Semana de 4 dias satisfaz Empresas-piloto

Semana de 4 dias satisfaz Empresas-piloto


Terceira fase do projeto-piloto já arrancou, mas, se há empresas que se mostram entusiasmadas com esta redução da carga horária, há muitas que continuam a resistir à ideia. E argumentam que a falta de mão-de-obra trava a pretensão em muitos setores.


A terceira fase do projeto-piloto da semana de quatro dias de trabalho arrancou no início do mês para mil trabalhadores de 39 empresas distribuídas por 10 distritos do país – Lisboa, Porto e Braga são as principais localizações – e vai terminar em novembro. O mês seguinte, explica ao Nascer do SOL fonte do Ministério do Trabalho, será a altura para as empresas fazerem um balanço desta experiência, que abrange várias atividades: «Um instituto de investigação, uma creche, um centro de dia, um banco de células estaminais que trabalha sete dias, e empresas do setor social, indústria e comércio».

O Ministério de Ana Mendes Godinho explicou ainda que o IEFP iniciou as primeiras sessões de esclarecimento às empresas interessadas em novembro, salientando que a participação é sempre voluntária e reversível e «assegurando sempre os direitos dos trabalhadores e sem corte salarial» e referindo ainda que «o projeto-piloto é de âmbito nacional e são as empresas que decidem o formato e se aplicam a toda a empresa ou apenas parcialmente a alguns departamentos». Caberá ao IEFP dar o suporte técnico e administrativo para a transição, com sessões de esclarecimento durante este período de implementação.

 O Ministério diz ainda que o número de inscrições no projeto-piloto em Portugal assemelha-se à realidade internacional. «O projeto-piloto europeu contou com 20 empresas europeias, em Inglaterra 61 empresas avançaram com a experiência e, nos Estados Unidos, o piloto arrancou com 30 empresas assim como na Nova Zelândia».

 E adiantou que os resultados dos estudos do projeto da semana de quatro dias nos outros países revelaram que a redução do tempo de trabalho semanal tem vantagens para os trabalhadores, nomeadamente no aumento da produtividade e na promoção do bem-estar físico e mental. Já do  ponto de vista das empresas, foram reportados cortes nos custos da energia, menos erros, maior estabilidade do quadro de pessoal e menos custos com trabalhadores temporários, devido à redução do absentismo.

 «A semana de quatro dias é hoje uma aspiração crescente de muitas pessoas, nomeadamente dos mais jovens, que exigem uma melhor conciliação da vida profissional com a vida pessoal e familiar. Num tempo marcado pela disputa pelo talento, o estudo-piloto da semana de quatro dias é uma aposta estratégica para a competitividade das empresas e do país», salienta. Já numa segunda fase, o projeto será estendido ao setor público. «Por fim, serão criadas condições para testar um modelo mais ambicioso, em que um grupo de empresas adota a mudança para a semana de quatro dias e outro serve de controlo», detalha.

 

Empresas integrantes satisfeitas

As empresas que queriam participar neste modelo do Governo tinham que inscrever-se até janeiro e o Nascer do SOL falou com algumas das escolhidas.

A Onya, uma empresa especializada na área da saúde, é uma das que participa nesta experiência piloto. A diretora-geral desta empresa, Vânia Lima, explica ao Nascer do SOL que a Onya avançou com este formato «depois de um teste bem-sucedido no verão de 2022». E detalha o que aconteceu: «Perante os bons resultados, tendo em conta os níveis de felicidade dos trabalhadores e da produtividade, faria todo o sentido abrirmos agora as portas à semana de quatro dias».

Assim, com o objetivo de se fazer uma «transição calma», a empresa optou por um regime de 36 horas semanais em média: «Numa semana trabalhamos 40h, na outra trabalhamos 32h (folgamos à sexta)», garantindo que «a maior motivação para a participação surge da necessidade de oferecermos mais qualidade de vida aos nossos trabalhadores. Acreditamos no life-work balance, em que só conseguimos ser bons no trabalho quando nos sentirmos realizados na vida pessoal».

 Além disso, adianta Vânia Lima, o facto de estarem enquadrados num projeto nacional como este, liderado pelo Governo, «permitiu ter um acompanhamento personalizado». «O que ajudando em tomadas de decisão mais conscientes sobre o melhor método para nós. No fundo, com uma equipa jovem e 100% remota, sentimos que este seria o próximo passo», acrescentou.

