Portugal, campeões nos agachamentos


A dependência externa do turismo, como atividade essencial em muitos territórios do país, é a mãe de boa parte dos agachamentos internacionais dos decisores políticos.


1. Ato ou efeito de agachar ou agachar-se.

2.  Exercício para fortalecer os músculos flexores das pernas, com flexão das pernas até à posição de cócoras e retorno à posição ereta.

O sentido de urgência e de emergência perante a pandemia consolidou o ambiente geral de agachamento que perpassa a sociedade portuguesa, dos cidadãos aos decisores mais relevantes, num misto entre conformismo e falta de convicção no exercício dos direitos e deveres constitucionais, na personalidade e na identidade própria de uma nação soberana.

O problema é que o reiterado agachamento perante o que releva para a República e para a vida das pessoas determina uma realidade pantanosa que degrada as instituições democráticas, mina o compromisso social dos cidadãos e gera oportunidades para todos os “ismos” presentes ou adormecidos.

Se é verdade que ninguém estava preparado para este turbilhão pandémico à escala global como o que vivemos, não é menos verdade que o exercício de resposta sublinhou a existência de diversos exercícios cívicos individuais e comunitários excecionais, a par de exemplos deploráveis de falta de senso em função da substância e das circunstâncias.

A dependência externa do turismo, como atividade essencial em muitos territórios do país, é a mãe de boa parte dos agachamentos internacionais dos decisores políticos, num bailado entre o esforço de proteção do interesse nacional e uma inconsequente subserviência a terceiros. Sempre que os agachamentos foram orientados para tentar convencer terceiros quando os critérios mínimos de contenção dos contágios não existiam, deixaram-nos de mão estendida. Sempre que a situação nacional era melhor que a desses terceiros, abrimos as portas sem controle e pintámos de escuro o horizonte. Os agachamentos políticos, diplomáticos e partidários não resultam com terceiros quando está em causa o interesse nacional de cada um. E, no entanto, persistem. Agachamento a Boris Johnson, a Angela Merkel, a Viktor Orbán e a todos que possam contribuir para uma qualquer circunstância, ainda que com prejuízo dos valores e da posição ereta que caracteriza a posição final do exercício em desporto. Na política, parece que, perante as evidências dos resultados, se persiste em ficar na posição anterior do agachamento, de cócoras. Ao invés do exercício físico, os agachamentos perante terceiros, o bom senso e a racionalidade que deveria estar presente na ação política e na gestão da coisa pública não produzem fortalecimento dos músculos, antes os fragilizam.

Que sentido faz dar explicações a Merkel sobre as dinâmicas da variante indiana (sigo a terminologia utilizada em todas as variantes anteriores, só agora se aderiu publicamente ao alfabeto grego) quando essas explicações não foram dadas aos portugueses, confrontados com novas limitações aos direitos básicos?

Que sentido faz termos as mais altas figuras do Estado a pronunciarem intenções de mobilidade e presença em eventos que insultam os portugueses limitados nas suas dinâmicas básicas, não compatíveis com os padrões que fundamentam as decisões?

Que sentido fazem as lágrimas de crocodilo sempre que alguém nos limita as dinâmicas turísticas na defesa dos seus interesses como comunidades, algo que em muitas situações os decisores nacionais não fizeram, mantendo abertas, quiçá, escancaradas as portas de acesso ao território nacional. Que sentido faz pedir máxima contenção a uns e invocar ou permitir a uns tantos níveis de libertinagem no atual contexto.

Os agachamentos cívicos, políticos e partidários perante os valores, os princípios, as decisões e terceiros não são bons para a Nação e para a Democracia. Aliás, basta constatar que perante os desmandos em torno da ida a Sevilha, à bola, os populistas de turno da extrema-direita mantiveram-se discretos a assistir à República a fragilizar-se, sem que os protagonistas tivessem o rebate mínimo de consciência de dar voz ao recuo das intenções e pedirem desculpa aos portugueses pela falta de nexo com as circunstâncias. Ao invés, perante o clamor da indignidade da pretensão, ensaiaram manobras de diversão, convocaram critérios para a inversão e recuaram a toda a linha. O mal estava, uma vez mais feito, paga a República.

Os agachamentos face à legalidade, à responsabilidade política, ao bom senso e a um sentido inteligível, explicado e participado do exercício de funções públicas podem ser compagináveis com os tradicionais agachamentos de anuência e conformismo dos cidadãos e dos media, mas acabarão por minar os pilares da Democracia e da República. Se esse era o objetivo, estamos no bom caminho, sob a égide dos principais pilares institucionais da República.

