As trapalhadas são mais do que muitas, mas não acredito que o Governo de António Costa esteja em perigo. Se o primeiro-ministro não se fartar e não quiser partir para Bruxelas em 2024, apostava tudo em como o Executivo se vai manter até ao fim da legislatura. E foi para isso que foram eleitos, já que tiveram maioria absoluta, e só no próximo ato eleitoral devem ser julgados. Até lá o forrobodó pode continuar que Marcelo não terá hipótese de lançar outra bomba atómica.
Mas nesta mini-crise é notório que o monocórdico ministro da Economia conseguiu levar a sua avante e os secretários de Estado que o tinham desautorizado ficaram a ver navios, pois o Mar não é para todos. Com o seu ar de padre jesuíta, António Costa Silva, segundo rezam as crónicas, obrigou António Costa a despachar dois dos adjuntos do Ministério da Economia e Mar. O primeiro-ministro, quando foi desautorizado pelo seu governante mais forte, obrigou-o a fazer um strip tease em público e Pedro Nuno Santos continuou no barco.
O anúncio da remodelação governamental serviu na perfeição para André Ventura mostrar que é um político ágil e não espera pelos outros para dizer de sua justiça. A história do conflito familiar em Conselho de Ministros foi muito bem sacada, até por Costa ter dado a entender, em 2019, que não voltaria a acontecer – embora pessoalmente não veja que venha mal ao mundo dois irmãos terem assento nas reuniões. O que não se percebe é como é que António Costa levou tanto tempo a perceber que António Mendonça Mendes é o homem certo para o cargo, tendo apostado primeiro numa figura que tinha processos com a justiça às costas, como era o caso de Miguel Alves.
P. S. Não deixou de ser curioso ver Marcelo ficar calado quando questionado pelos jornalistas sobre as demissões dos secretários de Estado. Calculo que o Presidente terá ido a correr para uma sala fechada para gritar por ter perdido uma oportunidade de ouro para desancar no desnorte do Governo. Mas não deixa de ter graça ver o Presidente a ficar embatucado por não dizer o que lhe vai na alma.