Vigília tascal invertida


É por isso que nos pedem que façamos uma espécie de vigília invertida, que estejamos acordados, meio acéfalos, a dormir na forma, enquanto a degradação e o deslaço prossegue. É tascal, porque o registo é degenerativo, mas há muita tasca com mais dignidade do que este exercício vigente. Boa Páscoa!


Portugal funciona em muitas dimensões em modo de tasca, só que uma tasca global, sem o aprumo de qualidade de alguns dos produtos outrora disponibilizados por esses estabelecimentos, antes da normalização ter feito das suas em registo do 8 para o 80. A degradação das instituições, do ambiente e do civismo a que se assiste é inversamente proporcional à maturidade de quase 50 anos de democracia que se impunha. 

É de tasca o funcionamento da justiça, responsável maior pelo funcionamento do Estado de Direito Democrático, cada vez mais num registo de arbítrio, de geometria variável e de insanidade que contagia os comportamentos individuais e comunitários em sentidos enviesados. Basta alguém querer e serás parte desse registo, com todas as garantias constitucionais e jurídicas de defesa, se houver dinheiro, mas sem nenhuma do ponto de vista mediático, em que os órgãos de polícia criminal se prestam a ordens de serviço a toque do poder político, como se viu no crime do Centro Ismaeli, prontamente distendido de grau, antes da investigação plena do quadro do ato. Aliás, a situação contou com o ridículo da emissão do mandado de busca à casa do suspeito só ter sido emitido no dia seguinte porque o pedido no dia anterior foi feito fora do horário de expediente. Há horário de expediente para o combate e investigação da criminalidade!

É de tasca ter um quadro de debate político em que a superficialidade é lei, permitindo-se por exemplo que os protagonistas ajustem os critérios de avaliação em função dos seus interesses particulares. Por exemplo, se o tema é a governação ou o exercício da oposição, o critério de avaliação são os resultados, não o processo (tomara!), mas no caso da TAP o importante é o processo, os resultados já não são o essencial, mesmo que antecipem em anos um plano gerado de acordo com a inconfessável vontade política de outrora (nacionalizar a empresa) negada pela atual necessidade de deitar borda fora a água do banho da capitalização com dinheiros públicos (privatização de parte da empresa).

É do domínio tascal assistir às contestações de fim-de-semana em torno da saúde e da habitação, protagonizados pelos enjeitados da geringonça como se não tivessem responsabilidades concretas nas opções políticas e na gestão concreta dos territórios que deu azo ao atual estado da arte, miserável do acesso aos cuidados de saúde em Loures e em Vila franca de Xira, e da missão impossível de arrendamento ou aquisição de habitação em Lisboa. Os media que fazem a cobertura desses eventos maiores de mobilização cívica desmemoriada não podem branquear esse passado que colocou as assinaturas nas causas do atual quadro de vivências urbanas. Lá porque são enjeitados do exercício do poder nacional e local, num quadro democrático em que a todos é legítimo a expressão, não podem parecer santos quando são pecadores. O PCP liderou Loures e esteve na primeira linha da implosão das PPP na saúde no Hospital Beatriz Ângelo e no Hospital de Vila Franca de Xira. Algum PS, incluindo o atual primeiro-ministro, foi na conversa populista do preconceito ideológico e substituiu o que funcionava bem por mais do mesmo. Somou problemas à rede de centros de saúde onde sempre se registaram insuficiências, com complacência dos parceiros de solução governativa, porque o interesse geral da proximidade ao poder era mais importante e as prioridades eram outras. Agora, por interposta militância surge na rua combalido, estrugido e indignado com o estado da arte. E quanto à habitação, depois de anos de regozijo autárquico e nacional com as receitas resultantes das dinâmicas imobiliárias, muitas especulativas, é preciso relembrar que o Bloco de Esquerda já foi poder em Lisboa e até teve o caso de Ricardo Robles, ele próprio especulador às segundas, terças e quartas, e militante anti-tudo às quintas, sextas e sábados. O BE também tem a sua quota de implosão das PPP que funcionavam sem garantir um efetivo reforço da resposta do SNS depois da popular e populista redução de horário de trabalho. Choram sobre o leite derramado, agora em modo de enjeitados do poder, desesperadamente à procura da recuperação do peso político na rua.

