Cavaco Silva “fala sempre com um sentimento de azedume e ressentimento perante o país. Eu tenho muita esperança no país que temos”. Foi desta forma que Ana Catarina Mendes reagiu ao artigo de opinião do ex-Presidente da República, no qual faz várias críticas aos governos socialistas liderados por António Costa.
A ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares criticou ainda o ex-chefe de Estado por não dizer nesse artigo o que quer para o país. “Limita-se a dizer que está tudo mal. E, por isso, há algum despeito com a maioria absoluta” socialista, disse em entrevista ao Jornal de Notícias e à TSF.
E garantiu que se filiou no PS “porque tinha uma opinião crítica das políticas” do então primeiro-ministro social-democrata. “Filiei-me no Partido Socialista precisamente porque tinha uma opinião crítica das políticas de Cavaco Silva e não me esqueço do professor Cavaco Silva. Só posso interpretar [nesta entrevista] como faz falta uma oposição forte em Portugal, estará com saudades da política, ou não consigo perceber”, afirmou.
Quanto a uma oposição levada a cabo pelo ex-chefe de Estado, a ministra indicou que “não é um artigo ou outro, a espaços, que faz a oposição” e “o que é preciso é uma oposição forte que demonstre o que quer para o país”, não sendo isso, na sua opinião, “o professor Cavaco Silva faz”.
Também no sábado, o Presidente da República comentou mesmo artigo. Marcelo frisou que um ex-Presidente “não perde a sua cidadania” e, por isso, “exerce-a como entende”.
Num artigo em forma de carta aberta a António Costa, intitulado “Fazer mais e melhor do que Cavaco Silva”, o ex-chefe de Estado felicitou António Costa pela maioria absoluta do PS nas legislativas de 30 de janeiro, passados quatro meses, pedindo desculpa pelo atraso. E depois recordou o período em que governou também com maioria absoluta – entre 1987 e 1995 – desafiando o primeiro-ministro a “fazer mais e melhor” nesta legislatura com as condições de que dispõe.
O antigo presidente de PSD reclamou ter governado com “muita persistência” e “espírito de diálogo” para estabelecer “consensos importantes” com a oposição, destacando as revisões constitucionais de 1989 e 1992, e com “intenso, profundo e frutuoso diálogo” com os parceiros sociais, referindo que “foram assinados quatro acordos de concertação social”. Cavaco Silva associou ainda a governação até agora de António Costa a uma “asfixia da democracia” e à ideia de que, “para os socialistas, o Estado é deles”.