Energia. UE paga “preço elevado” por “falta de coragem” para reformas

Energia. UE paga “preço elevado” por “falta de coragem” para reformas


 Europa atravessa uma “grave” crise energética que está a ser agravada pelo conflito na Ucrânia.


Para o ex-presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), a União Europeia está a pagar um “preço elevado” pela “falta de coragem” e “vontade” para introduzir atempadamente as reformas necessárias no mercado energético. “Estamos a pagar um preço elevado pela falta de coragem, pela falta de vontade para introduzir a tempo as reformas necessárias”, afirmou Jorge Vasconcelos, referindo-se ao funcionamento dos mercados de eletricidade e gás natural na União Europeia (UE), durante a sua participação na conferência “A Energia no novo mapa geopolítico”, onde participaram também o presidente executivo da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, e o CEO da GreenVolt, João Manso Neto.

De acordo com o responsável, a Europa atravessa uma atual crise energética que está a ser agravada pelo conflito na Ucrânia, dado o papel preponderante da Rússia na exportação de gás natural, “estava anunciada”, porque o mercado “está disfuncional”. E lembrou que a União Europeia “aumentou voluntariamente a sua dependência energética da Rússia”, o que “foi muito infeliz”, “imprudente” e “não era necessário em todos os vetores”, sobretudo não no carvão nem no petróleo.

Já em relação ao gás natural, os três participantes defenderam que terá um papel preponderante na transição energética, pelo menos até 2030, mas Jorge Vasconcelos considerou que há “um erro conceptual na forma como tem sido gerido”.
Segundo Jorge Vasconcelos, “esta situação [Ucrânia-Rússia] veio revelar com muita crueza défices que existiam no funcionamento dos mercados de energia”, acrescentando esperar que a atual crise energética “seja o que faltava para que os decisores políticos assumam de uma vez por todas reformas estruturais profundas nos mercados da UE”, que garantam “preços razoáveis” e “segurança” de abastecimento.

Para Jorge Vasconcelos não há dúvidas: A UE deve “finalmente, falar a uma só voz” e não “comprar gás natural como quem compra vacinas”, mas sim repensar os mercados de eletricidade e gás natural que estão disfuncionais e “estabelecer relações políticas de médio e longo prazo”, nomeadamente com países do Médio Oriente e África, fazendo um esforço diplomático complementar para poder competir com a China nesses mercados.