Questionada sobre se este modelo não obrigará a empresa a contratar mais trabalhadores, a diretora-geral da Onya é perentória: «Não precisamos de aumentar a equipa para implementar este novo formato de trabalho», afirmando que contam atualmente com uma equipa de sete pessoas que, «perante a ideia de diminuir as horas semanais de trabalho, se mostraram muito recetivas». E defendeu que «um dos pilares fundamentais para o sucesso desta iniciativa é uma boa comunicação interna». Por isso, as mudanças adotadas «foram do ponto de vista dessa comunicação, como diminuição do tempo das reuniões ou implementação de horas de foco, de forma a sermos mais produtivos».

No entanto, ainda não é possível fazer um balanço final da experiência, uma vez que apenas teve início este mês. Mas Vânia Lima lembra que não é a primeira vez que a Onya adota um teste deste género, uma vez que as tardes livres à sexta-feira já tinham sido implementadas em julho e agosto do ano passado. «A ideia foi aproveitar este período para testar este novo método de trabalho, que viria a abrir as portas à semana de 4 dias». E, nesse caso, o feedback é muito positivo: «Durante o teste percebemos que a equipa se adaptou muito bem, que conseguiu responder a todas as necessidades com a qualidade exigida e nos tempos estipulados, sem ser preciso compensar horas noutros dias. Além disso, com mais uma tarde de verão por semana para lazer, percebemos que a equipa se sentia mais concretizada», garante a responsável.

Da parte dos colaboradores, há uma certeza: foram muito recetivos à ideia. «Todas as decisões tomadas durante o processo foram discutidas entre as chefias e os trabalhadores, de forma a entender as necessidades de cada um e se a Onya estaria preparada para avançar. Sabemos que existe a possibilidade de desistir se algo não correr como o esperado, mas estamos empenhados para que este novo método de trabalho seja também o nosso futuro. Durante o teste do verão de 2022, os trabalhadores sentiam-se mais felizes, motivados e produtivos. Faz sentido darmos este passo agora», defendeu.

Sobre se recomendaria esta experiência a outras empresas, Vânia Lima diz que «haverá, certamente, negócios com uma adaptação mais difícil do que outros», lembrando que na Onya se trabalha em formato 100% remoto. «Confiamos muito no trabalho uns dos outros e não tivemos que alterar a equipa para fazer esta iniciativa funcionar. Acredito que, desta forma, seja mais fácil equacionar a participação», lembrando que até existe uma creche em Portugal a adotar este modelo, a primeira no mundo. «Cada um tem as suas dificuldades, mas por isso mesmo é que se lançou um programa de acompanhamento: por mais diferente que o negócio possa ser, existe uma equipa por trás a prestar auxílio. Sem experimentar, não saberemos se resulta. Na Onya estamos confiantes de que as dificuldades de agora são as oportunidades do futuro», finaliza.

Outra das empresas escolhidas foi a Evolve, empresa de recursos humanos, com agência localizadas em Leiria, Lisboa, Porto e Setúbal e o nosso jornal tentou perceber o que motivou esta adesão ao projeto. «Consciente que as novas formas de trabalho vieram para ficar e da crescente necessidade em se assegurar um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, a Evolve considerou oportuna a integração do programa-piloto», começa por explicar Inês Luís, diretora-geral da Evolve. A responsável acrescenta que, «por força do compromisso estabelecido com a produtividade e tendo em consideração a redução do horário semanal de trabalho, será esperada uma maior eficiência na gestão do tempo por parte de cada colaborador/equipa, não sendo equacionado o aumento da equipa existente».

Sobre se já é possível fazer um balanço da experiência, Inês Luís aponta que «o sucesso da implementação do modelo de trabalho da semana de 4 dias é feito diariamente e até ao término do programa, através de métricas de produtividade e avaliação do grau de satisfação dos colaboradores, contudo e dado que o programa apenas se iniciou no dia 5 de junho, consideramos prematuro fazer um balanço desta experiência».

Em relação ao feedback dos trabalhadores, não há dúvida de que foi positivo. A responsável lembra que «sendo este um programa-piloto, de caráter voluntário, foi colocado à consideração de todos os colaboradores a sua participação» e que «a aceitação foi unânime e recebida de forma bastante positiva e entusiasta». Nesta fase tão inicial do projeto, «é já notório o reconhecimento da valorização do papel que cada um dos elementos desempenha no sucesso deste programa – piloto», salientou. Inês Luís avança também que, «caso seja um projeto estruturado e que conte com o comprometimento de todas as equipas de trabalho, será uma experiência recomendável que pode trazer a curto prazo um retorno positivo ao nível do clima organizacional e do empowerment organizacional. Acreditamos que a atividade profissional da empresa pode facilitar ou não a adesão, não sendo, no entanto, a única condicionante para tal acontecer».

