A insustentabilidade do bom aluno com cábulas


Olha-se em redor e o país está preso por arames, entre a sobrevivência e a indigência, sufocado pelas circunstâncias da pandemia, da guerra, da inflação e de tantos outros fatores que expõem  as fragilidades das vivências individuais e comunitárias.


Agora que o novo letivo começa é tempo de renovadas esperanças, abertas expectativas e novas realidades para alguns, mas, fora do plano escolar ou académico, há coisas que nunca mudam e atitudes que perduram perante a fragilidade dos quotidianos das pessoas, das empresas e das comunidades. É certo que em Portugal, o Governo, qualquer que ele seja, pela dívida pública acumulada e pelas incertezas das circunstâncias, estaria sempre sujeito a uma formatação de precaução, mas a ânsia de bom aluno em Bruxelas, tão criticada no passado à direita, é um desastre humanitário, pelo que fustiga das existências humanas e dos ativos económicos.

Olha-se em redor e o país está preso por arames, entre a sobrevivência e a indigência, sufocados pelas circunstâncias da pandemia, da guerra, da inflação e de tantos outros fatores que expõem as fragilidades das vivências individuais e comunitárias. A perenidade da maioria absoluta, garantia de certezas políticas, expressa-se de forma insuficiente, tardia e sem critério, além da fundamentação no risco futuro, na ameaça ou na desculpa alheia, quando não se refugia na criação de um grupo de trabalho, um observatório ou outra solução que encana a perna à rã. É o incontornável desfasamento entre as dinâmicas da sociedade e o tempo de decisão e execução política.

Chegados aqui e confrontados com realidades duras, previsíveis, certamente apreensível nos dados e estudos de centenas de estruturas de planeamento que existem nos departamentos do Estado e nas consultorias que são contratadas por estes privados para tudo e para nada, pergunta-se como é possível não ter antecipado?

Não ter percebido que haveria um tempo de rutura nos especialistas de obstetrícias, por via da reforma e da duração das formações?

Não ter apreendido que também havia constrangimentos com anestesistas, além das dinâmicas do mercado e do privado pagar mais que o Serviço Nacional de Saúde?

Já para não falar no problema demográfico de quem falamos há décadas sem respostas sustentadas e eficaz que não seja facilitar as migrações. Não percecionamos, não antecipamos, mas quando o fazemos não agimos em tempo útil para responder às necessidades, realidades e dinâmicas.

Exceto no turismo, que é o sacrossanto filão das boas contas e tudo justifica.

A Rainha Isabel II morreu, paz à sua alma, o Governo da República decreta três dias de luto nacional, por referência à história e agrado à comunidade britânica.

O artolas que manda na Web Summit, já condecorado pelo Estado português e forrado de recursos financeiros dos nossos impostos, cria uma projeção do evento de Lisboa no Brasil, implodindo a exclusividade, o chico-espertismo é compensado com um reforço de mais de 2 milhões de euros a título de compensação pela inflação.

O outrora filão do alojamento local, a par da incapacidade congénita de concretização dos anúncios de outrora em matéria de residências universitárias, colocam a nu a confrangedora realidade do acesso a um teto para os estudantes universitários deslocados, como acontece com os professores, uns e outros sujeitos a guinadas de vida no espaço de semanas.

Há uma estranha proatividade com tudo o que é do domínio do simbólico, mas em relação à realidade concreta, à necessidade de fazer para responder às pessoas, à economia e aos territórios, não há nem algoritmo nem Governo que nos valha.

E o problema é que outros na Europa não são assim, não têm essa atitude e depois introduzem distorções no funcionamento do mercado comum.

Enquanto Portugal encerrava centrais elétricas a carvão e grandes empresas consumidoras de energia elétrica começavam a ser fustigadas pelos fatores de produção, a Espanha investia em novas metalúrgicas e mitigava os preços da eletricidade. Terá sido mau aluno em Bruxelas? Protegeu a sua capacidade produtiva, além do turismo.

Enquanto Portugal colocava todas as fichas nacionais e europeias para “salvar” a TAP, em Espanha apoiavam-se as diversas empresas do setor aeronáutico, tido como estratégico para as atividades económicas e para a projeção do país. Em Portugal, foi só TAP, que agora se quer privatizar de novo, enquanto se abre espaço para que empresas apoiadas pelos respetivos Estados venham agora comprar ou tomar o lugar de empresas nacionais, expostas à pandemia sem financiamentos, com perda de ativos, de conhecimento e de emprego.

