O Governo apresentou o novo programa e inicia-se a nova legislatura no meio de um clima de incerteza e de uma guerra que mostra a cada dia como o ódio e a crueldade não têm limites e que terá de levar a Europa a avançar com novas sanções, com todos as consequências que isso implica, sob pena de reduzir a meras palavras a condenação de atos bárbaros contra civis. E de a Europa da paz e do humanismo se apagar, enquanto se fica à espera de um julgamento internacional, que terá o seu tempo.
Todos os desenvolvimentos comprometerão a ação política e desviam as atenções do que é mais premente em cada país. O desafio será manter o foco e definir prioridades, sem guerrilhas desnecessárias mas também sem as propagandas inúteis que se criticam numa guerra estéril mas que se perpetuam. Nem tudo é mau, mas há muito que não está bem. A Educação e Saúde públicas, que permitiram em quase 50 anos de democracia a Portugal ser o país desenvolvido que é hoje, estão num momento especialmente delicado, porque os modelos antigos já não servem, porque as necessidades são outras, porque as desigualdades crescem de novo, as máquinas são pesadas, porque os problemas se avolumam. As pessoas estão desmotivadas porque não se sentem a cumprir o seu dever em pleno e não veem futuro – basta ouvir os professores neste final de período. Escolho dois grandes números: mais de um milhão de portugueses sem médico de família – a meta exausta que o Governo agora deixou cair – e 100 mil alunos que poderão não ter professores para todas as disciplinas já no próximo ano, segundo um cenário traçado há dias por uma ex-dirigente do Ministério da Educação. Um ministério que tem sido parco nas explicações sobre o que tenciona fazer, esperando-se que o novo ministro, que muitos elogiavam por ser operacional, assuma um plano. Da mesma forma que se elogia a capacidade de trabalho de Marta Temido, perante todas as adversidades da pandemia, e que agora terá de fazer. Estes são números incontornáveis: podem não ter a solução que se imaginava há uns anos, mas não são compatíveis nem com uma escola pública universal nem com um sistema de saúde público universal, que é o que está em risco e já comprometido para muitos. É preciso resolvê-los.