 

Outros casos

E mesmo sem fazer parte do projeto do Governo, há outras empresas em Portugal que decidiram avançar com esta experiência. Uma delas é a Precise, uma empresa portuguesa de recursos humanos especializada em outsourcing de saúde e recrutamento em TI, que já tinha introduzido a tarde de sexta-feira livre para os seus colaboradores, em 2021. «Os efeitos positivos dessa iniciativa foram tão impactantes que a empresa optou oficialmente por adotar a semana de quatro dias de trabalho no início de 2023, de forma intercalada, ou seja, cada colaborador tem uma semana de quatro dias quinzenalmente», explica.

E diz que, «enquanto muitas empresas estão apenas agora a aderir ao projeto-piloto do Governo para adotar a semana de 4 dias, a Precise já colhe os frutos desta abordagem há mais de um ano. Um dos maiores sucessos desta medida foi a taxa nula de absentismo e de turnover entre colaboradores internos», explica.

Assumindo que esta iniciativa é pouco consensual em Portugal pelos argumentos de produtividade, qualidade de serviço e eventuais perdas para a entidade patronal, a Precise diz que os resultados mostram o contrário. «A medida não só otimizou os processos internos, aumentou a produtividade, mas também promoveu uma comunicação mais eficiente entre as equipas. Surpreendentemente, a adoção da semana de quatro dias não resultou em qualquer diminuição na qualidade da capacidade de resposta aos clientes. Pelo contrário, observou-se uma maior motivação por parte dos colaboradores. As equipas organizaram-se de forma mais eficiente, adotaram mecanismos de trabalho mais produtivos e a comunicação interna melhorou significativamente», diz Nuno Neves, CEO da Precise.

E considera que «o dia extra de descanso proporciona um alívio do stresse vivido ao longo da semana, contribuindo para o equilíbrio e a recuperação necessária para lidar com os desafios profissionais».

Além dos benefícios internos, a Precise destaca que este modelo de trabalho tem sido um fator diferenciador na contratação de novos talentos.

E não é a única. Também a consultora tecnológica suíça Zühlke está a implementar a semana de quatro dias nos seus escritórios no Porto, e quer reforçar a contratação tecnológica a todo o país para crescer 50% este ano.

A par destas empresas, a Feedzai, empresa tecnológica, decidiu implementar todos os anos, no mês de agosto, este modelo de trabalho.

Já a PHC Software vai permitir aos colaboradores tirar 12 sextas-feiras por ano para tempo pessoal, introduzindo as semanas de quatro dias sem qualquer compensação horária.

Também o Doutor Finanças, depois de uma primeira experiência, decidiu voltar a implementar a semana laboral de 32 horas. Mas apesar da redução do horário, os rendimentos dos trabalhadores mantêm-se inalterados.

 

Experiência pouco oportuna

Quando este projeto foi anunciado a Associação Empresarial de Portugal (AEP) teve ocasião de se pronunciar, tendo em conta um inquérito lançado às empresas sobre este tema. «Já na altura nos parecia pouco oportuno avançar com esta experiência, atendendo a que é necessário conhecer detalhadamente quais as implicações desta alteração nos diferentes setores (indústria, serviços, …) e em diferentes localizações e quais as vantagens e desvantagens, quer para as empresas quer para os trabalhadores», diz ao nosso jornal o presidente do Conselho de Administração da AEP, Luís Miguel Ribeiro, acrescentando que, em última análise, a principal importância desta iniciativa será a de se poder recolher informação adequada sobre a semana de 4 dias, «pelo que esperamos que o projeto piloto decorra com a maior transparência e isenção, e não apenas como um instrumento para servir para confirmar a tese inicial de que a semana de 4 dias é absolutamente viável e vantajosa, nos dias de hoje».

Para o responsável, é certo que será «muito importante produzir dados, o mais detalhados possível, sobre impactos por setor e dimensão».

 O Nascer do SOL tentou perceber se, numa altura em que se fala tanto dos problemas da falta de mão-de-obra será de esperar que as empresas estejam interessadas em reduzir o número de dias de trabalho. Luís Miguel Ribeiro é da opinião que este é um «dos muitos aspetos a ter em conta», explicando que, em muitos setores, «diríamos até na maioria, a redução do número de dias de trabalho levará inevitavelmente à necessidade de contratação de mais mão-de-obra». Por outro lado, destaca o responsável, quando se fala na implementação de uma semana de 4 dias, «ainda há muitas variáveis para decidir no que respeita à formulação legal e à regulamentação associada, que poderão ter uma importância significativa e decisiva na implementação do modelo e que constituirão fatores críticos para o sucesso ou insucesso desta medida».

