Para onde vão ou nos levam os ziguezagues?


Lisboa precisa de um novo aeroporto. Se tem de estar sujeito aos ziguezagues dos diversos interesses particulares, dos instalados aos a instalar, é óbvio que não, mas está. É caso para dizer: ó diabo!


Descontada a congénita ligeireza das coisas em Portugal, remanesce uma absurda falta de senso que perpassa a sociedade, das lideranças ao comum dos cidadãos, ele próprio configurado na desnecessidade de equilibrar direitos e deveres, de ser objetivo e linear nos comportamentos, tudo numa espiral que tende ao disparate, à injustiça e ao medrar de uma degradação dos ambientes saudáveis.

Olhamos para cima, como cidadãos, e vislumbramos uma governação com tudo para ser um farol de referência de estabilidade, tal é a maioria absoluta de que dispõe, mas insiste em ser parte da incerteza, dos ziguezagues e de um certo laxismo que contagia.

Contrataram um diretor de comunicação para concertar as mensagens do governo, mas prossegue uma diletante expressão do “cada um por si”, como se não existisse estratégia, iniciativa, agenda e articulação.

Reforçaram a coordenação política, com a criação de um cargo junto do líder do governo, mas esgrimem em praça pública divergências sobre opções estratégicas da governação como se não existisse uma referência – o tal de programa de Governo – e quem mande nas opções políticas.

Implodiram o esforço de separação entre partido e governo gerado com a criação do cargo de secretário-geral adjunto, ao permitirem que membros do governo sejam, em simultâneo, presidentes de estruturas partidárias, como se a intensidade da ação governativa fosse compatível com as obrigações de dinamização dos militantes e das secções, concelhias e federações. O exercício governativo levado a sério, contabilizando algum tempo para a vida familiar, torna a responsabilidade partidária humanamente impossível de compatibilizar.

Tardaram em reagir aos impactos da inflação e da guerra, porque a referência são as necessidades dos cidadãos e das empresas e não os calendários autoproclamados em função de referências mais ou menos burocráticas -, mas conseguiram embrulhar as soluções apresentadas numa apresentação geradora de dúvidas e de nuances negativas que macularam o impulso. A soma de episódios desta natureza, a par de uma maior assertividade da oposição e do cansaço dos cidadãos com as vergastadas de más notícias, está a desbaratar o capital da maioria absoluta. É caso para dizer: organizem-se!

E depois há a barracada do aeroporto, misto de captura dos interesses nacionais, sujeitos às contingências das privatizações, com a falta de transparência do processo político em Portugal, do lado de quem decide e de quem escrutina.

Afinal, o diabo apareceu mesmo.

Agora, temos Santarém em cima da mesa, pela mão do sócio da privatização da TAP, sempre à procura de altos voos, enquanto assegura serviços de transportes rodoviários de fraca qualidade, e apadrinhado pelo PSD, qual partido de oposição responsável. Não deixa de ser curioso que na procura de senso, objetividade e linearidade para o processo do novo aeroporto de Lisboa, o “baralha e dá de novo” suscitado pelos promotores de um aeroporto, até agora privado, e pelo PSD, permita a emergência de uma miríade de dúvidas sobre as dinâmicas geradas pelo desenvolvimento do projeto por quem, no segredo que é alma do negócio, pode ter jogado no plano imobiliário a contar com o avanço agora registado. Pelas dinâmicas positivas da eventual concretização do projeto e pelos eventuais impactos de desativação de infraestruturas junto ao Tejo, com a Lezíria como testemunha no horizonte.

Lisboa precisa de um novo aeroporto. Se tem de estar sujeito aos ziguezagues dos diversos interesses particulares, dos instalados aos a instalar, é óbvio que não, mas está. É caso para dizer: ó diabo!

Na linha do desbaratar capital, assistimos incrédulos a um conjunto de acontecimentos no mundo do futebol que confirmam a existência de uma total falta de linearidade, alheada do bom senso e dos mais elementares valores constitucionais.

Será difícil encontrar um fenómeno de tamanho desleixo ou captura por interesses particulares como o que se verifica com o ambiente de degradação do compromisso com a seleção nacional que a Federação Portuguesa de Futebol consegui gerar, ao deixar perpetuar, por ação ou por omissão, um conjunto de situações. Os romanos sabiam do virtuosismo popular do “pão e circo”. O circo pode prosseguir, mas os sinais de ausência e o desnorte evidenciam que à falta de pão, a situação torna-se insustentável. Sabemos que há mundos e submundos onde, à margem do Estado de Direito Democrático, vale quase tudo, mas fustigar direitos, liberdades e garantias, a partir do abuso de posição dominante é inaceitável. Fazer calar um exercício de liberdade de expressão como o que aconteceu na SportTV, a concessionária que reduz serviços mantendo os preços por ter os direitos do campeonato nacional, é muito grave. É um delito de opinião, mascarado de preservação da linha editorial, tantas vezes maculada com exercícios especulativos similares em relação a clubes pelos comentadores residentes ou na dualidade de critérios de abordagem da estação, com modelações a norte e a sul. É também por isso que devem deixar de ter os direitos televisivos conquistados em tempos de outras permissividades.

