Rosto de miúdo, olhos azuis brilhantes e sinais de acne próprio da sua tenra idade, Kalle Rovanperä acelera como gente grande nas estradas mais difíceis do mundo. É digno representante da fantástica geração de finlandeses voadores! O pai Harri Rovanperä, ex-piloto de ralis da Seat e Peugeot, diz com alguma graça “a água com que Kalle foi batizado devia ter gasolina.”
O jovem piloto da Toyota tem revelado um andamento muito rápido, só que os resultados tardavam a aparecer por falhas mecânicas ou erros de condução, o que acontece a quem anda sempre a fundo. Com uma condução magistral, ganhou o Rali da Estónia com uma vantagem pouco habitual nos ralis, até parecia que corria sozinho, e nem a presença do heptacampeão Sébastien Ogier, com carro igual, o intimidou. “Está a ser uma época difícil, a vitória foi verdadeiramente agradável e ajudou a libertar um pouco a pressão. Tentei manter um ritmo forte e não cometer erros. As sensações no interior do carro foram muito boas e pude desfrutar da condução. É algo de muito especial ser o mais jovem a ganhar, e como estava a correr próximo de casa tinha muitos fãs a apoiar” referiu.
Apesar do triunfo, está consciente das dificuldades: “a minha experiência é curta e há um longo caminho a percorrer. Devo continuar a trabalhar da mesma forma, conduzir bem e deixar que as coisas aconteçam”.
Do banco da escola para o volante
Kalle Rovanperä é um caso precoce. Aos três anos guiava pequenas motos, e, aos oito, conduziu o primeiro carro de ralis (Toyota Starlet), dando espetáculo com longas derrapagens em pistas de neve. Foi com esse carro que disputou, com 11 anos, a primeira corrida, um Rallysprint na Estónia. Aos 15 anos, estreou-se em provas oficiais de ralis no campeonato júnior da Letónia com o Citroën C2 R2, e foi campeão logo no primeiro ano. Como era muito jovem e não tinha carta de condução só podia conduzir nas classificativas, nas estradas públicas era o copiloto que conduzia o carro. Em 2017, com 17 anos, pediu uma autorização especial para tirar a carta de condução, e passado três semanas disputou a primeira prova do Mundial de ralis, no País de Gales, mas desistiu com uma avaria no Ford Fiesta R5.
O título de Campeão do Mundo na categoria WRC 2, com o Skoda Fabia R5 Evo, abriu-lhe as portas da equipa oficial Toyota para 2020, tendo o privilégio de conduzir um carro idêntico ao do campeão do Mundo Sébastian Ogier. O desafio estava lançado e a resposta foi clara “vou querer andar sempre no limite”. Dito e feito!
Apesar de tímido e de raramente sorrir, Rovanperä tem sentido de humor, como se percebe pela explicação para ter escolhido o número 69: “assim, quando virar o carro fica igual, mas não tenho intenções de capotar”. Kalle Rovanperä impressionou na época de estreia com a Toyota. Ganhou o Rally do Ártico na primeira saída com o Yaris WRC e obteve o primeiro pódio (3º lugar) no segundo rali que fez no Mundial, na Suécia.
Tommi Makinen, tetracampeão do Mundo de ralis, considera que “a sua condução é impressionante. Faz parte da nova geração de pilotos e tem qualidades para ser campeão. Apesar de ser jovem analisa todas as situações de forma correta e dá um feedback perfeito do carro, tem a maturidade de um adulto” concluiu.
Curiosamente, o mais jovem vencedor na história do WRC, com 20 anos 9 meses e 17 dias, bateu um recorde que pertencia ao seu atual diretor desportivo, Jari-Matta Latvala. E há quem aponte que o próximo recorde a cair será o do mais jovem Campeão do Mundo de ralis, que pertence a Colin McRae, que festejou o título com 27 anos e 109 dias.