Mais logo, pelas 20h00 de Portugal continental, a cerca de 785 quilómetros de Kiev, em Lodz, na Polónia, o Dínamo de Kiev recebe o Benfica na que é primeira mão da última oportunidade para ambos de atingirem a fase de grupos da Liga dos Campeões, dois clubes que, curiosamente, se encontraram na última época nessa mesma fase de grupos, com vantagem para os encarnados: 0-0 e 2-0.
Mais cansados de guerra do que a Tereza Batista de Jorge Amado, os dirigentes do Dínamo têm escolhido o Wladyslawa Króla para palco dos seus confrontos internacionais, e já aqui defrontaram os seus dois últimos adversários destas pré-eliminatórias, primeiro o Fernerbahçe (agora de Jorge Jesus), com um empate a zero (vitória em Istambul por 2-1), e em seguida o Sturm Graz (1-0, e nova vitória fora por 2-1).
Por causa dos indispensáveis patrocínios, o estádio tem como nome oficializado Miejska Arena Kultury i Sportu w Lodzi Sport e capacidade para 18 mil espectadores. Um número mais do que suficiente para os ucranianos que, vendo bem, jogam tão fora como o Benfica. Lodz, por seu lado, é a terceira cidade da Polónia, após Varsóvia e Cracóvia, possui cerca de 680 mil habitantes e a palavra quer dizer “barco”, em polaco. Mera curiosidade, obviamente, mas que seria das prosas sem o seu toque lúdico?
Quando falamos do Dínamo de Kiev, um clube com uma história de peso no futebol internacional, referimo-nos hoje em dia a uma equipa de párias, obrigada pela estupidez inumana da guerra a desperdiçar o seu tempo em jogos particulares de maneira a manter o mínimo de competitividade para disputar os encontros internacionais em que está envolvida já que o campeonato da Ucrânia se encontra suspenso. E, se isto não é uma clara vantagem para os encarnados, desculpem lá, mas faço como o Mário Henrique Leiria e vou ali e já venho.
Apesar da forma como, sobretudo em terreno alheio, despachou turcos e austríacos, este (sublinha-se este) Dínamo está, indiscutivelmente, muitos furos abaixo do que pode apresentar o actual Benfica do alemão Schmidt, e mesmo que possa dar-se ao luxo de apresentar no banco um grande senhor do futebol como o romeno Mircea Lucescu, entra para este confronto sem pinga de favoritismo.
Personalidade Tal como escrevemos aqui antes da eliminatória entre Benfica e Midjytilland, o Benfica tem de olhar sobretudo para si próprio e para as dinâmicas que Schmidt tem vindo a implantar num conjunto que há meia-dúzia de meses se arrastava vergonhosamente pelos estádios do país, exibindo um desleixo e um desinteresse impróprios de profissionais que vestem a camisola com a águia do lado esquerdo do peito, precisamente aquele onde bate o coração.
Será através do aproveitamento das suas maiores qualidade e na dissimulação das suas apesar de tudo ainda evidentes fragilidades que o Benfica resolverá (ou não) este problema ucraniano ainda que, pessoalmente, seja de opinião de que terá de o fazer até mais facilmente do que possa parecer à primeira vista.
A exibição recente e pobretanas contra o Casa Pia trouxe de novo à superfície a escassez de unidades que sejam capazes de, verdadeiramente, dar velocidade e repentismo ao conjunto quando este se vê perante adversários muito fechados. João Mário só tem um ritmo (uma razão para entender a teimosia de Schmidt em querer Horta), o furacão Darwin mudou-se para Liverpool, Rafa tanto aparece como desaparece.
O plantel parece curto neste aspecto, a menos que Moreira expluda sem darmos por ela, e é ainda muito jovem. Junte-se-lhe a forma como os golos sofridos pelos encarnados têm algo de infantil – tal como voltou a acontecer na Dinamarca – com muito espaço concedido a muito poucos adversários, para sermos concretos na assunção de que é preciso ainda bastante trabalho para vermos no Benfica um verdadeiro candidato à vitória quando os adversários forem de outra dimensão, exigindo, se calhar, algo que ainda não pode oferecer aos seus adeptos.
Para já, não é o caso. Mais uma vez, a águia vai estar frente a frente com um opositor menor, suportem lá a franqueza como entenderem, e com a obrigação natural de abrir caminho até à fase de grupos. Algo que a não acontecer seria imperdoável, mesmo que, insisto, o grupo encarnado continue a precisar de um ou dois autênticos reforços. E de não deixar sair gente com a importância de Gonçalo Ramos. Há ainda muita outra enxúndia para tirar, como escrevia O’Neil. Deixem lá estar quem tem sido fundamental.