Um governo com o pé que estava mais à mão


Não será de estranhar que, em função da exiguidade da vitória eleitoral e da evidente fragilidade da consistência da estabilidade política, o governo tenha sido constituído com os que estavam mais à mão de semear.


O esforço da direita de corte com o estilo de exercício político governativo anterior passa pela repristinação do perfil de governação de Cavaco Silva, pelo menos, na forma e por uma certa disciplina dos elementos envolventes em função de um tempo próprio como se ele fosse um bem em abundância para quem não dispõe de maioria parlamentar de sustentação.

O fazer as coisas certas foi traído pela indigitação a altas horas da noite e pela falta de confirmação de secretários de Estado, mas esteve presente na blindagem de fugas mediáticas no processo de formulação de convites para o governo.

Com o poder a cair-lhe de podre nos braços, depois de múltiplas disfunções e desgastes da liderança governativa, ninguém estava preparado para a mutação de ciclo neste calendário. Não estava o PS, não estava a oposição, sobretudo, a que se abalançava para assumir funções governativas.

Não será por isso de estranhar que, em função da exiguidade da vitória eleitoral e da evidente fragilidade da consistência da estabilidade política, o governo tenha sido constituído com os que estavam mais à mão de semear e de se comprometer com o desafio político em tempo de incerteza geral. São evidentes as influências que gravitam em torno de Luís Montenegro e que se projetaram em nomeações de protagonistas, de Belém antigo a Belém atual, de Marques Mendes ao CDS ou a poderes instalados, além de muitos companheiros de fortúnio político, de outras vidas e da vigente. Aliás, se num passado recente, com maioria absoluta, estabilidade política e recursos, António Costa não foi capaz de mobilizar melhores quadros para o governo, enleando-se numa sucessão de casos e na inconsistência da gestão concreta de alguns setores, o contexto minoritário e de instabilidade ainda será menos atrativo a quem não é da bolha.

O exercício político está degradado, na visão, no discurso, na ação e no escrutínio, não sendo uma responsabilidade exclusiva dos protagonistas, mas também de todos os que contribuem para a construção de um ambiente de fustigação sem critério em relação a quem tem de decidir ou deliberar. Sim, os media a par das redes sociais, têm responsabilidades acrescidas na imposição de filtros e critérios que impossibilitem a existências de geometrias variáveis na apreciação das situações. Já deviam ter aprendido a ter algum distanciamento do funcionamento do sistema de investigação judicial pela inconsistência de inúmeros processos, sempre escudados na falta de meios, como se por regra, nas diversas profissões, não fosse esse o quadro de referência e ainda assim os resultados existem. Procurar fustigar só porque é poder, porque é de esquerda ou de direita, é de uma irracionalidade sem limites. E foi o que se procurou logo fazer numa amálgama desesperada de mobilização de situações do passado para ferir os novos protagonistas empossados. Isto, enquanto os processos judiciais do alarido marinam permitindo que um primeiro-ministro se tenha demitido por suspeitas e um arguido por suspeitas na Região Autónoma da Madeira se comporte acima da ética republicana, exercendo funções governativas e sendo recandidato ao poder, na esperança de uma absolvição por via do voto.

Num tempo em que o novo governo se posiciona no plano do simbólico, pela reposição de símbolos, sem qualquer relevância prática para a vida concreta das pessoas, apesar do conforto dos comentadores de turno em modo simultâneo de árbitro e jogador, continuam a passar, debaixo dos nossos olhos, demasiadas situações substanciais a exigirem respostas concretas, sustentáveis e consequentes. Superadas as instalações, as modelações de circunstâncias e os simbolismos para o imaginário da direita, deve ser esse o foco da governação: como responder às pessoas e aos territórios, em função do que foi prometido e das disponibilidades existentes, sempre com critério, para não desmultiplicar novas contestações. Como o fazer, sem maioria parlamentar suficiente, enquanto se ensaia um apanhar de moscas com vinagre, sem pingo de sentido político para a manutenção de pontes de diálogo e compromisso, que não coloquem em causa quem participe na convergência, mas respondam ao essencial do que o país precisa. Tudo isto num quadro pré-eleitoral na Madeira e na República que escolherá em breve os seus representantes em Bruxelas, num quadro de crescimento dos populismos.

