Porque incomoda João Cravinho o PS?


Não sei se Cravinho joga à batalha naval. Mas lá que disparou sobre o porta aviões do Partido Socialista quando ele já mete água há várias décadas, lá isso disparou. 


Silêncio. É a palavra que melhor descreve a postura do Partido Socialista quando se fala em corrupção, tal como podemos observar na mais recente cerimónia de comemoração do 25 de Abril em que todos os partidos falaram sobre o tema exceptuando, claro, o Partido Socialista.

Um silêncio ensurdecedor para ser mais objectivo. Será pela sombra de José Sócrates? Será pelo facto de grande parte do governo Sócrates ter assento no actual governo de António Costa? Será porque o actual primeiro-ministro era no tempo de Sócrates o seu braço direito e compincha mais próximo de governação? Será que não falam e não condenam a corrupção porque não querem ou muitos porque não podem?

Todas estas são questões que assolam a cabeça de qualquer português quando, reiteradamente, o Partido Socialista faz ouvidos de mercador ao maior problema de Portugal, problema que se agudizou profundamente e sempre em épocas marcadas por governos socialistas. Não estou com isto a acusar alguém de alguma coisa porque isso cabe à justiça. Assim seja ela capaz de o fazer. Mas que há aqui qualquer coisa estranha, lá isso há.

De resto, há inclusivamente socialistas que o afirmam. Socialistas que se decidem falar sobre o tema acusando o PS de um certo desinteresse nesta matéria, lá terão os seus motivos. Desconheço quais, mas também aqui há mais qualquer coisa que é estranha.

Esta semana foi o antigo ministro das Obras Públicas, João Cravinho, a vir dizer numa entrevista televisiva que considera que o Partido Socialista deve tomar uma posição sobre o enriquecimento ilícito naquele que será o próximo congresso do partido, considerando mesmo que questões como estas são “problemas fundamentais do país que toda a gente percebe e que os responsáveis pelas instituições e órgãos de soberania não atacam”.

Declarações como esta seriam já as suficientes para que as águas paradas do Largo do Rato se agitassem, como de resto agitaram. Mas João Cravinho foi mais longe, naquela que considero, honra lhe seja feita, uma demonstração de coragem. Não porque tenha dito alguma coisa excepcional. Apenas porque simplesmente o disse quando no seu partido aqueles que o deveriam fazer, não fazem.

“O PS não pode fingir que não houve um período em que o partido com maioria absoluta, [que], com todos os meios, foi um partido combatente, empenhou toda a sua capacidade política, legitimada pelo seu secretário-geral, que também era primeiro-ministro, contra a ideia de se combater sistemicamente a fundo a corrupção. Isso é que faz parte da história do PS”, disse o antigo ministro socialista.

Não sei se Cravinho joga à batalha naval. Mas lá que disparou sobre o porta aviões do Partido Socialista quando ele já mete água há várias décadas, lá isso disparou, resultando deste embate no casco do navio algumas declarações meio avinagradas de alguns dos seus companheiros de militância.

Ao que chegou o Partido Socialista. Impressionante como a decadência e o despudor corrói instituições, partidos políticos e a própria democracia. Impressionante a forma como o Partido Socialista insiste em fechar os olhos ao simples facto de ter sido um governo com a sua bandeira aquele que conduziu o país onde ele hoje se encontra. Um país sem presente e que não tendo presente, preso que continua às suas amarras, também não tem futuro.

Rodrigo Alves Taxa

Porque incomoda João Cravinho o PS?


Não sei se Cravinho joga à batalha naval. Mas lá que disparou sobre o porta aviões do Partido Socialista quando ele já mete água há várias décadas, lá isso disparou. 


Silêncio. É a palavra que melhor descreve a postura do Partido Socialista quando se fala em corrupção, tal como podemos observar na mais recente cerimónia de comemoração do 25 de Abril em que todos os partidos falaram sobre o tema exceptuando, claro, o Partido Socialista.

Um silêncio ensurdecedor para ser mais objectivo. Será pela sombra de José Sócrates? Será pelo facto de grande parte do governo Sócrates ter assento no actual governo de António Costa? Será porque o actual primeiro-ministro era no tempo de Sócrates o seu braço direito e compincha mais próximo de governação? Será que não falam e não condenam a corrupção porque não querem ou muitos porque não podem?

Todas estas são questões que assolam a cabeça de qualquer português quando, reiteradamente, o Partido Socialista faz ouvidos de mercador ao maior problema de Portugal, problema que se agudizou profundamente e sempre em épocas marcadas por governos socialistas. Não estou com isto a acusar alguém de alguma coisa porque isso cabe à justiça. Assim seja ela capaz de o fazer. Mas que há aqui qualquer coisa estranha, lá isso há.

De resto, há inclusivamente socialistas que o afirmam. Socialistas que se decidem falar sobre o tema acusando o PS de um certo desinteresse nesta matéria, lá terão os seus motivos. Desconheço quais, mas também aqui há mais qualquer coisa que é estranha.

Esta semana foi o antigo ministro das Obras Públicas, João Cravinho, a vir dizer numa entrevista televisiva que considera que o Partido Socialista deve tomar uma posição sobre o enriquecimento ilícito naquele que será o próximo congresso do partido, considerando mesmo que questões como estas são “problemas fundamentais do país que toda a gente percebe e que os responsáveis pelas instituições e órgãos de soberania não atacam”.

Declarações como esta seriam já as suficientes para que as águas paradas do Largo do Rato se agitassem, como de resto agitaram. Mas João Cravinho foi mais longe, naquela que considero, honra lhe seja feita, uma demonstração de coragem. Não porque tenha dito alguma coisa excepcional. Apenas porque simplesmente o disse quando no seu partido aqueles que o deveriam fazer, não fazem.

“O PS não pode fingir que não houve um período em que o partido com maioria absoluta, [que], com todos os meios, foi um partido combatente, empenhou toda a sua capacidade política, legitimada pelo seu secretário-geral, que também era primeiro-ministro, contra a ideia de se combater sistemicamente a fundo a corrupção. Isso é que faz parte da história do PS”, disse o antigo ministro socialista.

Não sei se Cravinho joga à batalha naval. Mas lá que disparou sobre o porta aviões do Partido Socialista quando ele já mete água há várias décadas, lá isso disparou, resultando deste embate no casco do navio algumas declarações meio avinagradas de alguns dos seus companheiros de militância.

Ao que chegou o Partido Socialista. Impressionante como a decadência e o despudor corrói instituições, partidos políticos e a própria democracia. Impressionante a forma como o Partido Socialista insiste em fechar os olhos ao simples facto de ter sido um governo com a sua bandeira aquele que conduziu o país onde ele hoje se encontra. Um país sem presente e que não tendo presente, preso que continua às suas amarras, também não tem futuro.

Rodrigo Alves Taxa