A realidade, esta realidade, degradada, disfuncional e deslaçada desfila perante a vigília cívica da brandura com o poder, com os interesses prevalentes e com as ligações para a manutenção dos equilíbrios, que vai implodindo a classe média e todos os motores de dinâmicas positivas, cada vez mais projetados para baixo, rumo à indigência da sobrevivência, à espera de medidas avulsas que não invertem as derivas impostas pela carga fiscal, pelas cartas marcadas e pela inconsistência das opções geradas pela prevalência do quotidiano sobre uma visão estratégica de progresso, de justiça social e de coesão territorial.

É por isso que nos pedem que façamos uma espécie de vigília invertida, que estejamos acordados, meio acéfalos, a dormir na forma, enquanto a degradação e o deslaço prossegue. É tascal, porque o registo é degenerativo, mas há muita tasca com mais dignidade do que este exercício vigente. Boa Páscoa!

 

NOTAS FINAIS

O TURISMO TUDO CURA. À falta das mudanças estruturais na capacidade produtiva e na agilização das dinâmicas individuais e comunitárias que valorizem quem faz e concretiza, emerge uma crescente perceção de confiança pia na convicção de que “o turismo tudo cura”. É como se, perante as insuficiências, se esperasse pelos impactos positivos do poder de cura da atividade turística, cada vez menos sazonal, mas sujeita a variantes que não controlamos. 

 

E FA QUÊ. A opacidade das opções políticas tomadas em nosso nome coletivo têm uma fatura com destinatário recorrente, os contribuintes portugueses. Depois da TAP, nacionalizada e agora em processo de privatização parcial, foi público que a EFACEC sorve mensalmente 14 milhões da Parpública estatal, logo de todos nós. E ninguém explica o alcance estratégico de gastar num mês mais do que muitos orçamentos municipais do Interior do país.

 

A IDOLATRIA DO BANDIDO SELETIVO. Enquanto tarda a justiça pela prática de crimes, ponto, prossegue a estratégia de beatificação da cibercriminalidade e do protagonista mediático maior dos últimos anos. Já não bastava o branqueamento feito pela PJ, agora também há literatura de suporte.

 

OBRIGADO À COMUNIDADE ISMAELLI. O sobressalto fatal como o esgoto da reação populista não pode beliscar o trabalho e integração de toda uma comunidade, com matrizes diferentes da generalidade da população, mas com uma sintonia na construção de crescimento civilizacional. Dor pelas perdas e gratidão pelo compromisso de agora e de sempre.

Vigília tascal invertida


É por isso que nos pedem que façamos uma espécie de vigília invertida, que estejamos acordados, meio acéfalos, a dormir na forma, enquanto a degradação e o deslaço prossegue. É tascal, porque o registo é degenerativo, mas há muita tasca com mais dignidade do que este exercício vigente. Boa Páscoa!


Portugal funciona em muitas dimensões em modo de tasca, só que uma tasca global, sem o aprumo de qualidade de alguns dos produtos outrora disponibilizados por esses estabelecimentos, antes da normalização ter feito das suas em registo do 8 para o 80. A degradação das instituições, do ambiente e do civismo a que se assiste é inversamente proporcional à maturidade de quase 50 anos de democracia que se impunha. 

É de tasca o funcionamento da justiça, responsável maior pelo funcionamento do Estado de Direito Democrático, cada vez mais num registo de arbítrio, de geometria variável e de insanidade que contagia os comportamentos individuais e comunitários em sentidos enviesados. Basta alguém querer e serás parte desse registo, com todas as garantias constitucionais e jurídicas de defesa, se houver dinheiro, mas sem nenhuma do ponto de vista mediático, em que os órgãos de polícia criminal se prestam a ordens de serviço a toque do poder político, como se viu no crime do Centro Ismaeli, prontamente distendido de grau, antes da investigação plena do quadro do ato. Aliás, a situação contou com o ridículo da emissão do mandado de busca à casa do suspeito só ter sido emitido no dia seguinte porque o pedido no dia anterior foi feito fora do horário de expediente. Há horário de expediente para o combate e investigação da criminalidade!

É de tasca ter um quadro de debate político em que a superficialidade é lei, permitindo-se por exemplo que os protagonistas ajustem os critérios de avaliação em função dos seus interesses particulares. Por exemplo, se o tema é a governação ou o exercício da oposição, o critério de avaliação são os resultados, não o processo (tomara!), mas no caso da TAP o importante é o processo, os resultados já não são o essencial, mesmo que antecipem em anos um plano gerado de acordo com a inconfessável vontade política de outrora (nacionalizar a empresa) negada pela atual necessidade de deitar borda fora a água do banho da capitalização com dinheiros públicos (privatização de parte da empresa).

