Pico e dirigente do grupo folclórico local, o que levou a conhecer particularmente bem o continente.
Montanha | Pico
Dia 7 | Os navios que fazem a ligação marítima entre as ilhas do Triângulo (Faial, Pico e São Jorge) são o cordão umbilical que torna estas, seguramente, as mais entretecidas ilhas dos Açores, com uma proximidade e inter-dependência que vão muito para além das curtas distâncias que as separam. Em “Mau tempo no Canal” Vitorino Nemésio aborda-o e, mais de meio século depois, algo se mantém… Carga, doentes, trabalhadores, familias, tudo ciranda nesta triangulação quotidiana que não pára de surpreender pela sua riqueza visual e humana.
Canal Pico - São Jorge | Pico
Dia 6 |Modernidade vs. tradição, juventude vs. maturidade: nas festas de Nossa Senhora da Pureza, no Lajido, a banda filarmónia desmobiliza em algazarra, após uma compenetrada actuação no arraial.
Adolescentes tatuados tocam ao lado de enrugados anciãos, num encontro geracional e cultural que em todas as ilhas se repete, sem excepção, e que sublinha uma das mais fortes expressões da cultura insular.
Lajido | Pico
Dia 5 | Os “mistérios” constituem uma das mais espectaculares paisagens açorianas, e é no Pico que assumem o seu esplendor máximo: escoadas lávicas de erupções vulcânicas recentes, tomam o nome do facto de, à época, os habitantes locais não conhecerem a explicação para o fenómeno. Com características diferenciadoras do restante entorno, proporcionam um vislumbre do que terá sido o caos titânico de um enorme vulcão a jorrar lava até ao mar, criando dinâmicas formações rochosas que parecem acabadas de se formar.
Santa Luzia | Pico
Dia 4 | A Natureza e o Homem raramente estão dissociados nos Açores. Num pasto, mirando a imponente montanha do Pico e tendo cones vulcânicos em fundo, a importância do melhor amigo do Homem torna-se evidente.
Estrada da Montanha | Pico
Dia 3 | O Pico - a mais jovem das ilhas açorianas - é, por isso mesmo, a mais agreste. Sem tempo (geológico) suficiente para o mar quebrar as suas costas e criar areias, não existem - à excepção da da Prainha - praias. Em compensação as piscinas naturais, escavadas numa costa de lava, são deslumbrantes e abundantes, alimentando uma forma alternativa de veraneio, muitas delas com vista para o Faial ou São Jorge (em segundo plano).
São Roque | Pico
Dia 2 |O conceito de trânsito nos Açores nem sempre coincide com o dos demais lugares do planeta. Muito mais comum que um engarrafamento de veículos, partilhar a estrada com uma manada de vacas é algo corriqueiro em qualquer das ilhas e muitas vezes motivo real de atrasos inesperados. Estas fazem amiúde os percursos entre pastos sozinhas ou apenas com um homem a acompanhar, desafiando a legislação.
Por várias vezes se podem escutar telefonemas entre amigos, sobretudo à noite ou quando há nevoeiro, a avisar da existência de vacas a circular pela via.
Estrada Transversal | Pico
Dia 1 | Indiferentes ao bulício de passageiros e carga que se desenrola mesmo atrás de si, jovens picarotos dedicam-se à pesca de chicharro, no porto de São Roque do Pico, um passatempo que se repete ao fim da tarde por todas as ilhas do arquipélago.
São Roque | Pico
Dia 31 | A Feira de Santana, junto à Associação Agrícola, não se demove nem com chuvas diluvianas. Gado, alfaias e produtos hortícolas são ali negociados, numa mescla de realidades rurais e cosmopolitas, mundos esses que, pela reduzida dimensão da ilha, se cruzam amiúde.
Santana | São Miguel
Dia 30 | Na sua pequena mas repleta oficina, num anexo encavalitado no topo de uma casa térrea, Jeremias Cabral mostra os barcos que constrói, como passatempo enquanto, pelo meio da conversa, se queixa amargamente do funcionamento do Rendimento Social de Inserção. O concelho da Ribeira Grande, em grande parte devido a Rabo de Peixe, é dos que mais beneficiários tem neste programa social a nível nacional, apenas atrás de Lisboa e Porto.
