Costa e Rio. O filho das letras e o filho dos números

Costa e Rio. O filho das letras e o filho dos números


António Costa ou Rui Rio: um deles será o próximo primeiro-ministro de Portugal. Apesar de um perfil diferente, as carreiras políticas são bastante idênticas: resistência ao Regime, associativismo estudantil e edilidade. Partilham, também, a ausência dos irmãos que perderam para a morte.


Um filho das letras, outro filho dos números. Um de ascendência goesa, outro com influências germânicas. Um formado em Direito, outro formando em Economia. Um esquerdista aguçado, outro social-democrata. Ambos autarcas de prestígio: cada um na cidade que os viu nascer. Ambos na resistência ao Estado Novo. Ambos no associativismo estudantil. Ambos conhecedores da dor que a morte de um irmão pode trazer a uma família.

António Costa e Rui Rio são os atuais pais das duas maiores famílias portuguesas: o Partido Socialista e o Partido Social Democrata. Apesar de Rio ser mais velho quatro anos, pertencem à mesma geração. Viram cair o regime e contribuíram para isso. Hoje são os dois principais candidatos a primeiro-ministro: uma batalha que, em 2019, teve o seu primeiro round – vencido por António Costa.

Passados cerca de dois anos e meio, é tempo de um segundo round. Round esse que surge numa altura de crescente popularidade da Direita, que surge embalada da vitória de Moedas sobre Medina na Câmara Municipal de Lisboa. 

António Costa e Rui Rio, são, naturalmente, diferentes. Desenvolvem-se e formam-se como homens em espaços diferentes, quer política quer geograficamente. António nasce numa família da elite goesa, sendo os seus pais intelectuais de esquerda: Orlando Costa, escritor comunista, Maria Palla, feminista, jornalista que cobriu a Guerra Colonial. Rui Rio nasce numa família de classe média, cujo líder – o pai – tinha um fascínio pela capacidade regeneradora da Alemanha pós-guerra. Um cresce numa Lisboa pintada de vermelho, outro cresce num Porto mais conservador. Os dois fizeram do combate ao Salazarismo uma causa sua. António Costa, em Lisboa, colava cartazes. Rio, no Porto, ia a reuniões que conspiravam contra o regime. Chegando à jovem-adultice, ambos presidem às Associações de Estudantes das respetivas faculdades: de Direito, em Lisboa, por parte de António; de Economia, no Porto, por parte de Rio. Ao mesmo tempo, começavam a cavalgar as juventudes partidárias: socialista, por parte de António; social-democrata, por parte de Rio. As suas entradas na Assembleia da República dão-se ao mesmo tempo: inícios da década de 90. Já na década de 2000, a proximidade dos respetivos percursos ganha ainda mais músculo: Costa, em 2007, preside à Câmara Municipal de Lisboa, onde fica por sete anos; Rio, em 2002, preside à Câmara Municipal do Porto, onde fica por treze.

Além de todas as parecenças entre os respetivos percursos cívicos ou políticos, há um outro acontecimento pessoal que os aproxima. Tanto António Costa como Rui Rio não têm hoje irmãos que podiam ter. Antes de António Costa nascer, os seus pais viram morrer uma irmã sua, com três anos de idade, num acidente de viação. Já Rui Rio chegou a conhecer o seu irmão – mais novo –, cuja vida foi levada por uma leucemia, com apenas cinco anos. “Uma brutalidade”, recorda.

São estes os percursos pessoais e políticos dos dois homens à bica para governar Portugal a partir de dia 30. O i recorda-os do berço, passando pela escola – alemã, para Rio, e potencial palco discriminatório, para Costa –, pela adolescência, pelo início da vida adulta e pelas conquistas políticas. Um de letras, outro de números. Tiveram vidas praticamente paralelas, em pistas diferentes. Hoje, as pistas ainda diferem, contudo, a meta é comum: governar Portugal.

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