O problema, quando falta transparência, escrutínio e explicação, é que a generalização dos agachamentos com o exterior e em relação aos nacionais, baixa substancialmente o grau de exigência do exercício dos titulares dos cargos públicos, é uma espécie de carta branca para a irresponsabilidade e inconsequência. O resultado está à vista. Não cuidar de exigir o regresso à posição ereta, no equilíbrio, no racional das decisões e das ações, no bom senso e na explicação do sentido das opções, levará a incontornáveis problemas de postura corporal, o que, não sendo problema para alguns, deve ser razão de preocupação para cada vez mais portugueses comprometidos com a Democracia, a sustentabilidade e o futuro do país.

 

NOTAS FINAIS

O PINO. O carácter, a maturidade e a responsabilidade política não se compram em nenhuma loja da Baixa de Lisboa. O alcaide do burgo insiste em justificar-se com o passado dos Governos Civis, em ilusionar, em desesperar. Não vi nenhuma invocação do passado na instalação de ciclovias ridículas e inconsequentes e noutros impulsos ininteligíveis, mas este só é mobilizável quando é preciso fazer o pino para distrair ou desculpar o presente. Só não acabará mal graças aos Presidentes de Junta e às insuficiências de Carlos Moeda, não sendo sinónimo de não pulverização do poder no município. Haverá resposta para isso em algum arquivo histórico certamente.

ESPARGATA. Rui Rio critica a lei que liberta “presos em barda”. Rui Rio aprovou a lei que “liberta presos em barda”. Mesmo a fruta podre quando cai da árvore pode não cair no sítio que se esperava. Em modo de agachador-mor.

SALTO MORTAL. Agora que está prestes a terminar a Presidência Portuguesa da União Europeia, que condicionou fortemente a atenção de quem manda em relação ao país, importa estancar quanto antes a degradação do governo e o deslaçar dos valores de confiança real com o país, mesmo sem oposição efetiva e consequente. Há áreas em que a degradação atingida é lesiva do interesse nacional, para não falar nos desvios em relação aos princípios e valores de sempre do partido.

 

Escreve à segunda-feira


Portugal, campeões nos agachamentos


A dependência externa do turismo, como atividade essencial em muitos territórios do país, é a mãe de boa parte dos agachamentos internacionais dos decisores políticos.


1. Ato ou efeito de agachar ou agachar-se.

2.  Exercício para fortalecer os músculos flexores das pernas, com flexão das pernas até à posição de cócoras e retorno à posição ereta.

O sentido de urgência e de emergência perante a pandemia consolidou o ambiente geral de agachamento que perpassa a sociedade portuguesa, dos cidadãos aos decisores mais relevantes, num misto entre conformismo e falta de convicção no exercício dos direitos e deveres constitucionais, na personalidade e na identidade própria de uma nação soberana.

O problema é que o reiterado agachamento perante o que releva para a República e para a vida das pessoas determina uma realidade pantanosa que degrada as instituições democráticas, mina o compromisso social dos cidadãos e gera oportunidades para todos os “ismos” presentes ou adormecidos.

Se é verdade que ninguém estava preparado para este turbilhão pandémico à escala global como o que vivemos, não é menos verdade que o exercício de resposta sublinhou a existência de diversos exercícios cívicos individuais e comunitários excecionais, a par de exemplos deploráveis de falta de senso em função da substância e das circunstâncias.

A dependência externa do turismo, como atividade essencial em muitos territórios do país, é a mãe de boa parte dos agachamentos internacionais dos decisores políticos, num bailado entre o esforço de proteção do interesse nacional e uma inconsequente subserviência a terceiros. Sempre que os agachamentos foram orientados para tentar convencer terceiros quando os critérios mínimos de contenção dos contágios não existiam, deixaram-nos de mão estendida. Sempre que a situação nacional era melhor que a desses terceiros, abrimos as portas sem controle e pintámos de escuro o horizonte. Os agachamentos políticos, diplomáticos e partidários não resultam com terceiros quando está em causa o interesse nacional de cada um. E, no entanto, persistem. Agachamento a Boris Johnson, a Angela Merkel, a Viktor Orbán e a todos que possam contribuir para uma qualquer circunstância, ainda que com prejuízo dos valores e da posição ereta que caracteriza a posição final do exercício em desporto. Na política, parece que, perante as evidências dos resultados, se persiste em ficar na posição anterior do agachamento, de cócoras. Ao invés do exercício físico, os agachamentos perante terceiros, o bom senso e a racionalidade que deveria estar presente na ação política e na gestão da coisa pública não produzem fortalecimento dos músculos, antes os fragilizam.

