O que foi Stuart? (2)

O que foi Stuart? (2)


Foi na imprensa que Stuart se afirmou como o que julgamos ser o maior artista gráfico português da primeira metade do século passado. 


Em pintura, Stuart foi o que pôde ser e não provavelmente o que quis. “Não passo d’um fabricante de desenhos”, dirá. Trabalho restrito, mas não despiciendo – quem não conhece o magnífico Jazz (1925), que aqui não figura? – João Paulo Cotrim fala num “desejo de paisagem”, que podemos observar em três telas, uma das quais, pertencente a José Gomes Ferreira, suscitou a este bons versos dum expressionismo brandoniano, já fora de tempo (1981), mas no tempo do quadro.

Noutra, uma paisagem com Quixote, tem forçosamente de remeter-nos para o lugar-comum (nosso, não dele) quixotesco de ingénuo idealismo, de acordo com os cépticos ou os cínicos; e adiante surge também, como ilustração, um carvão assombroso de Quixote e Sancho por entre lombadas da obra de Cervantes, publicado na revista Civilização.

Foi na imprensa que Stuart se afirmou como o que julgamos ser o maior artista gráfico português da primeira metade do século passado – período, de resto, repleto de bons nomes a trabalhar num tempo ávido por mostrar imagens.

A introdução toca as várias facetas do trabalho stuartino, incluindo as que ficaram na sombra ao fim de um século: pintura, ilustração, cartaz publicitário, capas de livros e partituras, todas à excepção da primeira sofrendo mais aceleradamente o desgaste do tempo, por extinção de actividade ou renovação do revestimento, como é o caso dos livros.

E neste particular teremos de citar a capa de Lírios do Monte (1918), título inicial do já referido Gomes Ferreira – que depois eliminará da sua bibliografia, como sucede com muitos escritores relativamente aos textos mais juvenis –, as primeiras edições das novelas de Aquilino Ribeiro, Filhas de Babilónia (1920) e do romance Emigrantes (1928), de Ferreira de Castro, revisitações de A Farsa e os Pobres, de Raul Brandão, coexistindo com o o testemunho pungente de Reinaldo Ferreira, nas Memórias de um Ex-Morfinómano (1933) – além de literatura humorística ou frívola e edições de actualidades, pois o sustento a tal obrigava.

Exposto e ilustrado o artista, segue-se a arrumação temática: os auto-retratos, os quadradinhos, o cartoon, os costumes, a Lisboa stuartina, as mulheres, os tipos mais ou menos populares, as figuras conhecidas, os pobres e marginais, a morte.

E porque Stuart é Stuart, ainda na próxima semana continuaremos na companhia deste príncipe, com especiais enfoques: a BD, pois claro, desde muito cedo; a cidade, que aqui se chama Lisboa; a mulher, que Stuart magnifica sempre e como poucos; a atenção que o artista prestou aos pobres e excluídos – que já conhecemos de Renda Barata compilação de 2020 de cartoons publicados no diário anarco-sindicalista A Batalha –; e ainda um Stuart menos risonho e conhecido. (continua)