O país está pejado de ziguezagues, de discursos, ações e iniciativas incompreensíveis. Espera-se que o sentido de responsabilidade das pessoas se sobreponha aos exemplos e aos desmandos, mas o nervosismo sente-se na rua, nas interações e nas expressões.

Resta-nos, como cidadãos mantermo-nos em linha reta das convicções e dos valores, que os exemplos escasseiam.

NOTAS FINAIS
PEDAGOGIA DO NÃO. Em 2014, consagrou-se a ideia da infinitude dos recursos. Em 2022, o registo é diferente, mas a ausência de critério percetível em diversas opções políticas e o aumento das dificuldades individuais, empresariais e comunitárias geram um ambiente de reivindicação e expectativa. Os recursos sempre foram limitados, mas as notícias de margens de 1800 milhões para a elaboração do próximo orçamento ou de excedentes na execução orçamental, serão sempre motivo de populismo e incompreensão se não foram explicadas. O não precisa de explicação.

DESLOCADOS DA REALIDADE. Permitiu-se que a especulação imobiliária e os baixos rendimentos modelassem a ocupação do território. Agora, sob a capa da mobilidade sustentável, ambiciona-se que, até 2030, 35% das deslocações diárias para o trabalho ou para a escola sejam feitas a pé. Tipo do Massamá para o Marquês de Pombal ou de Alverca do Ribatejo para a Baixa de Lisboa. Não se perca a utopia e a ambição, mas não vale a pena serem ridículos.

A FRAGILIDADE DIGITAL DOS DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS. Endeusaram tanto os cibercriminosos, até os constituíram como apoiantes da investigação judicial, que se assiste à banalização dos ataques registados e das suas consequências. A gravidade do ciberataque à TAP, com a divulgação de dados pessoais de altas instâncias do Estado português e de milhares de portugueses, não se supera com pedidos de desculpa. As desculpas evitam-se. Na TAP, nessa como noutras questões, não parece que se esteja a fazer tudo para salvaguardar os interesses gerais da nação.

Para onde vão ou nos levam os ziguezagues?


Lisboa precisa de um novo aeroporto. Se tem de estar sujeito aos ziguezagues dos diversos interesses particulares, dos instalados aos a instalar, é óbvio que não, mas está. É caso para dizer: ó diabo!


Descontada a congénita ligeireza das coisas em Portugal, remanesce uma absurda falta de senso que perpassa a sociedade, das lideranças ao comum dos cidadãos, ele próprio configurado na desnecessidade de equilibrar direitos e deveres, de ser objetivo e linear nos comportamentos, tudo numa espiral que tende ao disparate, à injustiça e ao medrar de uma degradação dos ambientes saudáveis.

Olhamos para cima, como cidadãos, e vislumbramos uma governação com tudo para ser um farol de referência de estabilidade, tal é a maioria absoluta de que dispõe, mas insiste em ser parte da incerteza, dos ziguezagues e de um certo laxismo que contagia.

Contrataram um diretor de comunicação para concertar as mensagens do governo, mas prossegue uma diletante expressão do “cada um por si”, como se não existisse estratégia, iniciativa, agenda e articulação.

Reforçaram a coordenação política, com a criação de um cargo junto do líder do governo, mas esgrimem em praça pública divergências sobre opções estratégicas da governação como se não existisse uma referência – o tal de programa de Governo – e quem mande nas opções políticas.

Implodiram o esforço de separação entre partido e governo gerado com a criação do cargo de secretário-geral adjunto, ao permitirem que membros do governo sejam, em simultâneo, presidentes de estruturas partidárias, como se a intensidade da ação governativa fosse compatível com as obrigações de dinamização dos militantes e das secções, concelhias e federações. O exercício governativo levado a sério, contabilizando algum tempo para a vida familiar, torna a responsabilidade partidária humanamente impossível de compatibilizar.

Tardaram em reagir aos impactos da inflação e da guerra, porque a referência são as necessidades dos cidadãos e das empresas e não os calendários autoproclamados em função de referências mais ou menos burocráticas -, mas conseguiram embrulhar as soluções apresentadas numa apresentação geradora de dúvidas e de nuances negativas que macularam o impulso. A soma de episódios desta natureza, a par de uma maior assertividade da oposição e do cansaço dos cidadãos com as vergastadas de más notícias, está a desbaratar o capital da maioria absoluta. É caso para dizer: organizem-se!

