Uma tempestade de areia avista-se à distância

Uma tempestade de areia avista-se à distância


Recomeçou a Liga dos Campeões Asiáticos, prova dominada pelos clubes da Coreia do Sul. Al-Nassr e Al-Hilal ganharam


Riade – Com a Taça da Ásia no fim, os encontros para a Liga dos Campeões Asiáticos estão de volta, com a primeira jornada dos oitavos-de-final a ser disputada nos últimos dias. A Arábia Saudita tem, nesta altura, nada menos de quatro equipas em prova, o que é obra, e duas delas concentram atenções porque têm de ser incluídas no lote das candidatas à vitória final, o Al-Nassr e o Al-Hilal. Difícil seria que neste lote de dezasseis clubes não acabasse por haver confrontos fratricidas e é isso mesmo que vai suceder com a equipa de Luís Castro e Cristiano Ronaldo cuja primeira eliminatória foi contra o Al-Fayha Football Club, primeira mão em Al Majma’ah, um cidade um pouco a norte aqui de Riade ao longo da Estrada 65 que liga a capital a Burayda, um centro urbano já com algum peso. Ocupando o 14.º da classificação do campeonato saudita, o Al-Fayha bem pôde tentar superar-se em todos os capítulos para poder sobrepor-se aos ‘Cavaleiros do Nadj’, como também são conhecidos os jogadores do Al-Nassr, mas acabou por perder por 0-1, golo de Ronaldo. ONadj é uma província histórica do centro da Arábia Saudita e, a propósito destas alcunhas, é de referir que são muito do gosto tanto da imprensa como dos adeptos. E, assim, a rapaziada do Al-Fayha tem o apodo de ‘Tawahin Sudair’ (’Os Moinhos de Sudair’), já que não podiam escapar a um nome sonante.
Jorge Jesus e o seu Al-Hilal (cuja alcunha é ‘OPatrão’) viajou até à magnífica cidade de Isfahan, no Irão, para defrontar o Sepahan, clube treinado por outro português, José Morais e também resolveu o seu problema à conta dos golos de Malcolm, Mitrovic e Al Hamdan, vencendo por 3-1. Finalmente, o Al-Ittihad, clube de Jedah, jogou no Uzbequistão, no campo do Navbahor, saindo de lá com um empate (0-0), o que parece aumentar significativamente a possibilidade de A a Arábia Saudita chegar com três clubes aos quartos-de-final (um deles está garantido),assumindo um protagonismo nesta Liga dos Campeões Asiática que bate certo com o enorme investimento que o seu futebol tem feito. Veremos até que ponto.

Um pouco de história
A primeira edição do que se chamou, inicialmente, Torneio dos Campeões Asiáticos teve lugar em 1967 e o troféu foi conquistado pelos israelitas do Hapoel de Tel Aviv, isto ainda antes de a FIFA, numa espécie de flic-flac político-desportivo ter despachado Israel para as fronteiras da UEFA. A partir de 1985, a prova copiou o que se passava na Europa e passou a ser a Taça dos Campeões da Ásia. Finalmente, em 2002, ficou Liga dos Campeões Asiáticos, como não poderia deixar de ser.
Algo distancia, e muito, a perspetiva do Al-Nassr de Luís Castro da do Al-Hilal de Jorge Jesus. ‘As Ondas Azuis’, como também é conhecido ‘OPatrão’ são o clube que mais taças dos campeões ganhou, somando quatro (1991, 2000, 2019 e 2021) e juntando-lhe cinco finais perdidas (1986, 1987, 2014, 2017 e 2022), enquanto ‘Os Cavaleiros do Najd’, que também têm o sobrenome de ‘Al-Alami’ (O Clube Global’), não têm qualquer troféu destes na sua sala (perderam a final de 1995 para os coreanos do sul do Ilhwa Chunma – 0-1 –, ainda por cima em casa, no Estádio King Fahad, aqui em Riade). Fica-lhes como consolo terem vencido a Taça das Taças da Ásia (prova já extinta) em 1998, batendo outros coreanos, os do Suwon Bluewings, também por 1-0.
Nesta lista de campeões asiáticos os sul-coreanos levam decididamente a palma: têm 12 títulos, divididos por Pohang Steelers (3), Seongnam FC (2), Jeonbuk Hyundai Motors (2), Suwon Samsung Bluewings (2), Ulsan HD (2) e Busan IPark (1). Segue-se o Japão, com oito, distribuídos assim: Urawa Red Diamonds (3), Júbilo Iwata, JEF United Chiba, Tokyo Verdy, Gamba Osaka e Kashima Antlers (todos com um). Finalmente a Arábia Saudita, que é, na verdade, o tema fundamental desta série de reportagens que irão sendo publicadas, que aos quatro títulos do Al-Hilal junta dois do Al-Ittihad. Por algum motivo os dirigentes do Al-Nassr apostaram alto na contratação de Cristiano Ronaldo. Não querem ficar atrás dos seus adversários caseiros e estão na perseguição de um título continental que os eleve a patamares mais consentâneos com o seu poderio económico. Estando com um atraso significativo de sete pontos em relação ao Al-Hilal na luta pelo campeonato interno, os rapazes de Luís Castro começam a sentir que uma aposta mais forte na Liga dos Campeões pode, de alguma forma, equilibrar as contas. Infelizmente para o treinador português, Ronaldo tem passado uns tempos inferiorizado e acabou por não ser utilizado durante a digressão que o clube fez à China, desiludindo bastante os adeptos chineses que estavam na expectativa de ver o capitão da seleção nacional ao vivo. Por outro lado, com dez dias até ao jogo dos oitavos-de-final, é expectável que o n.º 7 mais consagrado do planeta recupere e regresse em força. Apesar de tudo, as duas jornadas derradeiras da fase de grupos não foram animadoras para os ‘Cavaleiros do Nadj’. Empataram em casa com o Persépolis, do Irão (0-0), e foram empatar novamente ao campo do FK Istiqlol Dushanbe, do Tadjiquistão. o Estádio do Pamir, que fica precisamente situado no sopé das famosas montanhas que marcavam a lendária Rota da Seda. Seja como for, e com vitórias nas quatro primeiras jornadas, o primeiro lugar do Grupo E acabou por ser conquistado com uma perna às costas e o Al-Nassr terminou com seis pontos de avanço sobre o segundo, o Persépolis. Motivos mais do que suficientes para algum otimismo dos portugueses que representam as camisolas amarelas.