Qual é a sustentabilidade operacional de uma empresa importante para a economia nacional que recebe uma fatura de eletricidade em agosto de 10 milhões de euros, o dobro do que pagou em janeiro e quinze vezes mais do que os valores de 2021?

De que valerá ter sido bom aluno em Bruxelas quando a devastação económica e social assumir expressões incontornáveis, apenas mitigadas por benesses, migalhas e calmantes?

Como é possível termos passado do registo de recursos quase ilimitados da anterior solução governativa, subjacente na narrativa e na ação política, para a certeza da tranquilidade da maioria absoluta e da finitude das disponibilidades.

Há muito que governar deveria ser um exercício sujeito à existência de critério, com verdade, senso, transparência e sentido de compromisso, muito para além da gestão de expectativas, da configuração dos agrados eleitorais ou da gestão do quotidiano. Não o ser só acrescenta risco aos riscos e será poucochinho para Bruxelas, mas é q.b. para a valorização individual no contexto das existências comunitárias em saldo de lideranças.

NOTAS FINAIS

O ESFORÇO DE IMPLOSÃO DA ANMP. Os mesmos partidários que mantêm capturadas Ordens Profissionais e Sindicatos, alheando-os de qualquer esforço de compromisso na construção sensata de soluções, têm em marcha uma estratégia de desgaste e implosão da Associação Nacional de Municípios. Ser parte das soluções, sem fretes num sentido ou noutro, é cada vez mais difícil.

O DRAGÃO E O AMBIENTE. Os acontecimentos com familiares de Sérgio Conceição são mais uma expressão do ambiente gerado à margem do Estado de Direito Democrático. Sacudir a água do capote para a inação das autoridades policiais é, como diz o povo, fazer o mal e a caramunha. No básico dos direitos, liberdades e garantias, não pode haver clubes, latitudes ou terras à margem da lei.

A BANALIZAÇÃO DA MORTE NA PRAIA E NA ESTRADA. Tocados pelo ambiente da pandemia e pelos constrangimentos no acesso à saúde, distraídos pelos excessos televisivos das novas novelas da atualidade, nem se dá pelos recordes de mortalidade nas praias e rios ou pela crescente sinistralidade rodoviária. Somos poucos e tempos poucos, não podemos continuar a desperdiçar vidas.

Escreve à segunda-feira

A insustentabilidade do bom aluno com cábulas


Olha-se em redor e o país está preso por arames, entre a sobrevivência e a indigência, sufocado pelas circunstâncias da pandemia, da guerra, da inflação e de tantos outros fatores que expõem  as fragilidades das vivências individuais e comunitárias.


Agora que o novo letivo começa é tempo de renovadas esperanças, abertas expectativas e novas realidades para alguns, mas, fora do plano escolar ou académico, há coisas que nunca mudam e atitudes que perduram perante a fragilidade dos quotidianos das pessoas, das empresas e das comunidades. É certo que em Portugal, o Governo, qualquer que ele seja, pela dívida pública acumulada e pelas incertezas das circunstâncias, estaria sempre sujeito a uma formatação de precaução, mas a ânsia de bom aluno em Bruxelas, tão criticada no passado à direita, é um desastre humanitário, pelo que fustiga das existências humanas e dos ativos económicos.

Olha-se em redor e o país está preso por arames, entre a sobrevivência e a indigência, sufocados pelas circunstâncias da pandemia, da guerra, da inflação e de tantos outros fatores que expõem as fragilidades das vivências individuais e comunitárias. A perenidade da maioria absoluta, garantia de certezas políticas, expressa-se de forma insuficiente, tardia e sem critério, além da fundamentação no risco futuro, na ameaça ou na desculpa alheia, quando não se refugia na criação de um grupo de trabalho, um observatório ou outra solução que encana a perna à rã. É o incontornável desfasamento entre as dinâmicas da sociedade e o tempo de decisão e execução política.

Chegados aqui e confrontados com realidades duras, previsíveis, certamente apreensível nos dados e estudos de centenas de estruturas de planeamento que existem nos departamentos do Estado e nas consultorias que são contratadas por estes privados para tudo e para nada, pergunta-se como é possível não ter antecipado?

Não ter percebido que haveria um tempo de rutura nos especialistas de obstetrícias, por via da reforma e da duração das formações?

Não ter apreendido que também havia constrangimentos com anestesistas, além das dinâmicas do mercado e do privado pagar mais que o Serviço Nacional de Saúde?

