Vamos lá! Acordem…


Demissões, exonerações, escândalos no Governo, na oposição, nas autarquias, parece um vírus que se espalha a uma velocidade diária preocupante, pois não há ideia de qual a vacina possível.


Por Rosária Macário, Professora e investigadora em transportes, Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos do Instituto Superior Técnico

Pensar é o que distingue a nossa espécie, mas nem sempre temos disso plena consciência. Nas últimas semanas, e meses, aconteceram no nosso país ocorrências insólitas. Políticos justificadamente cansados dão-se ao direito injustificado de insultar cidadãos, vejam só! Uma secretária de Estado que salta entre administrações públicas e recebe indemnizações faraónicas e, apesar de se tratarem de posições nomeadas pelo Estado e empresas que não têm autonomia administrativa para este nível de despesa (tal como com os famosos BMWs), nenhum governante sabe de nada, vejam só!

Por coincidência também na oposição ninguém sabe de nada, vejam só!

Autarcas que infringem a lei e que só se demitem porque a imprensa revela o escândalo, vejam só! E por aí fora, a lista de casos não para de crescer aos nossos olhos. 

Um estudo da OCDE revela que Portugal tem uma diferença entre classes sociais digna de um país de terceiro mundo. Como diz o colega Conraria, Portugal é a Nova Zelândia de pernas para o ar. Vejam só!

Parece claro que algo vai muito mal na nossa sociedade. Tudo isto acontece perante uma sociedade inerte, que olha para as discussões partidárias como se de um espetáculo inofensivo, talvez nova forma de Big Brother, se tratasse, nem sequer levando a sério as atitudes dos nossos eleitos. Vejam isto, mas não é bonito de ver!
Uma democracia é por definição um sistema participado por uma sociedade informada e interessada, e tendencialmente exigente. 

Os políticos desconversam no parlamento, e através dos media. Parece ser a nova função instituída, carregada de pendor teatral. Para o confirmar basta assistir aos debates disponíveis no canal de TV da Assembleia da República. Já é difícil distinguir entre os posicionamentos da direita e da esquerda. Ross Douthat no New York Times, retratou a sociedade americana com um artigo de título How the right became the left and the left became the right. Parece que o fenómeno tende a atravessar o oceano, o pensamento político emagrece a olhos vistos. 

Demissões, exonerações, escândalos no Governo, na oposição, nas autarquias, parece um vírus que se espalha a uma velocidade diária preocupante, pois não há ideia de qual a vacina possível. Podemos até encontrar explicação, mas é impossível justificar este estado de sitio. Tudo isto é Portugal, hoje… no seu pior, é claro!

Podemos alardear culpas e responsabilidades aos políticos, aos partidos, essa é a versão fácil, apontar o partido A ou B. Mas não é verdade, os verdadeiros responsáveis são os  cidadãos que com a sua abstenção, que sedimenta cada vez mais a cada ato eleitoral, se demitem das responsabilidades de serem o único e verdadeiro avaliador do que se passa no país. 

E porque assim é perpetuarmos uma cultura na nossa sociedade em que aceitamos como normal o facto da lei não se cumprir, dos programas não se realizarem quando devem, das oportunidades se perderem, do curto prazo ser o objeto do pensamento público, e o longo prazo uma entidade quase desconhecida, das fiscalizações que não se fazem de forma sistemática e independente, de uma administração pública que nunca se reforma. 

Mas continuamos a somar alegremente sucessos fictícios e a entreter a população com micro disputas partidárias de valor subtraído para o país, mas consumidoras de recursos e de oportunidades, como se de um espetáculo de animação se trate. Estamos perto de chegar ao ponto em que ninguém tem razão e todos seremos responsáveis. 
O que parece ser uma verdade irrefutável é que só conseguiremos mudar a nossa cultura e o nosso país quando tivermos a coragem de pensar que país queremos ter no longo prazo, o que devemos fazer para lá chegar, e quando os cidadãos estiverem ativamente interessados no futuro do seu país, dos seus filhos e netos. A esperança está claramente na geração jovem, que já dá sinais de ter outra atitude e outro pensamento.

O pensamento de longo prazo é indispensável para que possam ser definidas políticas públicas e decisões de boa qualidade, permitindo-nos ter estratégias claras para o desenvolvimento do país. Esta é uma necessidade imperiosa para o desenvolvimento de todos os setores económicos e para obtermos uma visão integrada das várias interações intersetoriais. Trata-se por isso de uma necessidade técnica, que tem sido muito condicionada por aspetos políticos e culturais, e que é urgente alterar, pelos prejuízos evidentes que nos tem trazido em perca de competitividade nos vários setores.

O pensamento de curto prazo invadiu a nossa sociedade de tal forma que se tornou uma doença crónica, e provavelmente causa remota de todo o triste espetáculo a que temos assistido. Desenganem-se aqueles que dizem entre dentes e baixinho “que vergonha! “,  não é um caso de vergonha alheia, é mesmo vergonha própria de como nem sequer conseguimos ser bons cidadãos no nosso próprio país. Vamos, acordem!