Rabo de Peixe | São Miguel
Dia 29 | Manuel João Melo não esperou por entidades públicas para criar a Oficina-Museu das Capelas. O seu museu. Construído passo a passo por uma só família, sem apoios governamentais, é um testemunho mundano das vivências passadas da freguesia.
Capelas | São Miguel
Dia 28 | O navio Corvo prepara-se para lançar ferrro em Ponta Delgada, ao amanhecer. Nas horas seguintes será descarregada carga tão variada como veículos automóveis, contentores, gado, máquinas agrícolas e alimentos.
Ponta Delgada | São Miguel
Dia 27 | Quando o dia de trabalho chega ao fim, a noite raramente significa um longo descanso. Saíndo por vezes às 2h00 da manhã, as tripulações dos pequenos barcos de pesca acumulam o cansaço, particularmente no Inverno, quando é preciso aproveitar todas as abertas que o mar proporciona, compensando os por vezes longos períodos sem sustento, presos pela meteorologia em terra.
Porto Formoso | São Miguel
Dia 26 | Yves Decoster transformou a paisagem da maior ilha dos Açores. Mas não a paisagem natural. Artista belga aqui radicado há 25 anos, trouxe a pintura para além das salas de exposição, com a sua imagem de marca - os corações multicolores de temática floral - que pinta em paineis, murais, portas e janelas, um pouco por toda a ilha.
Pópulo | São Miguel
Dia 25 | Uma força da Natureza, Catarina Ferreira, da Benedita, é o exemplo vivo de multi-tasking permanente. Enquanto atende o telefone a propósito do bar que acaba de abrir, na sala de estar do seu ¾ Hostel, dá seguimento no tablet a encomendas online do restaurante vegetariano Rotas da Ilha Verde, pelo qual se tornou conhecida em Ponta Delgada. Tudo isto nas horas vagas do seu emprego “normal”, como educadora de infância!
Ponta Delgada | São Miguel
Dia 24 | Um peixe-porco, espécie de pouco valor comercial, é retirado das caixas cheias após uma lucrativa mas perigosa saída ao mar, numa noite de tempestade em que uma das duas bombas de exaustão de água se avariou e o mestre chegou a temer pela segurança da tripulação.
Porto Formoso | São Miguel
Dia 23 | Uma peça em miolo de figueira é analisada à lupa por uma artesã nas Capelas. De extrema minúcia, esta tradição, fortemente enraizada em São Miguel, mantém-se em risco de desaparecimento, o que levou à sua certificação pelo Governo Regional.
Capelas | São Miguel
Dia 22 | Até as vacas - um dos símbolos dos Açores no exterior - viajam. Neste caso, num misto de via marítima e aérea, quando os contentores especialmente adaptados em que são transportadas descem para o cais, em frente ao terminal de passageiros de Ponta Delgada, pendendo de enormes gruas.
Ponta Delgada | São Miguel
Dia 21 |Em pleno Inverno a luz dourada acompanha um surfista, na praia que, meses mais tarde, receberá a alta roda do surf mundial. Os desportos de outdoor são um dos fortes pólos de atração turística nos Açores, que, apesar da fama de chuvosos, apresentam boas condições para a sua prática durante grande parte do ano.
Riberia Grande | São Miguel
Dia 20 | Por duas vezes o equívoco se instalou no que toca à designação das aves de rapina que sobrevoam os Açores. Os primeiros navegadores pensavam serem açores, daí o nome do arquipélago. E hoje são conhecidos por milhafres. Na realidade são exemplares da espécie Buteo buteo rotschilidi, também conhecida por águia de asa-redonda.
Caldeira Velha | São Miguel
Dia 19 | Cristina Teixeira, socióloga, é uma apaixonada pela sua ilha e pelas Furnas em particular. Amante da fotografia, explora amiúde, através da objectiva, as paisagens que lhe são familiares, sem se cansar ou entediar com cenários familiares, num traço comum com muitos açorianos, contrariando a ideia de claustrofobia de quem de fora os observa.
