A maioria dos deputados com assento parlamentar não aprendeu nada com as eleições de 30 de janeiro e demonstrou-o bem ontem, ao chumbar os candidatos do Chega e do Iniciativa Liberal para vices-presidentes da AR. E penso que houve misturas de sentimento na votação: inveja e burrice, no caso de João Cotrim Figueiredo, e cegueira no caso do Chega. Se até se percebe que Diogo Pacheco Amorim não seja um candidato que mereça muita simpatia pelos seus pares, o que dizer do chumbo a Gabriel Mithá Ribeiro, filho de uma mãe islâmica, com ascendência africana, indiana e síria, segundo a wikipédia? Quererão os deputados dizer que Gabriel Mithá Ribeiro é de extrema-direita? O seu currículo como professor universitário – mestre e doutorado em estudos africanos pelo ISCTE – é assim tão desprezível? Dos seus textos que li no Observador não fiquei nada com essa ideia. Mas a resposta é simples: pertence ao Chega, algo comparado pela maioria dos deputados como tendo lepra. Resumindo: olhou-se ao partido e não à pessoa.
Acontece que o partido de André Ventura é a terceira força política eleita pelos portugueses e, como tal, teria todo o direito a ter um vice-presidente da AR. Talvez mais escandaloso seja mesmo o chumbo de João Cotrim Figueiredo, revelando a votação que, no PS, houve alguns que votaram contra – votaram branco ou nulo. Curiosamente, em todas as votações houve seis votos nulos… De quem serão?
E o que dizer da candidata do PS, Edite Estela, que teve menos 31 votos do que Adão Silva, o nome proposto pelo PSD? A ‘senadora’ do PS, uma socrática convicta, viu o seu nome nas últimas semanas envolto em polémica por causa da Lei da Nacionalidade, de que foi autora. Se a votação fosse racional, seguramente que o candidato do Iniciativa Liberal teria tido muitos mais votos que Edite Estrela. Mas a cegueira política só dá gás ao Chega e ao Iniciativa Liberal, mostrando como o povo pensa de maneira diferente dos parlamentares. Vinte deputados eleitos não têm direito a um vice-presidente do Parlamento? Insólito.