É um dos artistas mais famosos do nosso século, tendo conquistado fama através de uma série de pinturas em graffiti que vão aparecendo em edifícios em todo o mundo de surpresa. Para uns é um artista singular, para outros não passa de um vândalo. Apesar disso, é difícil que alguém fique indiferente às suas obras que são vendidas por quantias exorbitantes. Banksy descreve-se como um «vândalo de qualidade» – este ridiculariza figuras de autoridade através de obras de arte em locais públicos. No entanto, ninguém conhece a sua identidade. Mas aquele que é considerado um dos maiores mistérios do mundo dos últimos anos pode estar prestes a ser resolvido.
A última obra encontrada
Há uma semana, uma nova obra de arte do artista de rua britânico apareceu no bairro londrino de Finsbury Park. Pintada com tinta verde, a pintura mostra-nos uma mulher que segura uma mangueira de pulverização ao lado de uma grande cerejeira «careca». Vista de determinados ângulos, o verde acaba por se fundir com os ramos nus da árvore, transformando-se em folhas.
Depois de se tornar viral nas redes sociais, o artista acabou por confirmar ter sido ele a realizá-la, através de um post no Instagram. Três dias depois de ter sido pintada na parede de um prédio de quatro andares, foi vandalizada com tinta branca.
À BBC, o proprietário do edifício (que parece também ser proprietário dos restantes que se encontram nessa pequena propriedade) garantiu que o prédio está atualmente vago e para alugar, mas não pensa em tirar o mural de Banksy. Ainda está surpreso com o sucedido e pretende «preservar e proteger a obra». Até o antigo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn – que representa a zona do norte de Londres onde a obra de arte apareceu –, revelou à agência de notícias PA estar «encantado».
Mas não é só de encanto que vive este bairro londrino. Segundo o The Sun, com todo o alvoroço que têm sido os últimos dias, vários moradores dessa zona temem que as suas rendas aumentem. Ao Daily Mail, o dono do prédio reforçou que está aberto a propostas de compra. «Se alguém me oferecer milhões pode ficar com o edifício e com os apartamentos todos. Estejam à vontade», disse Alex Georgiou, que é agente imobiliário. O proprietário garantiu também que nenhuma renda será aumentada.
Banksy em tribunal
Mas afinal quem é Banksy? No princípio do mês ficámos a saber que a pergunta poderá ser respondida brevemente já que o artista poderá ser obrigado a revelar a sua identidade, depois de uma contestação por parte de dois colecionadores sobre uma impressão da falecida Rainha Isabel II – Monkey Queen –, retratada como um «primata adornado com joias», ter ido parar a tribunal.
Segundo o The Guardian, Nicky Katz e Ray Howse estão há três anos a tentar obter uma resposta. Escreve o jornal britânico que o seu objetivo é saber se a impressão que têm – e que compraram em 2020 por cerca de 35 mil euros – faz parte de um lote único de 150 impressões. Além do pedido de resposta à empresa que representa Bansky, terá sido também pago um pedido de autenticidade. No entanto, nunca houve qualquer confirmação. «Estamos na terra de ninguém e é muito dinheiro. Eles dizem ser os representantes oficiais do trabalho deste artista, mas isto acontece há três anos», explicou Nicky Katz ao The Guardian. «Neste momento, a obra vale entre 64 mil e 80 mil euros, caso seja verdadeira», frisou. Além disso, segundo o colecionador, uma vez que a empresa se mantém em silêncio, o caso poderá mesmo avançar para tribunal e, nesse caso, «a entidade de Bansky terá de ser revelada». De acordo com o site de Banksy, o artista afirma que emitirá um certificado de autenticidade para «pinturas, gravuras, esculturas e outras tentativas de criatividade». Veremos quanto tempo aguardam os dois colecionadores.
Famoso mas sempre misterioso: as teorias
Segundo a BBC, o artista ganhou destaque depois de começar a pintar com spray os seus desenhos – agora uma marca sua –, em Bristol, no início dos anos 1990. Acredita-se que «o influente cenário musical e artístico da cidade, onde nasceram bandas como Massive Attack e Portishead», tenha inspirado o seu trabalho e que o próprio artista tenha nascido na cidade, no início dos anos 1970. «Quando eu tinha dez anos, um miúdo chamado 3D estava a pintar as ruas à séria. Acho que ele tinha ido a Nova Iorque e foi o primeiro a levar latas de spray para Bristol. Cresci a ver tinta na rua muito antes de o ver numa revista ou num computador», disse numa entrevista à revista Swindle em 2006. «O 3D deixou de pintar mas formou uma banda chamada Massive Attack, o que pode ter sido bom para ele mas foi uma grande perda para a cidade. Graffiti era a coisa que todos adorávamos na escola. Toda a gente andava a fazê-lo», acrescentou.
