A morte do CDS, afinal, não foi manifestamente exagerada

A morte do CDS, afinal, não foi manifestamente exagerada


Do ‘partido do táxi’ a partido que já nem precisa de se mexer. Haverá esperança para o CDS?


“Você vale um deputado, e vamos ver quanto é que vai valer nas eleições legislativas” é, certamente, a frase que pior envelheceu nestas eleições. Disse-a Rodrigues dos Santos a André Ventura. Hoje, no rescaldo destas, fica então claro que um esquadrão de cavalaria à desfilada não esbarrará contra um deputado do CDS, a passo que na bancada do Chega esbarrará contra 12.

O CDS-PP prometia “surpreender” porque está “habituado a ressuscitar nas urnas”. A sua morte havia sido “manifestamente exagerada”, ouvia-se  com frequência. Apesar do seu conservadorismo prever um certo carinho pelos hábitos e tradições, desta vez não se cumpriram.  Já em 1987 e 1991, sob as lideranças de Adriano Moreira e Freitas do Amaral, contava-se os deputados por uma mão. Era o ‘partido do táxi’, riam-se todos.

Depois, com Monteiro e Portas, voltaria a subir o número, sendo preciso uma camioneta. Seguiu-se Cristas, que voltou a baixar a crista ao partido. E Rodrigues dos Santos, por fim, viu o número ser ‘zerado’. Absolutamente ‘zerado’. Em abono da verdade, note-se, também, que o método de Hondt revelou-se implacável para o partido: é que o CDS até teve maior percentagem de votos do que os eleitos PAN e Livre (quase mais 20 mil votos do que o último), só que o facto dos seus votos serem mais dispersos geograficamente prejudicou-os em termos de mandatos.

Carlos Guimarães Pinto, recém-eleito deputado da IL, notou o tema no Twitter: “Se tivéssemos um sistema verdadeiramente proporcional, o CDS elegeria 3 deputados. (…). Um partido com quase 90 mil votos não ter representação parlamentar não faz sentido”. E assim, ao fim de 47 anos, o conservadorismo clássico ficou sem representação parlamentar. O partido que outrora sentou 46 deputados, hoje não senta um. O partido que outrora co-governou um país, hoje nem a própria casa parece conseguir governar.

“Para consolo dos que ficam, rezemos pelos que nos deixam nesta hora de pesar. Paz à sua alma, que descanse a Comissão Política Nacional do CDS-PP e o seu excelso «presidente». Do teu irmão desaparecido, da tua prima modernaça, e do teu primo sem maneiras”. Foi esta a mensagem fúnebre que ornamentava a coroa de flores depositada, ontem à noite, num banco em frente à sede do CDS-PP.

Um ato simbólico: que com o tempo poder-se-á provar menos brincadeira e mais verdade irrevogável. Francisco Rodrigues dos Santos demitiu-se – “não há duvidas de que deixei de reunir condições de liderar o CDS” – e desabafou: “Nunca tive tréguas dos meus opositores internos, fosse nas televisões, fosses nos jornais, fosse nas redações, e isso obviamente tornou a minha vida como presidente do partido muito limitada”. Mas nem por isso baixou as armas: “Serei sempre do CDS, estarei sempre ao lado do meu partido neste seu recomeço, e nesse caminho enquanto houver estrada para andar – e o nosso partido terá muita – poderão sempre contar comigo: pois nunca farei aos outros o que me fizeram a mim”. 

Os fantasmas do Caldas agitam-se: segue-se o congresso em março, com os nomes de Nuno Melo e Filipe Lobo d’Ávila a serem apontadas à sucessão. Conseguirá o CDS um dia voltar à casa que o viu nascer? Ou revelou-se, afinal, o anúncio da sua morte manifestamente exato?