A pouco mais de duas semanas para as eleições diretas do PSD, os dois candidatos fazem fortes críticas à atuação do Governo. Luís Montenegro acusou o Executivo de “assobiar para o ar” e de “insensibilidade social” face à “inflação galopante”, defendendo a necessidade de um “programa de emergência social”.
E questiona: “Seis anos depois, o que é que ele tem para dar ao país? Não temos bancarrota, é verdade. Um pântano, já é assim um bocadinho mais duvidoso, porque vamos tendo aqui algumas situações pantanosas. Agora, já sabemos que temos a maior carga fiscal de sempre: nunca os portugueses pagaram tantos impostos como pagam hoje”.
O antigo líder da bancada parlamentar do PSD sustentou que o tema da carga fiscal é “muito, muito, muito atual” porque, apesar de os portugueses darem ao Estado “a maior parte” dos seus recursos, os serviços públicos “sofreram o maior desinvestimento desde o 25 de Abril”, e porque se vive “um drama que, quem defende os trabalhadores (…) não pode ignorar”, acrescentando que “o Governo não está a ter sensibilidade social para olhar para este drama que vai chegar à vida quotidiana, que já está a chegar à vida quotidiana dos portugueses”.
Face a este cenário, Montenegro pede uma resposta por parte do Executivo atendendo à subida dos preços, lembrando que deve estimar uma taxa de inflação de 4% para 2022, esse valor “não tem a mesma repercussão consoante os setores e os bens” abordados. E vai mais longe: “Há muitas famílias que não vão ter rendimentos para pagar as despesas básicas do dia a dia, há muitas famílias que trabalham que vão ter dificuldade em poder suprir as despesas que estão indexadas àquilo que é o seu quotidiano”, perspetivou.
De acordo com o candidato à liderança do PSD é “prioritário que haja um programa de emergência social, que reforce o apoio às famílias mais carenciadas e aos trabalhadores cujo rendimento não vai chegar para pagar as despesas do dia-a-dia”.
Também Jorge Moreira da Silva fala de “embuste” e de o Governo ter violado a reforma da fiscalidade verde, encaixando uma receita fiscal de mil milhões de euros, “que tem de ser devolvida”, dando como exemplo, a sua experiência enquanto ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia do Governo de Passos Coelho. “As pessoas tiveram uma redução do imposto do IRS” de 150 milhões de euros, “através das receitas que foram alcançadas pela taxa do carbono, a taxa dos sacos de plástico, a taxa sobre a deposição de resíduos em aterro, a taxa sobre os recursos hídricos”.
E acrescentou: “A lógica era tributar mais aquilo que é mau – a poluição – para tributar menos aquilo que é bom – que é o trabalho, o IRS – e funcionou. E até pusemos uma norma – o artigo 50 da reforma da fiscalidade verde – que tornava obrigatória a neutralidade fiscal”, referiu.
Segundo o candidato à liderança do PSD, desde que os socialistas substituíram os sociais-democratas no Governo, em 2015, “isso está a ser violado de forma grosseira”. Moreira da Silva acusou os Executivos do PS de terem mantido a taxa de carbono, mas eliminado a descida do IRS, “encaixando receita”. E foi mais longe: “O Governo tem mil milhões de euros que são nossos, que são vossos, e que têm de ser devolvidos. Aquilo que, de uma forma grosseira, foi feito pelo Governo durante os últimos seis anos – que foi violar o artigo 50 da reforma da fiscalidade verde – traduz-se num embuste e numa falta de respeito pelos trabalhadores portugueses”.
Confiante nos resultados Moreira da Silva manifestou-se ainda “muito confiante” na vitória nas eleições no dia 28, dada a recetividade que tem sentido durante a campanha pelo país. “Estou mesmo muito confiante, porque noto que, com apenas duas semanas de campanha, existem níveis de adesão, de participação e de empatia, muito significativos”, disse o ex-ministro social-democrata no final de uma sessão de campanha, em Faro.
Ao Nascer do SOL, José Ribau Esteves que chegou a ponderar avançar com uma candidatura à liderança do PSD por entender que o partido precisa “de uma profunda mudança e reforma”, mas que desistiu por achar que seria preciso mais tempo e mais trabalho, ainda não decidiu se apoiará Moreira da Silva, garantindo que tudo está dependente de uma conversa que deverá realizar-se esta semana. Ainda assim, lamenta: “Estas duas candidaturas não têm força para mobilizar o PSD”, considerando que o partido anda “há muito tempo em lutas internas, algumas delas violentas, principalmente aquelas que aconteceram num passado mais recente”, o que, na sua opinião, acabou por se refletir nos resultados das últimas eleições.