Uma investigação realizada por uma organização não-governamental associou multinacionais de roupa à desflorestação ilegal, apropriação de terras, violência e corrupção no Brasil.
A investigação, divulgada esta quinta-feira, analisa o grande desenvolvimento da produção brasileira de algodão, para exportação. Depois segue o destino de mais de 800.000 toneladas desse algodão, contaminado, para empresas na Ásia, onde é transformado em peças de roupa para as marcas venderem depois especialmente na Europa.
As acusações são da organização não-governamental britânica “Earthsight”, que utiliza a investigação aprofundada para denunciar crimes ambientais e sociais, injustiças e ligações ao consumo global.
A “Earthsight” revela que passou mais de um ano a analisar imagens de satélite, decisões judiciais, registos de embarque, e a ir disfarçada a feiras comerciais globais para localizar e seguir esse algodão.
Produzido no Cerrado brasileiro por duas grandes empresas (que negaram qualquer ilegalidade), o algodão foi vendido entre 2014 e 2023 a oito fabricantes de vestuário em países como a Indonésia, o Paquistão ou o Bangladesh, fornecedores das grandes multinacionais.
As fazendas de algodão em causa, diz a investigação, têm um longo historial de processos judiciais, casos de corrupção, desmatamento ilegal de 100.000 hectares de terra e apropriação indevida de terrenos no Cerrado. O cerrado é uma região que cobre um quarto do Brasil e abriga 5% de todas as espécies do mundo, incluindo tatus e papa-formigas.
Mais de metade do Cerrado foi desmatado para a agricultura em grande escala, nomeadamente para algodão, fazendo com que centenas de espécies estejam em vias de extinção devido à perda de habitats.
Em 2030, o Brasil deverá ultrapassar os EUA como maior exportador de algodão do mundo, segundo o documento.Esse crescimento do algodão levou ao declínio das comunidades tradicionais. O documento da “Earthsight”, citado pela agência Lusa, fala de uma “mistura ruinosa de corrupção, ganância, violência e impunidade”.
As empresas e os consumidores na Europa e América do Norte estão a impulsionar o desmatamento, invasão de terras e violações dos direitos humanos de uma nova forma, “não pelo que comem, mas pelo que vestem”, diz a “Earthsight”.
A associação lembra que há várias leis para regular as cadeias de abastecimento, fala de regulamentos da União Europeia sobre sustentabilidade e desflorestação que não abrangem o algodão. E diz que os maiores culpados da situação são os maiores mercados consumidores.
A União Europeia é o maior importador de vestuário do mundo, seguida pelos EUA.