E depois há a barracada do aeroporto, misto de captura dos interesses nacionais, sujeitos às contingências das privatizações, com a falta de transparência do processo político em Portugal, do lado de quem decide e de quem escrutina.

Afinal, o diabo apareceu mesmo.

Agora, temos Santarém em cima da mesa, pela mão do sócio da privatização da TAP, sempre à procura de altos voos, enquanto assegura serviços de transportes rodoviários de fraca qualidade, e apadrinhado pelo PSD, qual partido de oposição responsável. Não deixa de ser curioso que na procura de senso, objetividade e linearidade para o processo do novo aeroporto de Lisboa, o “baralha e dá de novo” suscitado pelos promotores de um aeroporto, até agora privado, e pelo PSD, permita a emergência de uma miríade de dúvidas sobre as dinâmicas geradas pelo desenvolvimento do projeto por quem, no segredo que é alma do negócio, pode ter jogado no plano imobiliário a contar com o avanço agora registado. Pelas dinâmicas positivas da eventual concretização do projeto e pelos eventuais impactos de desativação de infraestruturas junto ao Tejo, com a Lezíria como testemunha no horizonte.

Lisboa precisa de um novo aeroporto. Se tem de estar sujeito aos ziguezagues dos diversos interesses particulares, dos instalados aos a instalar, é óbvio que não, mas está. É caso para dizer: ó diabo!

Na linha do desbaratar capital, assistimos incrédulos a um conjunto de acontecimentos no mundo do futebol que confirmam a existência de uma total falta de linearidade, alheada do bom senso e dos mais elementares valores constitucionais.

Será difícil encontrar um fenómeno de tamanho desleixo ou captura por interesses particulares como o que se verifica com o ambiente de degradação do compromisso com a seleção nacional que a Federação Portuguesa de Futebol consegui gerar, ao deixar perpetuar, por ação ou por omissão, um conjunto de situações. Os romanos sabiam do virtuosismo popular do “pão e circo”. O circo pode prosseguir, mas os sinais de ausência e o desnorte evidenciam que à falta de pão, a situação torna-se insustentável. Sabemos que há mundos e submundos onde, à margem do Estado de Direito Democrático, vale quase tudo, mas fustigar direitos, liberdades e garantias, a partir do abuso de posição dominante é inaceitável. Fazer calar um exercício de liberdade de expressão como o que aconteceu na SportTV, a concessionária que reduz serviços mantendo os preços por ter os direitos do campeonato nacional, é muito grave. É um delito de opinião, mascarado de preservação da linha editorial, tantas vezes maculada com exercícios especulativos similares em relação a clubes pelos comentadores residentes ou na dualidade de critérios de abordagem da estação, com modelações a norte e a sul. É também por isso que devem deixar de ter os direitos televisivos conquistados em tempos de outras permissividades.

O país está pejado de ziguezagues, de discursos, ações e iniciativas incompreensíveis. Espera-se que o sentido de responsabilidade das pessoas se sobreponha aos exemplos e aos desmandos, mas o nervosismo sente-se na rua, nas interações e nas expressões.

Resta-nos, como cidadãos mantermo-nos em linha reta das convicções e dos valores, que os exemplos escasseiam.

NOTAS FINAIS
PEDAGOGIA DO NÃO. Em 2014, consagrou-se a ideia da infinitude dos recursos. Em 2022, o registo é diferente, mas a ausência de critério percetível em diversas opções políticas e o aumento das dificuldades individuais, empresariais e comunitárias geram um ambiente de reivindicação e expectativa. Os recursos sempre foram limitados, mas as notícias de margens de 1800 milhões para a elaboração do próximo orçamento ou de excedentes na execução orçamental, serão sempre motivo de populismo e incompreensão se não foram explicadas. O não precisa de explicação.

DESLOCADOS DA REALIDADE. Permitiu-se que a especulação imobiliária e os baixos rendimentos modelassem a ocupação do território. Agora, sob a capa da mobilidade sustentável, ambiciona-se que, até 2030, 35% das deslocações diárias para o trabalho ou para a escola sejam feitas a pé. Tipo do Massamá para o Marquês de Pombal ou de Alverca do Ribatejo para a Baixa de Lisboa. Não se perca a utopia e a ambição, mas não vale a pena serem ridículos.

A FRAGILIDADE DIGITAL DOS DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS. Endeusaram tanto os cibercriminosos, até os constituíram como apoiantes da investigação judicial, que se assiste à banalização dos ataques registados e das suas consequências. A gravidade do ciberataque à TAP, com a divulgação de dados pessoais de altas instâncias do Estado português e de milhares de portugueses, não se supera com pedidos de desculpa. As desculpas evitam-se. Na TAP, nessa como noutras questões, não parece que se esteja a fazer tudo para salvaguardar os interesses gerais da nação.