Em debate sobre o futuro da cidade de Lisboa, Carlos Moedas invoca as vítimas mortais em acidentes com bicicletas para tentar criticar a opção política da Câmara Municipal de Lisboa sob a presidência de Fernando Medina relativamente à promoção da utilização da bicicleta na cidade.
Se duvidas existiam quanto à vontade da candidatura de Moedas se refrescar relativamente às posições em políticas de mobilidade urbana do Partido Social Democrata, hoje, estarão totalmente dissipadas, pois o seu projeto político não pretende senão fazer deste tema «um campo de batalha».
Não só Carlos Moedas ignora as 626 vítimas mortais em sinistralidade rodoviária no país, das quais, 134 foram peões, como utiliza os dados erradamente: as 26 vítimas mortais não ocorreram em Lisboa, mas sim no país.[1]
Carlos Moedas parece querer ignorar a principal origem do problema: o excesso de velocidade em ambiente urbano. Ao fazê-lo está, em simultâneo, a ignorar um grande espectro de necessidades da população que vive, trabalha ou visita Lisboa. De facto, os mais idosos, acima dos 75 anos, continuam a ser os mais afetados pela sinistralidade rodoviária e Moedas parece não estar muito preocupado com este flagelo das cidades e vilas portuguesas.
Rui Rio já demonstrou estar fossilizado nas soluções de gestão de cidade e nas suas propostas de política energética para o país, infelizmente, agora, veio confirmar-se que também Carlos Moedas – um ex comissário europeu dedicado à Investigação, Ciência e Inovação – não veio, de todo, refrescar o debate político em Lisboa em matérias tão fundamentais como a gestão do território e da energia.
Com o decorrer do debate, rapidamente se compreende porque Moedas não serve para Lisboa:
- faltou investigação no seu trabalho de casa ignorando os problemas contemporâneos da mobilidade urbana,
- utilizou dados incorretos para defender uma posição de pânico generalizado sugerindo a remoção da ciclovia da Av. Almirante Reis, muito devendo à objetividade, rigor e racionalidade que a ciência nos recomenda, e
- cristalizou a sua visão no século passado omitindo a necessidade de inovação nas propostas de reequilíbrio da utilização do espaço público e da excessiva ocupação do mesmo pelo automóvel.
Sejamos claros, Moedas está a utilizar o palco mediático para servir uma visão ultrapassada de cidade. As ciclovias não podem ser arma de arremesso político, muito menos podemos menosprezar os desafios climáticos e as consequências que a seca, as cheias, os incêndios e outros fenómenos extremos estão já a gerar nos territórios e cidades por todo o mundo.
Lisboa tem de ser solidária com o restante território que a rodeia, ao nível metropolitano, tem de cooperar com as restantes cidades e vilas portuguesas e tem de assumir a liderança conjunta com as demais cidades europeias que estão a dar firmes passos na transformação digital e ecológica da economia. Nisto, Moedas não mostra nem firmeza, nem pensamento político. Não apresentou propostas que nos coloquem num rumo de neutralidade carbónica e, pior que tudo, adotou uma postura idêntica a muitos outros populistas, a de um verdadeiro «angariador de descontentamento».
Moedas optou por utilizar a morte como arma política e, por isso, descredibilizou por completo a sua campanha.
Filipe Beja
Engenheiro do Território pelo Instituto Superior Técnico
Membro do Conselho Consultivo para a Mobilidade Sustentável da FPCUB
Militante e Secretário Coordenador da Secção de Ambiente e Território da Federação da Área Urbana de Lisboa do Partido Socialista
[1] Fonte: Relatório Anual de Segurança Rodoviária 2019