Operação Miríade. CEMGFA optou por não avisar Belém

Operação Miríade. CEMGFA optou por não avisar Belém


O CEMGFA poderia ter avisado o chefe da Casa Militar de Marcelo mas optou por não o fazer. E ex-governante não acredita que Costa não estava a par de tudo.


O chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), almirante António da Silva Ribeiro, terá optado por não comunicar à Presidência da República a informação sobre o tráfico português de diamantes, ouro e drogas na RCA, apurou o i junto de uma fonte em Belém. Embora convencionalmente o CEMGFA deva comunicar em primeira instância ao ministro da Defesa, em casos excecionais – graves, que se justifiquem –, este deve comunicar diretamente ao chefe da Casa Militar do Presidente da República (vice-almirante Sousa Pereira). Ao que o i apurou, o almirante Silva Ribeiro, aquando munido da informação, optou por não o fazer. À época – dezembro de 2019 – avisara apenas João Gomes Cravinho, falando-lhe ainda da sua intenção de comunicar o caso à Polícia Judiciária Militar (PJM). Segundo Cravinho e o almirante Silva Ribeiro, por esta data, havia apenas referências a atividade ilícita de “dois militares”.

E se por um lado é bastante provável que Marcelo não estivesse, de facto, a par do assunto, por outro torna-se improvável que Costa não estivesse, de facto, a par do assunto. Em conversa com o i, um ex-ministro explica ser prática comum dos governos comunicar-se estes assuntos informalmente para depois, formalmente, poder-se dizer que não houvera qualquer comunicação. Isto é: segundo este ex-ministro, há altas probabilidades de o ministro da Defesa ter efetivamente comunicado a situação a António Costa – mas em ‘off’. Assim, apesar de Costa estar a par do assunto, o primeiro-ministro poderia alegar em público nada saber sobre ele. Segundo esta fonte, se assim não tivesse acontecido e Costa tivesse sido verdadeiramente informado pela comunicação social, a esta hora Cravinho já teria sido demitido.

Mas não foi, embora este não seja o primeiro escândalo grave que assola o ministro. O último, foi, aliás, nem há dois meses, tendo que ver com a trapalhada da nomeação de Gouveia e Melo para chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA). E quem fez questão de o recordar, ontem, foi o líder do CDS, Rodrigues dos Santos, notando existir há já “algum tempo” uma “desarticulação e dificuldade de diálogo institucional entre o ministro da Defesa, o primeiro-ministro e o senhor Presidente da República”. Aproveitou, ainda, para classificar o imbróglio da nomeação do CEMA como uma “cacofonia de desmentidos que ainda hoje ninguém percebeu em concreto o que é que aconteceu”.

Ao Observador, Berta Cabral, ex-secretária de Estado da Defesa do Governo PSD/CDS-PP, concordou com a opinião de Rodrigues dos Santos, afirmando que João Cravinho tinha a “obrigação” de informar o Presidente da República acerca da investigação aos militares. “É absolutamente incompreensível [face a uma] relação institucional e leal que tem de haver permanentemente entre membros do Governo – portanto o ministro e o primeiro-ministro – e entre órgãos de soberania – primeiro-ministro e Presidente da República”, comentou.