Saúde. Terceira demissão sucessiva de chefias da urgência

Saúde. Terceira demissão sucessiva de chefias da urgência


Hospitais Garcia de Orta, Fernando Fonseca e do Divino Espírito Santo são aqueles em que chefias já se demitiram. “Este grito de alerta deve ser valorizado seriamente pelo senhor ministro”, diz Roque da Cunha, do SIM.


Depois de os chefes de equipa do serviço de urgência geral do Hospital Garcia de Orta, em Almada, e de os chefes e subchefes das equipas do serviço de urgência de medicina do Hospital Fernando Fonseca (HFF) terem apresentado a demissão, os chefes do mesmo serviço, do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, nos Açores, deram o mesmo passo.

É a terceira demissão que se verifica esta semana. Na terça-feira, numa carta escrita à diretora clínica do HFF, 44 médicos consideraram que o hospital “vive, uma vez mais, momentos de enorme dificuldade na nobre missão de prestar a melhor atividade assistencial à população que a ele recorre”. Os profissionais de saúde salientaram também que o Inverno traz muita pressão hospitalar e que “as ausências de rumo e de estratégia que, face às dificuldades inerentes ao próprio SNS, permitiriam enfrentar os difíceis momentos que se avizinham com o melhor das capacidades do HFF e dos seus profissionais”.

Na ótica dos 44 signatários da carta, a falta de condições e de segurança para os doentes refletem-se no Serviço de Urgência, sendo que no caso do Garcia de Orta as demissões ocorreram em protesto com a escala de dezembro. Entretanto, a instituição anunciou que vai reforçar as equipas médicas das urgências gerais de modo a que o serviço esteja operacional em dezembro. Esta informação surge depois da reunião realizada com o Conselho de Administração e os chefes de equipa do SUG, após estes terem apresentado a demissão.

A Administração do Hospital realçou que a escala de próximo mês do SUG “ainda não havia sido validada”, pelo que “ainda estão a ser tomadas medidas que possam garantir a operacionalidade da respetiva escala e consequente reforço da equipa”. Nessa mesma reunião os chefes de equipa apresentaram “um conjunto de medidas, com vista à melhoria de funcionamento, que foram acolhidas”, como foi frisado pelo Conselho de Administração.

“Este grito de alerta deve ser valorizado seriamente pelo senhor ministro da saúde já que representa tornar público um problema que existe na esmagadora maioria dos hospitais. Esta atitude deveria obrigar o ministro a apresentar medidas para impedir ou mitigar a saída de médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, diz ao i Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

“No ano passado saíram 1000 por rescisão e este ano esse número foi ultrapassado e a esses juntam-se aqueles que se vão reformar devido à idade. Em vez de desvalorizar a situação, o senhor doutor Pizarro devia, junto do ministro das Finanças, criar condições no SNS”, frisa. “Por exemplo, na Amadora, os médicos têm de acompanhar 100 doentes internados nos cuidados intermédios para além daqueles que estão nas urgências. Se nada for feito, a situação, vai agravar-se”.

“No São Francisco Xavier, no Santa Maria e em Setúbal os colegas fizeram a mesma coisa: não nos esqueçamos disto. Tiveram coragem e o senhor ministro não devia fingir que não existiram mais demissões. Essa afirmação relativa ao problema ser crónico pode configurar um incentivo às demissões. É atirar a toalha ao chão”, lamenta. “O doutor António Costa está no Governo há sete anos. Daqui a sete anos, será a mesma coisa? E quando ele sair do Governo, será tudo ainda pior?”, questiona.

 

Ministro a “sacudir a água do capote”?

“A situação dos serviços de urgência no nosso país é uma situação absolutamente crónica, não tem nada de novo. Não me recordo de ano nenhum do meu exercício profissional como médico ou do meu exercício em funções políticas que não tenha havido dificuldades nas urgências no inverno”, disse Manuel Pizarro esta quarta-feira, no Parlamento, reconhecendo, ainda assim, que fica “sempre infeliz e insatisfeito com todas as situações de insuficiência”, mas defende que os problemas se resumem “a três ou quatro unidades hospitalares, nas quais estamos a trabalhar ativamente”.

Todavia, do lado dos partidos políticos o entendimento pareceu ser outro. A título de exemplo, o PCP referiu que o dirigente estava a “sacudir a água do capote”. O deputado comunista João Dias respondeu, em conferência de imprensa na Assembleia da República, que “é muito fácil haver aqui uma desresponsabilização” da tutela e “achar que é por falta de organização” que são constatadas dificuldades no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Importa que o ministro, que tenta pintar um cenário cor-de-rosa, de uma vez por todas fale de uma forma séria perante os assuntos e não querendo desvalorizar o que é sentido pelos profissionais de saúde, mas também pela população quando acorre aos serviços de urgência”, indicou.

No início de novembro, entrou em funções a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) – em plenitude de funções a partir do dia 1 de janeiro -, presidida pelo médico Fernando Araújo, cuja missão passa por coordenar a resposta assistencial das unidades de saúde do SNS, assegurando o seu funcionamento em rede.