A turbulência continua a marcar o quotidiano guineense, depois do golpe de Estado falhado na semana passada, com organizações civis a afirmar que se sentem abandonadas perante um «clima de terror».
«Estamos perante um Estado, que para além de não estar em condições de garantir segurança às pessoas, ainda permite que os seus meios e os seus agentes sejam utilizados para criar um clima de terror e de medo. Há uma sensação de insegurança, de terrorismo, em que todo o mundo está vulnerável e indefeso neste momento», observou Fodé Mané, em declarações à Lusa.
Estas afirmações chegam uma semana depois do golpe de Estado que, segundo o governo da Guiné-Bissau, vitimou 11 pessoas, entre civis, polícias e militares, assim como vários seguranças da mais alta confiança do Presidente Umaro Sisso Embaló, assassinados durante o assalto ao Palácio do Governo da Guiné-Bissau, avançou uma fonte próxima ao Nascer do SOL.
O edifício foi cercado, entre fogo de bazuca e tiros de metralhadora, em pleno Conselho de Ministros, com a presença do Presidente e do primeiro-ministro Nuno Nabiam. Ambos foram feitos reféns, com vários ministros, funcionários e jornalistas, a quem foram confiscados os telemóveis, num impasse que durou quase cinco horas, sendo finalmente libertados por volta das 18h, avançou a Rádio Sol Mansi.
Depois disso, o clima na capital tem estado tenso. Na passada segunda-feira, a Rádio Capital, com uma postura crítica do Governo guineense, foi alvo de um ataque por homens armados e de rosto tapado, provocando pelo menos setes feridos, alguns deles em estado grave.
Segundo relatos partilhados com o Nascer do SOL, vários jornalistas e funcionários, aterrorizados, saltaram pela janela para tentar escapar, enquanto os atacantes disparavam para o ar e invadiam a rádio, vandalizando as instalações e ordenando a toda a gente que se deitasse no chão.
«Fugi logo», contou ao Nascer do SOL um dos jornalistas da Rádio Capital, pedindo anonimato por temer represálias. «Mas houve colegas que reconheceram um dos carros de onde eles saíram, era da Presidência», continuou, apontando o dedo ao Presidente Umaro Sissoco Embaló, que, menos de uma semana após sobreviver à tentativa de golpe de Estado, é acusado de usar essa tragédia como pretexto para escalar a repressão contra a imprensa.
Esta não é a primeira vez que a Rádio Capital é alvo de ataque por parte de homens armados. Da última vez, em julho de 2020, atacantes usaram uniformes da polícia, tendo vandalizado as instalações e roubado materiais como computadores, denunciou na altura presidente do Sindicato dos Jornalistas da Guiné-Bissau, Indira Correia Baldé.