É do domínio tascal assistir às contestações de fim-de-semana em torno da saúde e da habitação, protagonizados pelos enjeitados da geringonça como se não tivessem responsabilidades concretas nas opções políticas e na gestão concreta dos territórios que deu azo ao atual estado da arte, miserável do acesso aos cuidados de saúde em Loures e em Vila franca de Xira, e da missão impossível de arrendamento ou aquisição de habitação em Lisboa. Os media que fazem a cobertura desses eventos maiores de mobilização cívica desmemoriada não podem branquear esse passado que colocou as assinaturas nas causas do atual quadro de vivências urbanas. Lá porque são enjeitados do exercício do poder nacional e local, num quadro democrático em que a todos é legítimo a expressão, não podem parecer santos quando são pecadores. O PCP liderou Loures e esteve na primeira linha da implosão das PPP na saúde no Hospital Beatriz Ângelo e no Hospital de Vila Franca de Xira. Algum PS, incluindo o atual primeiro-ministro, foi na conversa populista do preconceito ideológico e substituiu o que funcionava bem por mais do mesmo. Somou problemas à rede de centros de saúde onde sempre se registaram insuficiências, com complacência dos parceiros de solução governativa, porque o interesse geral da proximidade ao poder era mais importante e as prioridades eram outras. Agora, por interposta militância surge na rua combalido, estrugido e indignado com o estado da arte. E quanto à habitação, depois de anos de regozijo autárquico e nacional com as receitas resultantes das dinâmicas imobiliárias, muitas especulativas, é preciso relembrar que o Bloco de Esquerda já foi poder em Lisboa e até teve o caso de Ricardo Robles, ele próprio especulador às segundas, terças e quartas, e militante anti-tudo às quintas, sextas e sábados. O BE também tem a sua quota de implosão das PPP que funcionavam sem garantir um efetivo reforço da resposta do SNS depois da popular e populista redução de horário de trabalho. Choram sobre o leite derramado, agora em modo de enjeitados do poder, desesperadamente à procura da recuperação do peso político na rua.

A realidade, esta realidade, degradada, disfuncional e deslaçada desfila perante a vigília cívica da brandura com o poder, com os interesses prevalentes e com as ligações para a manutenção dos equilíbrios, que vai implodindo a classe média e todos os motores de dinâmicas positivas, cada vez mais projetados para baixo, rumo à indigência da sobrevivência, à espera de medidas avulsas que não invertem as derivas impostas pela carga fiscal, pelas cartas marcadas e pela inconsistência das opções geradas pela prevalência do quotidiano sobre uma visão estratégica de progresso, de justiça social e de coesão territorial.

É por isso que nos pedem que façamos uma espécie de vigília invertida, que estejamos acordados, meio acéfalos, a dormir na forma, enquanto a degradação e o deslaço prossegue. É tascal, porque o registo é degenerativo, mas há muita tasca com mais dignidade do que este exercício vigente. Boa Páscoa!

 

NOTAS FINAIS

O TURISMO TUDO CURA. À falta das mudanças estruturais na capacidade produtiva e na agilização das dinâmicas individuais e comunitárias que valorizem quem faz e concretiza, emerge uma crescente perceção de confiança pia na convicção de que “o turismo tudo cura”. É como se, perante as insuficiências, se esperasse pelos impactos positivos do poder de cura da atividade turística, cada vez menos sazonal, mas sujeita a variantes que não controlamos. 

 

E FA QUÊ. A opacidade das opções políticas tomadas em nosso nome coletivo têm uma fatura com destinatário recorrente, os contribuintes portugueses. Depois da TAP, nacionalizada e agora em processo de privatização parcial, foi público que a EFACEC sorve mensalmente 14 milhões da Parpública estatal, logo de todos nós. E ninguém explica o alcance estratégico de gastar num mês mais do que muitos orçamentos municipais do Interior do país.

 

A IDOLATRIA DO BANDIDO SELETIVO. Enquanto tarda a justiça pela prática de crimes, ponto, prossegue a estratégia de beatificação da cibercriminalidade e do protagonista mediático maior dos últimos anos. Já não bastava o branqueamento feito pela PJ, agora também há literatura de suporte.

 

OBRIGADO À COMUNIDADE ISMAELLI. O sobressalto fatal como o esgoto da reação populista não pode beliscar o trabalho e integração de toda uma comunidade, com matrizes diferentes da generalidade da população, mas com uma sintonia na construção de crescimento civilizacional. Dor pelas perdas e gratidão pelo compromisso de agora e de sempre.