É certo para Luís Miguel Ribeiro que a adoção desta medida «coloca-se com maiores dificuldades numa estrutura empresarial como a portuguesa, de reduzida dimensão média e, em termos setoriais, com maior peso da indústria».

Uma das questões que se coloca é se as empresas não poderão ser ‘obrigadas’ a contratar mais trabalhadores ou se a estrutura de trabalho não poderá ter de ser reajustada. O presidente do Conselho de Administração da AEP reitera que a associação é favorável «à possibilidade de as empresas poderem ter uma maior flexibilidade na aplicação destas modalidades de trabalho, incluindo o trabalho remoto, que possa ser definido e decidido por acordo entre a empresa e o trabalhador, passível de ser ajustado caso a caso, com benefícios claros para ambas as partes e não apenas para as empresas ou para os trabalhadores».

E essa maior flexibilidade poderá, então, «permitir às empresas adaptar e adequar as suas estruturas operacionais, quer produtivas quer administrativas, aumentando os níveis de eficiência e, por essa forma, melhorar os níveis de produtividade e competitividade das empresas, um tema em que Portugal precisa ainda de melhorar muito».

Questionado sobre o que dizem e como se adaptam os associados da AEP a esta modalidade ou se dificilmente o ponderam, o responsável recorda um inquérito realizado onde foi «manifesto o desagrado com esta medida, quer no seu timing quer na sua forma, por considerarem que as empresas se encontram focadas na resolução dos problemas que, sucessivamente, têm vindo a enfrentar nos últimos anos, nomeadamente os que resultaram dos efeitos fortemente adversos da pandemia e da guerra na Europa, pelo que a implementação de um novo modelo de trabalho poderá trazer instabilidade».

Por outro lado, diz, à semelhança de outras medidas na área laboral que têm vindo a ser impostas, «as empresas mostram alguns receios quanto à decisão de se avançar com a ‘imposição’ da semana de 4 dias, procurando seguir uma ‘moda’ que parece bem na fotografia, mas que não se sabe se produzirá os efeitos positivos anunciados», acrescentando ser importante ter em conta que entre os principais objetivos desta medida está «a promoção de um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, o que será positivo do ponto de vista da melhoria da qualidade de vida das pessoas», mas que não se pode esquecer que essa melhoria «também está estreitamente ligada ao nível de rendimento das pessoas e, em termos mais agregados, ao nível de rendimento da economia. Só com uma economia a crescer de forma significativa, só com empresas saudáveis e com elevados níveis de produtividade e competitividade será possível elevar, de forma sustentada, os níveis salariais».

 

O que se faz lá fora?

Em 1930, o economista John Maynard Keynes previu, num discurso intitulado ‘Possibilidades económicas para os nossos netos’, que, no espaço de um século, todos trabalhariam 15 horas semanais graças ao potencial de crescimento da riqueza e dos avanços tecnológicos. Ainda não chegámos lá mas a verdade é que não é só em Portugal que este modelo se testa e lá fora já tem sido um sucesso em muitos países. 

O caso de maior sucesso a nível mundial pertence à Islândia, que avalia a experiência como um «sucesso esmagador». Mas os testes demoraram tempo, os bons resultados não foram imediatos. A experiência, que se estendeu entre 2015 e 2019, consistiu em passar a semana de 40 horas de trabalho para 35-36 horas, sem baixar ordenados, e perceber o impacto em termos de produtividade e bem-estar dos trabalhadores. O teste abrangeu 1% da população, que cortou um dia útil de trabalho na semana, sem redução de salário. Resultado? Funcionários igualmente produtivos, mas mais satisfeitos e motivados. E também o stresse diminuiu.

Mas não é o único. No início do ano passado os Emirados Árabes Unidos adotaram a semana de quatro dias e meio de trabalho. Uma semana laboral mais curta que se aplicou às entidades do Governo e é compreendida entre o período de segunda a quinta-feira das 7h30 às 15h30 e à sexta-feira das 7h00 ao meio dia.

