5G. Austríacos reclamam da Anacom por concurso para plataforma do leilão

5G. Austríacos reclamam da Anacom por concurso para plataforma do leilão


Specure não compreende desfecho do concurso para plataforma do leilão do 5G. Jozef Svrcek rejeita justificações da Anacom: “Isso não é verdade”. Regulador remete para regras do procedimentos.


A polémica em torno da escolha pela Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) da empresa responsável pela plataforma onde está a decorrer o leilão do espetro de rede 5G em Portugal continua a dar que falar. Depois de a ANO – Sistemas de Informática e Serviços, uma das concorrentes excluídas, ter visto em dezembro de 2020 o Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto decidir pela sua readmissão no concurso público, como avançou o i em primeira mão, agora é o candidato Specure GmbH a questionar os critérios utilizados ao longo do processo por parte da entidade liderada por João Cadete Matos.

A Specure GmbH, empresa austríaca com um histórico alargado neste tipo de concursos a nível internacional – tornou-se responsável pela consultadoria e operacionalização dos leilões de 5G na Polónia, Bélgica, Suécia, Montenegro, Finlândia, República Checa e até na Tanzânia –, acabou excluída pela Anacom por, alegadamente, ter apresentado todos os documentos em inglês, quando o ponto 11 do programa do concurso previa que os mesmos fossem “obrigatoriamente redigidos em língua portuguesa, salvo no que respeita a documentação de caráter eminentemente técnico, nomeadamente catálogos, certificados, referências, manuais técnicos e similares, que podem ser apresentados em língua inglesa”. A Specure GmbH nega agora essa versão.

Ao i, Jozef Svrcek, diretor da empresa austríaca, garante que “isso não é verdade”. “Todas as informações que nos foram solicitadas pela Anacom foram respondidas em português. É verdade que também incluímos conteúdos em inglês, mas, tal como estava previsto no programa do concurso, tratou-se apenas de notas adicionais”. “Não compreendo a decisão”, diz.

Contactada pelo nosso jornal, a Anacom remete para o regulamento. “O programa do concurso, bem como o caderno de encargos do concurso público foram disponibilizados, quer no sítio da internet da Anacom, quer na plataforma eletrónica de compras públicas utilizada pela Anacom. A decisão foi tomada tendo em conta estas regras”, garante o regulador. 

Adjudicação polémica Recorde-se que, ao todo, apresentaram candidaturas quatro empresas: a Specure, a Omip, a ANO e a Ubiwhere, Omip. Numa primeira fase, o júri decidiu excluir a Specure, a ANO e a Ubiwhere, mas esta última, após reformulação da proposta inicial, acabaria por ser readmitida e por ganhar o procedimento. Uma oportunidade que mais nenhum outro concorrente teve, segundo Jozef Svrcek. “Não tivemos essa oportunidade. Apresentámos recurso ao júri do concurso, mas não foi aceite”, refere o responsável.

A Anacom diz, porém, que não foi assim: “A empresa identificada, enquanto concorrente, beneficiou, como todos os outros concorrentes,  de todos os direitos regulamentares e legais de pronúncia e reclamação das decisões do júri do procedimento, bem como da decisão de adjudicação por parte do órgão competente para essa decisão”.

A estranheza neste caso é ainda maior uma vez que, segundo apurou o i, a Anacom recorreu aos serviços da Specure – assinando dois contratos em agosto e setembro de 2019 (por cerca de 75 mil euros) – para preparar os aspetos técnicos e mecânicos do leilão que o regulador pretendia lançar. Perante este dado, a Anacom “não comenta a capacidade técnica da referida empresa”.

Ao nosso jornal, Jozef Svrcek lamenta o desfecho do processo: “Fomos excluídos, recorremos e voltámos a ser excluídos. Obviamente, não ficámos satisfeitos. Ponderámos em conjunto com os nossos advogados em Portugal recorrer desta decisão, mas apesar da convicção que existia base para irmos a tribunal por uma questão de custos e tempo decidimos esquecer este processo e seguir em frente”.