Já para não falar no problema demográfico de quem falamos há décadas sem respostas sustentadas e eficaz que não seja facilitar as migrações. Não percecionamos, não antecipamos, mas quando o fazemos não agimos em tempo útil para responder às necessidades, realidades e dinâmicas.

Exceto no turismo, que é o sacrossanto filão das boas contas e tudo justifica.

A Rainha Isabel II morreu, paz à sua alma, o Governo da República decreta três dias de luto nacional, por referência à história e agrado à comunidade britânica.

O artolas que manda na Web Summit, já condecorado pelo Estado português e forrado de recursos financeiros dos nossos impostos, cria uma projeção do evento de Lisboa no Brasil, implodindo a exclusividade, o chico-espertismo é compensado com um reforço de mais de 2 milhões de euros a título de compensação pela inflação.

O outrora filão do alojamento local, a par da incapacidade congénita de concretização dos anúncios de outrora em matéria de residências universitárias, colocam a nu a confrangedora realidade do acesso a um teto para os estudantes universitários deslocados, como acontece com os professores, uns e outros sujeitos a guinadas de vida no espaço de semanas.

Há uma estranha proatividade com tudo o que é do domínio do simbólico, mas em relação à realidade concreta, à necessidade de fazer para responder às pessoas, à economia e aos territórios, não há nem algoritmo nem Governo que nos valha.

E o problema é que outros na Europa não são assim, não têm essa atitude e depois introduzem distorções no funcionamento do mercado comum.

Enquanto Portugal encerrava centrais elétricas a carvão e grandes empresas consumidoras de energia elétrica começavam a ser fustigadas pelos fatores de produção, a Espanha investia em novas metalúrgicas e mitigava os preços da eletricidade. Terá sido mau aluno em Bruxelas? Protegeu a sua capacidade produtiva, além do turismo.

Enquanto Portugal colocava todas as fichas nacionais e europeias para “salvar” a TAP, em Espanha apoiavam-se as diversas empresas do setor aeronáutico, tido como estratégico para as atividades económicas e para a projeção do país. Em Portugal, foi só TAP, que agora se quer privatizar de novo, enquanto se abre espaço para que empresas apoiadas pelos respetivos Estados venham agora comprar ou tomar o lugar de empresas nacionais, expostas à pandemia sem financiamentos, com perda de ativos, de conhecimento e de emprego.

Qual é a sustentabilidade operacional de uma empresa importante para a economia nacional que recebe uma fatura de eletricidade em agosto de 10 milhões de euros, o dobro do que pagou em janeiro e quinze vezes mais do que os valores de 2021?

De que valerá ter sido bom aluno em Bruxelas quando a devastação económica e social assumir expressões incontornáveis, apenas mitigadas por benesses, migalhas e calmantes?

Como é possível termos passado do registo de recursos quase ilimitados da anterior solução governativa, subjacente na narrativa e na ação política, para a certeza da tranquilidade da maioria absoluta e da finitude das disponibilidades.

Há muito que governar deveria ser um exercício sujeito à existência de critério, com verdade, senso, transparência e sentido de compromisso, muito para além da gestão de expectativas, da configuração dos agrados eleitorais ou da gestão do quotidiano. Não o ser só acrescenta risco aos riscos e será poucochinho para Bruxelas, mas é q.b. para a valorização individual no contexto das existências comunitárias em saldo de lideranças.

NOTAS FINAIS

O ESFORÇO DE IMPLOSÃO DA ANMP. Os mesmos partidários que mantêm capturadas Ordens Profissionais e Sindicatos, alheando-os de qualquer esforço de compromisso na construção sensata de soluções, têm em marcha uma estratégia de desgaste e implosão da Associação Nacional de Municípios. Ser parte das soluções, sem fretes num sentido ou noutro, é cada vez mais difícil.

O DRAGÃO E O AMBIENTE. Os acontecimentos com familiares de Sérgio Conceição são mais uma expressão do ambiente gerado à margem do Estado de Direito Democrático. Sacudir a água do capote para a inação das autoridades policiais é, como diz o povo, fazer o mal e a caramunha. No básico dos direitos, liberdades e garantias, não pode haver clubes, latitudes ou terras à margem da lei.

A BANALIZAÇÃO DA MORTE NA PRAIA E NA ESTRADA. Tocados pelo ambiente da pandemia e pelos constrangimentos no acesso à saúde, distraídos pelos excessos televisivos das novas novelas da atualidade, nem se dá pelos recordes de mortalidade nas praias e rios ou pela crescente sinistralidade rodoviária. Somos poucos e tempos poucos, não podemos continuar a desperdiçar vidas.

Escreve à segunda-feira