À sombra da árvore de fantasia

À sombra da árvore de fantasia


Havia o bom senso e a civilidade de nada trazer para a Consoada que pudesse perturbar a felicidade genuína e sempre fugaz. 


Chegara Dezembro: fazer a árvore, dispor as peças do Presépio, os Reis Magos de aspecto medieval – um deles parecia-lhe o D. Dinis, cuja imagem construíra na cabeça nos bancos da escola, e a culpa era toda de Eugénio Silva, o desenhador das histórias aos quadradinhos das Lições de História Pátria, livro para a 3.ª classe que até hoje contamina o seu imaginário. A alegria das crianças, delicioso lugar-comum. Tudo isso divertia, já adulto, o descrente que era, de homens e deuses, porém impregnado de cristianismo, fascinado por essa religião beduína e exótica.

Recuava, e via-se sentado com um álbum aberto, Valérian – O Embaixador das Sombras, enquanto a avó preparava os enfeites. Sagrada era a família, presentes e ausentes, banidos todos os arrufos e incompreensões do resto do ano. Havia o bom senso e a civilidade de nada trazer para a Consoada que pudesse perturbar a felicidade genuína e sempre fugaz. Retrocedia ainda mais, e via-se nessa imagem já muito ténue com a mãe, folheando o Astérix na Córsega pela primeira vez. A cada livro que abria na noite de Natal, à sombra dessa árvore de fantasia, eram elas quem de novo lhe faziam companhia.

BDTECA

Pulp. Pelo texto da editora, pela capa (por vezes também se deve julgar um livro pela capa…), percebe-se que há aqui coisa séria: “O que fazer quando sabemos que devíamos ter morrido novos, mas isso não acontece? Max Winter tinha outro nome e outra vida, há muito tempo. Agora, na Nova Iorque nos anos trinta, Max sobrevive a escrever para revistas as histórias superficialmente disfarçadas sobre o homem que em tempos foi, histórias da fronteira esquecida e de um fora-da-lei do faroeste que fazia a justiça a tiro. Mas, quando a sua vida começa a desmoronar, e ele vê o mundo à beira de uma guerra, com os Nazis a marcharem pela Europa e pelas ruas de Nova Iorque, Max dá consigo a pensar novamente como um fora-da-lei… E, uma vez tendo seguido por esse caminho, pode não haver volta atrás.” Romance gráfico com argumento de Ed Burbaker e desenhos de Sean Phillips, Pulp (literatura barata ou de cordel), algo que certamente este livro não será. Anotado. Edição G-Floy, 2020. 
 
Natal em Patópolis.  E o que seria do Natal sem a presença destes patos, ainda por cima com o traço de Carl Baks?… Huguinho, Zezinho e Luisinho pedem ao Tio Patinhas um roda gigante como presente. O velho sovina aquiesce na condição de Donald trazer do Canadá uma árvore descomunal. Esta e outras estórias de aventura & forretice na colecção dedicada ao criador do pato mais rico do mundo e também dos Irmãos Metralha, Professor Pardal e Lampadinha, Maga Patalójika ou Gastão. Edição Panini-Brasil, 2020.