 

Vamos lá! Acordem…


Demissões, exonerações, escândalos no Governo, na oposição, nas autarquias, parece um vírus que se espalha a uma velocidade diária preocupante, pois não há ideia de qual a vacina possível.


Por Rosária Macário, Professora e investigadora em transportes, Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos do Instituto Superior Técnico

Pensar é o que distingue a nossa espécie, mas nem sempre temos disso plena consciência. Nas últimas semanas, e meses, aconteceram no nosso país ocorrências insólitas. Políticos justificadamente cansados dão-se ao direito injustificado de insultar cidadãos, vejam só! Uma secretária de Estado que salta entre administrações públicas e recebe indemnizações faraónicas e, apesar de se tratarem de posições nomeadas pelo Estado e empresas que não têm autonomia administrativa para este nível de despesa (tal como com os famosos BMWs), nenhum governante sabe de nada, vejam só!

Por coincidência também na oposição ninguém sabe de nada, vejam só!

Autarcas que infringem a lei e que só se demitem porque a imprensa revela o escândalo, vejam só! E por aí fora, a lista de casos não para de crescer aos nossos olhos. 

Um estudo da OCDE revela que Portugal tem uma diferença entre classes sociais digna de um país de terceiro mundo. Como diz o colega Conraria, Portugal é a Nova Zelândia de pernas para o ar. Vejam só!

Parece claro que algo vai muito mal na nossa sociedade. Tudo isto acontece perante uma sociedade inerte, que olha para as discussões partidárias como se de um espetáculo inofensivo, talvez nova forma de Big Brother, se tratasse, nem sequer levando a sério as atitudes dos nossos eleitos. Vejam isto, mas não é bonito de ver!
Uma democracia é por definição um sistema participado por uma sociedade informada e interessada, e tendencialmente exigente. 

Os políticos desconversam no parlamento, e através dos media. Parece ser a nova função instituída, carregada de pendor teatral. Para o confirmar basta assistir aos debates disponíveis no canal de TV da Assembleia da República. Já é difícil distinguir entre os posicionamentos da direita e da esquerda. Ross Douthat no New York Times, retratou a sociedade americana com um artigo de título How the right became the left and the left became the right. Parece que o fenómeno tende a atravessar o oceano, o pensamento político emagrece a olhos vistos. 

Demissões, exonerações, escândalos no Governo, na oposição, nas autarquias, parece um vírus que se espalha a uma velocidade diária preocupante, pois não há ideia de qual a vacina possível. Podemos até encontrar explicação, mas é impossível justificar este estado de sitio. Tudo isto é Portugal, hoje… no seu pior, é claro!

Podemos alardear culpas e responsabilidades aos políticos, aos partidos, essa é a versão fácil, apontar o partido A ou B. Mas não é verdade, os verdadeiros responsáveis são os  cidadãos que com a sua abstenção, que sedimenta cada vez mais a cada ato eleitoral, se demitem das responsabilidades de serem o único e verdadeiro avaliador do que se passa no país. 

E porque assim é perpetuarmos uma cultura na nossa sociedade em que aceitamos como normal o facto da lei não se cumprir, dos programas não se realizarem quando devem, das oportunidades se perderem, do curto prazo ser o objeto do pensamento público, e o longo prazo uma entidade quase desconhecida, das fiscalizações que não se fazem de forma sistemática e independente, de uma administração pública que nunca se reforma. 

Mas continuamos a somar alegremente sucessos fictícios e a entreter a população com micro disputas partidárias de valor subtraído para o país, mas consumidoras de recursos e de oportunidades, como se de um espetáculo de animação se trate. Estamos perto de chegar ao ponto em que ninguém tem razão e todos seremos responsáveis. 
O que parece ser uma verdade irrefutável é que só conseguiremos mudar a nossa cultura e o nosso país quando tivermos a coragem de pensar que país queremos ter no longo prazo, o que devemos fazer para lá chegar, e quando os cidadãos estiverem ativamente interessados no futuro do seu país, dos seus filhos e netos. A esperança está claramente na geração jovem, que já dá sinais de ter outra atitude e outro pensamento.

O pensamento de longo prazo é indispensável para que possam ser definidas políticas públicas e decisões de boa qualidade, permitindo-nos ter estratégias claras para o desenvolvimento do país. Esta é uma necessidade imperiosa para o desenvolvimento de todos os setores económicos e para obtermos uma visão integrada das várias interações intersetoriais. Trata-se por isso de uma necessidade técnica, que tem sido muito condicionada por aspetos políticos e culturais, e que é urgente alterar, pelos prejuízos evidentes que nos tem trazido em perca de competitividade nos vários setores.

O pensamento de curto prazo invadiu a nossa sociedade de tal forma que se tornou uma doença crónica, e provavelmente causa remota de todo o triste espetáculo a que temos assistido. Desenganem-se aqueles que dizem entre dentes e baixinho “que vergonha! “,  não é um caso de vergonha alheia, é mesmo vergonha própria de como nem sequer conseguimos ser bons cidadãos no nosso próprio país. Vamos, acordem!