Urge planear o desconfinamento


Tem de existir um planeamento que nos permita ter alguma dignidade num momento tão delicado como o que vivemos.


De há vários meses a esta parte, com discordâncias aqui ou ali por parte de alguns partidos com assento na Assembleia da República ou mesmo com as reservas do Presidente da República, Portugal tem visto sucessivamente renovado o estado de emergência, bem como os planos de limitação a quase todas as atividades com que convivíamos diariamente. 
Acresce que não sendo isto matéria de opinião, mas sim de facto, o primeiro-ministro tem constantemente exercido uma política de navegação à vista sem que se perceba com clareza qual a planificação objetiva que tem para fazer face ao momento que vivemos. Numa semana, as escolas não são para fechar; noutra, fecham todas. Num dia, o Serviço Nacional de Saúde é um dos melhores da Europa; no dia seguinte, está literalmente em rutura. Num mês diz-se que não podemos estar todos confinados porque a economia não aguenta para, no mês seguinte, se fechar novamente tudo, ficando milhões de portugueses sem qualquer rendimento e, pior, sem os devidos auxílios do Estado para fazer face a essa realidade. 

Isto já para não falar na pressão que António Costa tem vindo a fazer sobre os epidemiologistas para basear as suas decisões nos cálculos que façam, sacudindo assim a água do capote e colocando-lhes às costas o peso de tudo quanto possa correr mal no país. Ou seja, mantém-se manifesta a incompetência que António Costa demonstra ter como governante.

Porém, se tudo isto me assusta, há algo que me preocupa igualmente. Falo da inexistência completa de um plano devidamente estruturado e planificado, rigorosa e setorialmente, para o desconfinamento que mais cedo ou mais tarde terá de ser feito, acautelando todas as questões sanitárias e a saúde pública, mas também a parte económica das famílias portuguesas. 

Nos últimos dias temos assistido a declarações de vários governantes europeus que vêm apresentando já aos seus países estes mesmos planos. Temos inclusivamente o caso de sucesso da Nova Zelândia que, mantendo sempre em aberto a possibilidade de confinar os cidadãos sempre que necessário, conseguiu fazer a ponte com uma retoma progressiva à normalidade que, mais que se desejar, demonstra com clareza que havendo cabeça e uma linha política definida é possível, com as devidas cautelas, conviver com o problema que a todos assola. 

Pois Portugal continua sem ter um Governo capaz de fazer o mesmo exercício, ficando no ar a sensação de que estamos sempre à espera que os outros façam primeiro para que depois possamos então copiar o que os outros fazem aplicando isso ao nosso território. Tal não é admissível. 

Tem de existir um planeamento que nos permita ter alguma dignidade num momento tão delicado como o que vivemos. António Costa é assim uma espécie de cata-vento capaz de dizer ou fazer uma coisa para logo de seguida, no minuto posterior, dizer ou fazer o seu contrário. O problema é que não é de um cata-vento que o país precisa, mas sim de governantes que, com cabeça, tronco e membros, indiquem um caminho a seguir.

E chega já também de desculpas com novas estirpes, evoluções inesperadas ou qualquer outra circunstância. A situação é complexa e grave. Nenhum governante, por melhor que seja – e os nossos não são sequer minimamente competentes –, saberão lidar com uma pandemia sem que sejam cometidos erros. No entanto, quem dirige um país não pode escudar-se em desculpas ou elementos circunstanciais para tentar disfarçar a sua inaptidão política. Nos próximos meses teremos, de alguma forma, de começar a desconfinar o país e, para que tal aconteça, há que preparar, clarificar, delimitar, planificar e anunciar esse desconfinamento com tempo suficiente para que se perceba o seu plano operativo.

Escreve à sexta-feira