Menos conversa, mais trabalho, soluções com critérios e resultados concretos para as pessoas e os territórios. É tempo dos que estavam à mão, mostrarem serviço, orientado para os resultados, mesmo com a ajuda dos inspiradores de outros tempos e dos acólitos atuais, em funções e nos comentários mediáticos. Até lá, podem continuar a disciplinar as ânsias dos jornalistas, dos eleitores e da sociedade, mas é pouco, menos que simbólico.

 

NOTAS FINAIS

TEMPO DE ACALMIA. O Governo realizou uma reunião informal em Óbidos, no coração do Oeste, onde o anterior governo, com manigâncias, decidiu localizar a construção de um novo hospital no Bombarral, em detrimento de Caldas da Rainha. Alguma visão política tinha recolocado o tema na agenda mediática, mas não. Conformados com o presente e o futuro.

TEMPO DE PENSAR EM NÓS, UM POUQUINHO. Enfunados pelas ambições europeias de alguns e pela pressão norte-americana, o anterior governo quis ser mais papista que o papa e projetou um preconceito de origem em relação à Huawei, excluindo-a de ser solução tecnológica do 5G, muito além das orientações da diretiva comunitária. Os espanhóis, fazendo parte da NATO, não terão ido na conversa e agora temos uma situação de desigualdade competitiva entre os mercados, logo com um dos mais relevantes destinos das exportações nacionais. Como ficará esta deriva de cedência além da diretiva se Trump ganhar e virar as costas à Europa?

TEMPO DE SEM VERGONHA. O rapaz Paddy Cosgrave, ex-futuro CEO da Web Summit, está de volta. Vendeu e encaixou por um evento exclusivo em Portugal, mas desmultiplicou-o para outras paragens, sem penalizações. Verberou sobre Israel e afastou-se de funções, em proteção dos encaixes financeiros incertos, os certos pagamos nós, Lisboa e o Estado. Veio com a direita, foi consagrado pela esquerda, regressa de novo com a direita nos poderes de interação. É fartar.

Um governo com o pé que estava mais à mão


Não será de estranhar que, em função da exiguidade da vitória eleitoral e da evidente fragilidade da consistência da estabilidade política, o governo tenha sido constituído com os que estavam mais à mão de semear.


O esforço da direita de corte com o estilo de exercício político governativo anterior passa pela repristinação do perfil de governação de Cavaco Silva, pelo menos, na forma e por uma certa disciplina dos elementos envolventes em função de um tempo próprio como se ele fosse um bem em abundância para quem não dispõe de maioria parlamentar de sustentação.

O fazer as coisas certas foi traído pela indigitação a altas horas da noite e pela falta de confirmação de secretários de Estado, mas esteve presente na blindagem de fugas mediáticas no processo de formulação de convites para o governo.

Com o poder a cair-lhe de podre nos braços, depois de múltiplas disfunções e desgastes da liderança governativa, ninguém estava preparado para a mutação de ciclo neste calendário. Não estava o PS, não estava a oposição, sobretudo, a que se abalançava para assumir funções governativas.

Não será por isso de estranhar que, em função da exiguidade da vitória eleitoral e da evidente fragilidade da consistência da estabilidade política, o governo tenha sido constituído com os que estavam mais à mão de semear e de se comprometer com o desafio político em tempo de incerteza geral. São evidentes as influências que gravitam em torno de Luís Montenegro e que se projetaram em nomeações de protagonistas, de Belém antigo a Belém atual, de Marques Mendes ao CDS ou a poderes instalados, além de muitos companheiros de fortúnio político, de outras vidas e da vigente. Aliás, se num passado recente, com maioria absoluta, estabilidade política e recursos, António Costa não foi capaz de mobilizar melhores quadros para o governo, enleando-se numa sucessão de casos e na inconsistência da gestão concreta de alguns setores, o contexto minoritário e de instabilidade ainda será menos atrativo a quem não é da bolha.

