Com a surpresa a ser digerida na capital, na grande Lisboa a noite eleitoral ficou também marcada pela demora no apuramento dos resultados, que acabariam por desenhar a reeleição dos incumbentes com uma exceção de peso e baldes de água fria para algumas campanhas que punham a fasquia alta: em Loures, a CDU perde a câmara liderada desde 2013 por Bernardino Soares, que volta a ser socialista. Em Almada, Inês de Medeiros foi reeleita para o segundo mandato, acabando também com os planos de reconquista da CDU do seu velho bastião. Na Amadora, a candidata Suzana Garcia, apoiada por PSD e CDS – que levou a campanha até às portas do Parlamento prometendo que faria tremer o sistema – não conseguiu agitar como queria os amadorenses, que reelegeram a socialista Carla Tavares com maioria absoluta.
Vamos então a uma volta mais detalhada pela grande Lisboa, sem antes deixar de notar a elevada abstenção.
Em Oeiras, Isaltino Morais venceu mais uma vez com o seu movimento independente Inovar Oeiras a sua 9ª eleição para liderar o município.
Foi o primeiro autarca reeleito da grande Lisboa a falar na noite eleitoral, antes de estar fechado o apuramento de todas as freguesias. “São tantos votos, são tantos os oeirenses que confiam, que não posso deixar de sentir o peso da responsabilidade (…) Esta vitória é dos oeirenses, é a vitória do futuro”, disse o autarca emocionado no discurso aos apoiantes. Isaltino vai para o 29º ano à frente de Oeiras – assumiu pela primeira vez a presidência em 1985, pelo PSD, tinha 36 anos. Contabilizadas todas as freguesias, teve 50,86% dos votos, um resultado melhor do que em 2017 e um dos melhores de Isaltino em Oeiras.
Em Sintra, segunda maior autarquia do país, Basílio Horta declarou vitória ainda com nove freguesias por fechar. “É uma vitória. Ganhámos as eleições. Maioria absoluta, creio que não teremos, mas ganhámos as eleições que é o mais importante. Vamos governar com a maioria que o povo nos deu”, disse em declarações à RTP. Assim foi: PS conseguiu 35,29% dos votos em Sintra, perdendo a maioria absoluta com menos 11 183 votos do que em 2017. Mas a candidatura do PPD/PSD. CDS-PP.A. MPT.PDR.PPM.R.I.R, encabeçada por Ricardo Baptista Leite, que passou as últimas semanas a pedir um debate com Basílio, ficou também aquém do resultado eleitoral de 2017, com menos 3 mil votos. A surpresa da noite em Sintra foi o Chega, que passa a ser a terceira força no concelho, com a CDU em quarto lugar com uma diferença de 69 votos. Elegem um mandato cada.
Na Amadora, Suzana Garcia foi a primeira candidata a falar e começou por festejar a vitória pelo resultado dos partidos que a apoiam ter sido o melhor na autarquia desde 197. Assumiu depois a derrota pessoal, que disse ser apenas da sua responsabilidade.
O terramoto ao sistema que prometia, foi, nas suas palavras, uma pedrada no charco do sistema. O PS consegue maioria absoluta (43,88 %), embora com menos votos do que em 2017. Garcia elege três vereadores e a CDU um. Chega é a quarta força mas sem mandatos.
Carreiras reforça resultado em Cascais Carlos Carreiras foi reeleito em Cascais, com 52,55 % dos votos, um reforço notório face aos resultados eleitorais de 2017, com a coligação PPD/PSD.CDS-PP a conseguir mais 6421 votos do que há quatro anos.
A coligação Todos por Cascais, composta pelo PS, PAN e Livre, consegue menos votos do que o PS sozinho há quatro anos e o Partido Socialista perde um mandato em Cascais. O mesmo acontece com a CDU, que desce para quarto lugar nas votações, com o Chega a subir para o terceiro lugar (7,42%) e a eleger um vereador.
Vamos ainda a Mafra, a única câmara na Grande Lisboa com maioria do PSD (sem coligação) e que vê reforçado o seu resultado com 57,4% dos votos. PS elege dois mandatos e Chega é também a terceira força em Mafra.
Mas a grande mudança será mesmo em Loures onde a grande variável no resultado eleitoral parece ter sido o Chega: tanto o PS (vencedor com 31,52% dos votos) como a CDU (29,05%) e o PSD (14%), os três partidos mais votados, tiveram menos votos do que em 2017 e o Chega surge em quatro lugar com 6884 votos – elege um mandato. A câmara passa a ser liderada pelo socialista Ricardo Leão, cessando funções como Presidente Bernardino Soares.
Almada. CDU falha reconquista e Inês de Medeiros soma e segue Depois da vitória inesperada em Almada há quatro anos, Inês de Medeiros foi reeleita este domingo para um segundo mandato, conseguindo o melhor resultado do PS no município e deitando por terra a ambição da CDU de reconquistar o concelho liderado pelos comunistas desde as primeiras eleições autárquicas realizadas em 1976.
Maria da Dores Meira, a grande aposta da CDU nestas autárquicas, conseguiu 29,69% dos votos, contra 39,87 % da candidata socialista. E um resultado inferior ao que tinha registado em Setúbal nas eleições de 2017 (49,95%), naquele que foi o seu terceiro e último mandato no município sadino.
Já Inês de Medeiros, atriz e filha do maestro António Victorino de Almeida, conseguiu o melhor resultado de sempre do PS em Almada, segurando a câmara. Foram mais quase 8 mil votos do que em 2017. O PS elege cinco mandatos, mais um vereador do que há quatro anos. Segue-se a CDU com quatro mandatos e PSD com um. A candidatura do Bloco de Esquerda, encabeçada mais uma vez pela deputada Joana Mortágua, conseguiu manter também um mandato.
Durante a campanha, Inês de Medeiros deixou como promessas erradicar as barracas em Almada durante o novo mandato e reabilitar o parque habitacional do município, o que disse estar dependente no entanto dos apoios do Governo, nomeadamente de verbas do Programa de Recuperação e Resiliência em matéria de habitação.
“Se tudo funcionar bem no sistema de apoio que o Governo criou, e se todos nós formos céleres, eu acredito que estas duas grandes chagas poderão ser resolvidas nestes quatro anos”, garantiu.
No discurso de vitória na noite eleitoral, um dos primeiros a fazer-se ouvir, Inês de Medeiros, disse que a democracia falou em Almada, não esperando pelo apuramento de todos os votos. “As minhas palavras vão para todos os almadenses, muito obrigado por esta noite e por estes quatro anos. Sabíamos que Almada tinha de reencontrar a sua centralidade na Área Metropolitana de Lisboa. Hoje, é a terra do futuro da AML”, disse, numa curta intervenção. “A partir de amanhã nós todos estamos aqui a trabalhar para todos os almadenses. Todos, sem exceção, independentemente do partido em que votaram”.