Ponta Delgada | São Miguel
Dia 18 | Os reflexos dos banhistas numa poça de água salgada e uma sandália perdida marcam a paisagem. E o quão único este local é. Com fontes termais a desaguar directamente para o mar, uma pequena baía é aquecida naturalmente, sobretudo na maré baixa, proporcionando uma experiência inesquecível, sobretudo ao fim do dia, com o ocaso no horizonte.
Porto Formoso | São Miguel
Dia 17 | Numa curta pausa, entre a recolha das linhas na embarcação de boca aberta Bom Barqueiro, os marinheiros de Porto Formoso repousam por minutos da faina, ao largo da bravia costa norte. Dentro em breve a azáfama é retomada e a calma evapora-se em segundos.
Porto Formoso | São Miguel
Dia 16 | A religiosidade é omnipresente na vida de uma grande fatia da população micaelense, e é enraizada desde muito cedo. Rabo de Peixe não é excepção. Infelizmente notória por motivos menos bons, tem-se vindo a transformar, muito lentamente. Mas quiçá mais a nível material que social...
Rabo de Peixe | São Miguel
Dia 15 | Tendo por companhia o sol nascente, filtrado por espessas núvens, os experientes pilotos da barra de Ponta Delgada tomam a seu cargo o movimento de entrada e saída de navios de grande porte, para as delicadas manobras de acostagem.
Ponta Delgada | São Miguel
Dia 14 | Terra Nostra é um dos nomes incontornáveis em São Miguel. Por um lado, pela marca de laticínios. Mas sobretudo pela sua origem - o parque, com a sua piscina sulfurosa e frondosas alamedas e o hotel, espaço sofisticado desde sempre e que se reinventa agora, renovado, com a alta cozinha como prato forte, sob a batuta do chef Luís Pedro.
Furnas | São Miguel
Dia 13 | Foi após o descalabro da laranja, uma das grandes riquezas da ilha, atacada por doenças, que surgiu a ideia de trazer a planta do chá para os Açores. Vieram especialistas da China, e a cultura vingou no clima ameno e húmido do Atlântico Norte, naquelas que são as únicas plantações industriais de chá na Europa! Na Gorreana, a maior e mais antiga das fábricas ainda em funcionamento, as sebes são todos os anos domadas pelo gume afiado de catanas, habilmente brandidas por mãos conhecedoras.
Como cicerone desta visita esteve Hermano Mota, o patriarca da família, naquela que terá sido, muito provavelmente, a sua última visita com jornalistas. Viria a falecer subitamente dias mais tarde.
Gorreana | São Miguel
Dia 12 | Cabeleireiro, artesão, escultor, pintor. Homem multi-facetado, enquadrado pelas fotos das duas filhas, Emanuel “dos barcos” mostra com orgulho a sua casa multicolor, onde uma sereia, no pátio, recebe os visitantes,
Rabo de Peixe | São Miguel
Dia 11 | Os cetáceos são um dos cartões de visita dos Açores, e a sua observação uma vibrante actividade económica, em franca ascensão. Embora as baleias acabem por ser as estrelas da companhia, a interacção com golfinhos é mais intensa, devido ao seu espírito gregário, social e curioso, que os leva a acompanharem extremamente de perto as quilhas dos barcos que se cruzam no seu caminho. Num dia de “mar azeite”, como são apelidadas estas condições de ausência de vento e de ondulação, a visibilidade é fenomenal!
Ponta Garça | São Miguel
Dia 10 | A eutrofização das lagoas de São Miguel é um problema ambiental sério, que levou ao estudo das causas e à implementação de acções de mitigação. Na mais emblemática delas - Sete Cidades - uma máquina de remoção de algas foi usada, com sucesso dúbio.
Sete Cidades | São Miguel
Dia 9 | O Verão tem tonalidades especiais por estas bandas… As famosas “quatro estações num dia” são efectivamente uma realidade, de tempos a tempos, em que as bátegas de água tépida ensopam o solo, emprestando ao ar do estio um surreal aroma a areia molhada. Para os amantes das ondas, o areal de Santa Bárbara, na Ribeira Grande, é um dos mais famosos da região.