Que sentido faz dar explicações a Merkel sobre as dinâmicas da variante indiana (sigo a terminologia utilizada em todas as variantes anteriores, só agora se aderiu publicamente ao alfabeto grego) quando essas explicações não foram dadas aos portugueses, confrontados com novas limitações aos direitos básicos?

Que sentido faz termos as mais altas figuras do Estado a pronunciarem intenções de mobilidade e presença em eventos que insultam os portugueses limitados nas suas dinâmicas básicas, não compatíveis com os padrões que fundamentam as decisões?

Que sentido fazem as lágrimas de crocodilo sempre que alguém nos limita as dinâmicas turísticas na defesa dos seus interesses como comunidades, algo que em muitas situações os decisores nacionais não fizeram, mantendo abertas, quiçá, escancaradas as portas de acesso ao território nacional. Que sentido faz pedir máxima contenção a uns e invocar ou permitir a uns tantos níveis de libertinagem no atual contexto.

Os agachamentos cívicos, políticos e partidários perante os valores, os princípios, as decisões e terceiros não são bons para a Nação e para a Democracia. Aliás, basta constatar que perante os desmandos em torno da ida a Sevilha, à bola, os populistas de turno da extrema-direita mantiveram-se discretos a assistir à República a fragilizar-se, sem que os protagonistas tivessem o rebate mínimo de consciência de dar voz ao recuo das intenções e pedirem desculpa aos portugueses pela falta de nexo com as circunstâncias. Ao invés, perante o clamor da indignidade da pretensão, ensaiaram manobras de diversão, convocaram critérios para a inversão e recuaram a toda a linha. O mal estava, uma vez mais feito, paga a República.

Os agachamentos face à legalidade, à responsabilidade política, ao bom senso e a um sentido inteligível, explicado e participado do exercício de funções públicas podem ser compagináveis com os tradicionais agachamentos de anuência e conformismo dos cidadãos e dos media, mas acabarão por minar os pilares da Democracia e da República. Se esse era o objetivo, estamos no bom caminho, sob a égide dos principais pilares institucionais da República.

O problema, quando falta transparência, escrutínio e explicação, é que a generalização dos agachamentos com o exterior e em relação aos nacionais, baixa substancialmente o grau de exigência do exercício dos titulares dos cargos públicos, é uma espécie de carta branca para a irresponsabilidade e inconsequência. O resultado está à vista. Não cuidar de exigir o regresso à posição ereta, no equilíbrio, no racional das decisões e das ações, no bom senso e na explicação do sentido das opções, levará a incontornáveis problemas de postura corporal, o que, não sendo problema para alguns, deve ser razão de preocupação para cada vez mais portugueses comprometidos com a Democracia, a sustentabilidade e o futuro do país.

 

NOTAS FINAIS

O PINO. O carácter, a maturidade e a responsabilidade política não se compram em nenhuma loja da Baixa de Lisboa. O alcaide do burgo insiste em justificar-se com o passado dos Governos Civis, em ilusionar, em desesperar. Não vi nenhuma invocação do passado na instalação de ciclovias ridículas e inconsequentes e noutros impulsos ininteligíveis, mas este só é mobilizável quando é preciso fazer o pino para distrair ou desculpar o presente. Só não acabará mal graças aos Presidentes de Junta e às insuficiências de Carlos Moeda, não sendo sinónimo de não pulverização do poder no município. Haverá resposta para isso em algum arquivo histórico certamente.

ESPARGATA. Rui Rio critica a lei que liberta “presos em barda”. Rui Rio aprovou a lei que “liberta presos em barda”. Mesmo a fruta podre quando cai da árvore pode não cair no sítio que se esperava. Em modo de agachador-mor.

SALTO MORTAL. Agora que está prestes a terminar a Presidência Portuguesa da União Europeia, que condicionou fortemente a atenção de quem manda em relação ao país, importa estancar quanto antes a degradação do governo e o deslaçar dos valores de confiança real com o país, mesmo sem oposição efetiva e consequente. Há áreas em que a degradação atingida é lesiva do interesse nacional, para não falar nos desvios em relação aos princípios e valores de sempre do partido.

 

Escreve à segunda-feira