Estas declarações fizeram nascer uma das mais fortes teorias sobre a sua identidade que nos diz mesmo que Banksy possa ser Robert Del Naja, o músico dos Massive Attack. Recorde-se que várias obras apareceram em locais onde os Massive Attack passaram durante as suas digressões. No entanto, ambos já vieram a público negar essa possibilidade.
Além disso, numa entrevista, o DJ Goldie (próximo tanto da banda como de Banksy) poderá ter revelado o nome de Banksy. «Sem desrespeitar o Rob, acho que ele é um artista brilhante. Acho que ele mudou o mundo da arte».
O seu primeiro mural, The Mild Mild West, retrata um ursinho de peluche a jogar um cocktail molotov a três polícias de choque. Foi pintado na área de Stokes Croft, em Bristol, em 1999. Em 2000, depois de ter viajado para Londres, o artista começou a ficar mais célebre. Neste ano, outras obras suas começaram a aparecer no mundo. E o seu anonimato tornou-o num evento mediático. As pinturas apareciam de surpresa e ninguém sabia quem era o responsável. O mesmo aconteceu na sua primeira exposição em 2003. Intitulada Turf War, realizou-se em Dalton, na Inglaterra. Durou três dias e foi divulgada um dia antes da sua abertura. O artista já admitiu não gostar do mundo da arte. Banksy gosta mais da arte escolhida pelas pessoas do que ter um milionário a categorizá-la.
Outra das teorias é que este poderá ser Robin Gunningham, um outro conhecido artista de rua nascido em Yate, perto de Bristol. Além das semelhanças da cidade, uma imagem de Gunningham com latas de spray semelhantes ao estilo de Banksy circulou pela Internet em 2004. Em 2016, a Universidade Queen Margaret de Londres até conduziu um estudo que combinou as vidas dos dois.
E os nomes assemelham-se… Durante um episódio extra do podcast The Banksy Story, da BBC Radio 4, foi divulgada uma entrevista em que o próprio artista revelou que se chama Robbie. A entrevista aconteceu em 2003, quando o artista tinha 20 anos. Só passadas duas décadas, enquanto ouvia o podcast The Banksy Story, é que o repórter Nigel Wrench se recordou que tinha uma gravação completa com partes que não incluiu no trabalho final. Por isso, o canal acabou por disponibilizar o episódio extra em que James Peak «segue o rasto de uma entrevista reveladora de Banksy, de 2003, quando o artista estava a começar a dar nas vistas», descreveu o canal de televisão. «Concordas que eu use o teu nome? O The Independent já o fez», perguntou Nigel Wrench a Banksy. O artista respondeu «sim». «É Robert Banks?», interrogou o jornalista. «É Robbie», corrigiu Banksy.
Um outro suspeito é Jamie Hewlett, um dos fundadores da banda Gorillaz. Apesar de não ser de Bristol, o músico também tem uma forte ligação às artes visuais. Segundo a NIT, uma investigação financeira feita às empresas relacionadas com o trabalho de Banksy concluiu que J. Hewlett está ligado a muitas delas. Os documentos oficiais apontam que este é o único proprietário de várias delas. Recorde-se ainda que Banksy já colaborou com a banda diversas vezes. Por exemplo, fez a capa de um dos discos.
Por outro lado, há quem acredite que o artista poderá ser antes uma mulher. Para os produtores do documentário Banksy Does New York, que estreou em 2014 na HBO, como os trabalhos de Banksy têm figuras femininas, levam à suspeita de que o artista será, na verdade, uma artista e usa a arte como «forma de reclamar um espaço dominado por homem».
Além disso, também Neil Buchanan – apresentador de vários programas de arte para crianças na televisão britânica – foi forçado, durante a pandemia, a divulgar uma declaração negando o seu envolvimento com a personalidade de Banksy. Há ainda uma teoria que fala da possibilidade de se tratar de um coletivo de artistas. Recorde-se que isso acontece com muitas crews de graffiti. Este pode ter uma equipa a trabalhar consigo.
Uma coisa é certa: não será fácil chegar à verdade. Até porque no documentário Banksy Most Wanted, um ex-manager e amigo pessoal do artista admitiu que o próprio Banksy gosta de criar «pistas falsas» de forma «muito calculista e discreta». Ou seja, este sabe perfeitamente o que tem que fazer para se manter no anonimato. Estaremos mesmo perto de saber a sua identidade?