Ribeira Grande | São Miguel
Dia 8 | Foi a Biologia que trouxe Olalla Torrontegi, basca, ao arquipélago. Investigadora em micro-algas, estudou, integrada na equipa da Universidade dos Açores, as espécies que se encontram, por exemplo, nos cascos de navios. Um dos objectivos práticos é encontrar possíveis soluções para produtos de limpeza e tratamento, ambientalmente mais sustentáveis que as tóxicas opções actuais.
Nordeste | São Miguel
Dia 7 | Mesmo no Inverno, a zona das piscinas de mar da mais populosa cidade dos Açores continua concorrida. Mas faz-se aqui muito mais que natação: para passageiros de paquetes, transeuntes ao fim da tarde, um crescente número de adeptos da corrida e, claro, nadadores ferrenhos, o espaço das Portas do Mar tornou-se um marco inegável da vida quotidiana de Ponta Delgada.
Ponta Delgada | São Miguel
Dia 6 | Venceslau Ponte, Luísa Pimentel e André Cardoso, jovens empresários de turismo-aventura, atravessam a Ribeira dos Caldeirões, equipados para uma descida de cannyoning, um dos desportos outdoor com maior crescimento no arquipélago em anos recentes. A região nordeste era, até há bem pouco tempo, conhecida como a 10ª ilha dos Açores, pelo isolamento em que se encontrava, situação que se alterou com a construção da polémica SCUT, que a liga a Ponta Delgada.
Nordeste | São Miguel
Dia 5 | O mar é uma presença incontornável no quotidiano dos Açores, não apenas pelo facto óbvio de estar quase sempre, literalmente, no horizonte. Foi - e continua a ser - o ganhã-pão de uma fatia importante da população. E nem o ter sido elemento de isolamento durante séculos fez com que perdesse a sua magia. É comum escutar um açoriano dizer que se sente oprimido quando viaja pelo interior, no continente, privado da sua companhia por longos períodos de tempo.
Mosteiros | São Miguel
Dia 4 | Um cagarro é libertado na areia negra, após ter sido recolhido no asfalto por voluntários da campanha SOS Cagarro, na noite anterior. A espécie, que tem nos Açores o seu principal reduto a nível global, dá um colorido sonoro inconfundível às noites insulares e conseguiu algo sumamente precioso para a sua sobrevivência: a simpatia do público.
Todos os anos milhares de juvenis, atraídos e ofuscados pelos faróis de carros, são salvos de uma morte certa, contando com um carinho raro por parte da maioria dos açorianos.
Nordeste | São Miguel
Dia 3 | Numa ilha quase tudo vem de fora. Embora a aviação comercial tenha estreitado de forma radical as distâncias ao continente (europeu e americano), o cordão umbilical para a maioria dos bens do exterior continua a ser o navio de carga.
No porto de Ponta Delgada, o maior do arquipélago, os estivadores são o sangue que mantém a máquina a funcionar, humanos num mundo de máquinas gigantescas, dia após dia, de forma invisível para a maioria, ainda que mesmo ali, diante da cidade…
Ponta Delgada | São Miguel
Dia 2 | Ao longo dos últimos anos o (bem sucedido) projecto de recuperação do priolo, quiçá a mais famosa espécie dos Açores, tem vindo a ser desenvolvido na zona nordeste de São Miguel pela Sociedade Portuguesa de Estudo das Aves (SPEA).
Mas os verdadeiros rostos deste projecto estão nos trilhos da Serra da Tronqueira, diariamente, restaurando o habitat que permitirá a esta ave (e com ela várias outras) voltar a prosperar. José Medeiros - encarregado da equipa operacional - é um deles. E o olhar brilhante com que fala do seu trabalho não deixa ninguém indiferente!
Nordeste | São Miguel
Dia 1 | A faina começa ainda de noite, a madrugada surge já no mar alto… Foi uma manhã sombria para Mestre Eugénio: o entusiasmo dos homens esmorecia à medida que as armadilhas de fundo eram recolhidas, hora após hora, quase vazias. Para complicar, um outro conjunto havia-se perdido, e nem mesmo os muitos pares de olhos, varrendo o horizonte, encontraram sinal das bóias sinalizadoras.
Porto Formoso | São Miguel