No Reino Unido, a semana mais curta passou no teste e foi «aprovada». Este é o maior estudo sobre a semana de quatro dias cujo piloto foi experimentado no Reino Unido e que envolveu 61 empresas e aproximadamente 2900 trabalhadores, tendo tido lugar entre junho e dezembro de 2022. Das empresas participantes, 92% adotaram já este horário semanal reduzido, com vários benefícios assinalados a comprovarem uma melhor performance empresarial. No que respeita aos trabalhadores, 90% afirmaram taxativamente que o seu desejo é continuar no regime de quatro dias semanais, com 15% dos mesmos a assegurar que nenhuma quantia de dinheiro os fará aceitar trabalhar para uma organização que mantenha os cinco dias de trabalho tradicionais

Na Escócia, um teste lançado pelo Governo deverá começar em 2023, enquanto o País de Gales está também a considerar um ensaio.

Outro caso de sucesso é a Bélgica, que em fevereiro do ano passado avançou para a semana mais curta de trabalho. O primeiro-ministro, Alexander de Croo, defendia que a intenção é tornar a economia mais dinâmica bem como melhorar a compatibilidade entre a família e o trabalho. Na Bélgica, o regime é ainda mais flexível. Ou seja, a jornada semanal clássica é de 38 horas mas o trabalhador tem a opção de trabalhar 45 horas numa semana e de deduzir as sete horas adicionais na semana seguinte. Neste país europeu, o regime de quatro ou cinco dias é uma decisão do trabalhar, que pode renovar ou alterar o pedido a cada seis meses.

 

Pergunta e Resposta com: Pedro Ferraz da Costa, Economista

‘Fazemos porque está na moda’

 

Como vê a ideia da semana de trabalho de quatro dias?

Custa-me a crer que seja a sério. Há determinadas empresas que já parecem que fazem isso. Fora aqueles que já não trabalham cinco dias por semana.

É ‘deitar areia para os olhos’? 

Mostra que António Costa é muito amigo de toda a gente e até nos vai pôr a trabalhar menos horas e as pessoas acham que se calhar até é possível. E tem sido tudo possível.

Os trabalhadores correm o risco de ter de trabalhar em casa nesse dia que seria de folga?

Acho que não. Mas também acho que desde a pandemia há muito menos interesse em trabalhar e os mais novos ainda menos interesse têm.

As empresas vão aderir?

Vai ser uma pequena minoria. As empresas estão neste momento com problemas de mão-de-obra, em que precisam de contratar pessoas e não conseguem. 

Vê alguma vantagem?

Acho que é chique, está na moda e, por isso, também fazemos. Mas acredito que a maior parte das pessoas o que prefere é continuar a trabalhar em casa. 

A maioria dos portugueses gosta da ideia…

Claro que aprovam e até gostariam mais que fosse de três dias. E há pessoas com vidas muito complicadas, quando chegam ao trabalho já tiveram de passar por 1h30 de transportes públicos e depois à noite mais 1h30 para regressarem a casa. 

 

Pergunta e Resposta com: Raquel Varela, Historiadora

'Todas as pessoas fazem mais horas'

Como vê a ideia da semana de quatro dias de trabalho? 

Se reduzimos o horário de trabalho para 8h no século XIX hoje deveríamos estar a pensar num horário de trabalho de a 3h/4h diárias. A redução do horário de trabalho como compensação para o extraordinário aumento da produtividade num país como Portugal seria uma ótima medida. Mas vivemos em capitalismo e a realidade é que os trabalhadores não estão no controlo da produção, nem das empresas, nem de coisa nenhuma. As pessoas vivem segundo o cutelo dos baixos salários e a proposta do Governo diz claramente que só é possível se não se baixar a produtividade, ou seja, os objetivos têm que se manter todos. As pessoas vão ter fazer de forma mais ofegante, rápida e exaustiva o que faziam em cinco dias em quatro e depois no quinto dia vão ter que trabalhar à mesma.

Aumenta a carga de trabalho nos quatro dias?

As pessoas têm de deixar de ouvir apenas a propaganda do Governo ou seja de quem for e refletirem. Quantas pessoas têm a carga horária num papel e a cumprem? Raríssimas pessoas, quase toda a gente faz mais.

As empresas vão aderir?

Não sei. Temos de nos lembrar que uma coisa é a lei, outra é a realidade. Os advogados e os especialistas em direito de trabalho estão sempre a chamar a atenção: uma coisa é um patrão dizer que se trabalha 8h por dia, outra coisa é se a pessoa não trabalhar 9/10h por dia, as horas extra e nas folgas é alvo de assédio moral, é colocado nos piores turnos, não dão férias quando quer e no limite metem essas pessoas na prateleira.