CGD. Polémica estala com fecho de balcões apesar de aumento de lucros

CGD. Polémica estala com fecho de balcões apesar de aumento de lucros


PCP está contra e já convocou concentração para dia 19, em Almada. Comunistas dizem que decisão coloca em causa o futuro dos trabalhadores da Caixa e “demonstram a opção de desvalorização do banco público português por parte do Governo PS, ao mesmo tempo que transfere milhões para salvar a banca privada”. 


Paulo Macedo assumiu as rédeas da Caixa Geral de Depósitos em fevereiro de 2017 com uma tarefa pela frente: recapitalizar o banco público, visto por muitos como uma oportunidade que não poderia ser desperdiçada. A capitalização previa a injeção de 2700 milhões em dinheiro vindo do Estado, mais 500 milhões em obrigações, mas como moeda de troca está prevista a saída de 2200 trabalhadores e o encerramento de 180 balcões. O plano foi concluído com sucesso e o gestor foi reconduzido para um novo mandato. 

Longe vão os tempos em o banco público dava prejuízos atrás de prejuízos – o tal petroleiro como chegou a ser classificado pelo antigo CEO José de Matos – e neste primeiro semestre voltou a ser o campeão dos lucros, ultrapassando mesmo os privados ao apresentar um resultado de 486 milhões de euros, um crescimento de 65% face ao primeiro semestre de 2021, uma evolução que “reflete um menor custo do risco de crédito no período após a fase mais aguda da pandemia covid-19 e a venda de alguns activos não core”. (ver infografia)

Mas a polémica voltou a estalar em torno do banco público com a decisão de fechar já este mês 23 balcões. A denúncia chegou por parte do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do grupo CGD (STEC) e que irá afetar as regiões de Lisboa e Porto, mas também Coimbra e Ílhavo. “Com estes encerramentos, de que se desconhecem outros motivos que não seja a intenção de reduzir despesas, mesmo à custa da desvalorização da capacidade da CGD enquanto banco público, não podemos deixar de registar, em simultâneo, um inevitável congestionamento dos restantes Balcões dessas áreas, apesar destes já não conseguirem atualmente dar uma resposta adequada ao serviço, nomeadamente por decréscimo de trabalhadores (de 2012 a 2022 saíram da CGD mais de 3300 trabalhadores)”, diz Pedro Messias (ver páginas 4/5).

O responsável diz ainda que “não basta apregoar a defesa da CGD como banco público e receber as centenas de milhões de dividendos gerados pelo esforço dos seus trabalhadores, é fundamental que o Estado defina as orientações estratégicas que o banco deve assumir, nomeadamente as suas responsabilidades quanto ao interesse público e às necessidades das populações, assegurando-lhes um serviço de proximidade e de qualidade”.

Em março deste ano, Paulo Macedo tinha defendido uma banca alinhada com o que as pessoas querem e não uma banca com uma estrutura grande. “O mais importante é responder às necessidades das pessoas e são cada vez mais as que não querem ir ao balcão, mas preferem outras formas de contacto”, disse no Parlamento. Agora na apresentação de resultados dos primeiros seis meses do ano não deu uma palavra em relação ao futuro da estrutura do banco público.

Protestos já agendados O PCP já se manifestou contra o encerramentos destes balcões, lembrando que muitos deles “cobrem extensas áreas de bairros ou freguesias, ficando a população praticamente sem alternativas a uma distância razoável”. E dá como exemplo algumas agências que irão encerrar: “Até ao dia 23 de agosto, nove balcões de atendimento na Cidade de Lisboa vão encerrar, comprometendo assim o serviço público de proximidade prestado pelo banco público português. Tratam-se das agências da António Augusto Aguiar, do Areeiro, da Duque de Loulé, do Príncipe Real, de Santo Amaro, da Praça de Londres, da Francisco Manuel de Melo, do Rego e da Quinta dos Inglesinhos”, revelando que está em “total discordância com esta política de encerramento de balcões da CGD que a concretizar-se, irá afetar a população, o tecido económico e social (comércio tradicional, micro e pequenas empresas), na cidade de Lisboa”.

De acordo com os comunistas não há margem para dúvidas: “A Câmara Municipal de Lisboa não pode ficar indiferente à intenção de encerramento dos balcões da CGD e tem que salvaguardar os interesses de quem vive, trabalha, estuda ou visita Lisboa”, lembrando que, desde 2017, a CGD encerrou em Lisboa cerca de 30 balcões, “prejudicando claramente a população”.

O PCP diz ainda que estes encerramentos também põem em causa o futuro dos trabalhadores da CGD, “demonstram a opção de desvalorização do banco público português por parte do Governo PS, ao mesmo tempo que transfere milhões para salvar a banca privada”.

E face a esse cenário apela à mobilização da população da cidade de Lisboa para protestar contra o encerramento destes balcões da CGD. Já marcada está uma concentração para o dia 19 de agosto, em Almada, contra o encerramento de uma das agências.