O exercício político está degradado, na visão, no discurso, na ação e no escrutínio, não sendo uma responsabilidade exclusiva dos protagonistas, mas também de todos os que contribuem para a construção de um ambiente de fustigação sem critério em relação a quem tem de decidir ou deliberar. Sim, os media a par das redes sociais, têm responsabilidades acrescidas na imposição de filtros e critérios que impossibilitem a existências de geometrias variáveis na apreciação das situações. Já deviam ter aprendido a ter algum distanciamento do funcionamento do sistema de investigação judicial pela inconsistência de inúmeros processos, sempre escudados na falta de meios, como se por regra, nas diversas profissões, não fosse esse o quadro de referência e ainda assim os resultados existem. Procurar fustigar só porque é poder, porque é de esquerda ou de direita, é de uma irracionalidade sem limites. E foi o que se procurou logo fazer numa amálgama desesperada de mobilização de situações do passado para ferir os novos protagonistas empossados. Isto, enquanto os processos judiciais do alarido marinam permitindo que um primeiro-ministro se tenha demitido por suspeitas e um arguido por suspeitas na Região Autónoma da Madeira se comporte acima da ética republicana, exercendo funções governativas e sendo recandidato ao poder, na esperança de uma absolvição por via do voto.

Num tempo em que o novo governo se posiciona no plano do simbólico, pela reposição de símbolos, sem qualquer relevância prática para a vida concreta das pessoas, apesar do conforto dos comentadores de turno em modo simultâneo de árbitro e jogador, continuam a passar, debaixo dos nossos olhos, demasiadas situações substanciais a exigirem respostas concretas, sustentáveis e consequentes. Superadas as instalações, as modelações de circunstâncias e os simbolismos para o imaginário da direita, deve ser esse o foco da governação: como responder às pessoas e aos territórios, em função do que foi prometido e das disponibilidades existentes, sempre com critério, para não desmultiplicar novas contestações. Como o fazer, sem maioria parlamentar suficiente, enquanto se ensaia um apanhar de moscas com vinagre, sem pingo de sentido político para a manutenção de pontes de diálogo e compromisso, que não coloquem em causa quem participe na convergência, mas respondam ao essencial do que o país precisa. Tudo isto num quadro pré-eleitoral na Madeira e na República que escolherá em breve os seus representantes em Bruxelas, num quadro de crescimento dos populismos.

Menos conversa, mais trabalho, soluções com critérios e resultados concretos para as pessoas e os territórios. É tempo dos que estavam à mão, mostrarem serviço, orientado para os resultados, mesmo com a ajuda dos inspiradores de outros tempos e dos acólitos atuais, em funções e nos comentários mediáticos. Até lá, podem continuar a disciplinar as ânsias dos jornalistas, dos eleitores e da sociedade, mas é pouco, menos que simbólico.

 

NOTAS FINAIS

TEMPO DE ACALMIA. O Governo realizou uma reunião informal em Óbidos, no coração do Oeste, onde o anterior governo, com manigâncias, decidiu localizar a construção de um novo hospital no Bombarral, em detrimento de Caldas da Rainha. Alguma visão política tinha recolocado o tema na agenda mediática, mas não. Conformados com o presente e o futuro.

TEMPO DE PENSAR EM NÓS, UM POUQUINHO. Enfunados pelas ambições europeias de alguns e pela pressão norte-americana, o anterior governo quis ser mais papista que o papa e projetou um preconceito de origem em relação à Huawei, excluindo-a de ser solução tecnológica do 5G, muito além das orientações da diretiva comunitária. Os espanhóis, fazendo parte da NATO, não terão ido na conversa e agora temos uma situação de desigualdade competitiva entre os mercados, logo com um dos mais relevantes destinos das exportações nacionais. Como ficará esta deriva de cedência além da diretiva se Trump ganhar e virar as costas à Europa?

TEMPO DE SEM VERGONHA. O rapaz Paddy Cosgrave, ex-futuro CEO da Web Summit, está de volta. Vendeu e encaixou por um evento exclusivo em Portugal, mas desmultiplicou-o para outras paragens, sem penalizações. Verberou sobre Israel e afastou-se de funções, em proteção dos encaixes financeiros incertos, os certos pagamos nós, Lisboa e o Estado. Veio com a direita, foi consagrado pela esquerda, regressa de novo com a direita nos poderes de interação. É fartar.