Regresso às aulas. Filas à porta das escolas e muitas incertezas

Regresso às aulas. Filas à porta das escolas e muitas incertezas


Em algumas escolas, pais e alunos aglomeraram-se à porta dos estabelecimentos em dia de chuva. Diretores de turma e associações de pais não descartam alterar medidas de prevenção num futuro próximo. 


Filas intermináveis e ajuntamentos de pais e alunos à porta das escolas: foi este o cenário, quinta-feira, em alguns estabelecimentos de norte a sul do país no regresso ao ensino presencial – dia em que, seis meses depois, mais de 1,2 milhões de alunos voltaram a ter aulas nas escolas em tempos de covid-19. E a chuva – que também regressou em algumas localidades – não ajudou. “Foi muito mau! Tudo encharcado!_Fila na estrada” ou “que tristeza submeterem as nossas crianças a isto” são dois dos comentários que podem ser lidos nas redes sociais, onde muitos pais têm revelado a sua indignação. O_i sabe que, em algumas escolas, “o foco enorme” dos funcionários nas desinfeções e nas normas estabelecidas obrigou muitos pais e alunos a terem de esperar no exterior dos estabelecimentos escolares, provocando, por vezes, grandes ajuntamentos que se prolongaram por largos minutos, tal como aconteceu em várias escolas de Lisboa, nomeadamente na Escola EB 2,3 Eugénio dos Santos, em Alvalade, para onde a maioria dos pais levou os seus filhos nas viaturas próprias – que também acabaram por “entupir” as ruas.

“Claro que há vários problemas e, nestes casos em dias de chuva, há que fazer ajustes. E estes ajustes vão sendo feitos à medida que o tempo vai passando. Esta é a primeira semana de aulas. Mas, claro, se houver comportamentos responsáveis, poderão ser evitadas e prevenidas muitas consequências nefastas. Haverá, claro, questões a melhorar, não duvido disso”, admitiu ao i o presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, confessando até que esteve numa escola em que se deparou com “um ajuntamento de cinco minutos” – que acabou por ser resolvido rapidamente. “Há esses problemas”, adiantou, indicando que, por vezes, as dificuldades também passam pela atitude dos pais.

“Hoje ouvi uma mãe dizer que alguns miúdos são muito pequeninos para entender as normas devido à covid-19. Não é verdade. Aquilo que vemos também são pais junto às escolas sem cumprir as regras que estão escritas e definidas pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e que têm de ser cumpridas na via pública. E precisamos de dar esse exemplo aos pais”, referiu Jorge Ascenção, sublinhando, no entanto, que estas dificuldades surgem apenas em algumas escolas e que, “na maioria dos casos”, o regresso às aulas decorreu dentro da normalidade.

Já o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, foi mais longe e garantiu ao i que esses problemas foram apenas detetados em casos pontuais. “Para já, do que me tenho apercebido, as coisas estão a decorrer normalmente, com regularidade. Mas admito que a chegada da chuva é um problema acrescido, até mesmo quando não havia covid-19. Nesse sentido, se as escolas tiverem de alterar algumas das regras ou procedimentos que adotaram, em virtude de algumas situações, claro que o irão fazer”, explicou, sublinhando que os estabelecimentos de ensino têm de ter a “humildade” de se ajustar às situações.

“Estamos a navegar à vista, perto da costa, portanto têm de ser planos a curtíssimo prazo. E os pais também têm a obrigação de nos ajudar e dizer quais as situações menos positivas. Tudo o que esteja menos bem, estamos aqui dispostos para alterar”, acrescentou.

 

Falta de comunicação entre escolas e pais

Para evitar o ajuntamento de pais e alunos nas escolas, a melhor solução seria criar horários faseados para que os alunos não fossem para a escola à mesma hora do dia, diz Jorge Ascenção. Mas a falta de diálogo entre as escolas e os encarregados de educação ainda não permitiu que isso aconteça em todos os estabelecimentos.

“Há escolas que deixaram tudo para hoje [ontem]. As escolas deveriam informar os pais de diferentes horários para que se pudessem apresentar a uma determinada hora e que o aluno pudesse entrar logo para a sala de aulas. Se isto não for dito – e aconteceu em alguns casos –, os pais ficam aglomerados junto à escola e depois fica um ajuntamento de pessoas. E aí é que é preciso ter cuidado. Se as escolas tiverem horários faseados, não é necessário irmos todos à mesma hora”, revelou, acrescentando ainda que, por vezes, os horários de trabalho dos pais também não são devidamente flexíveis.

“Esse é outro problema. As empresas em que os pais trabalham não acompanham os horários dos filhos e têm de os deixar sempre a uma determinada hora nas escolas”, lembrou Jorge Ascenção.

pais com receio do futuro Na Escola EB1 de Eixo, em Aveiro, o regresso às aulas presenciais decorreu dentro da normalidade. Mas Paulo Barroca, cujo filho de 12 anos está a iniciar o sétimo ano de escolaridade, não acredita que todos estes cuidados devido à covid-19 durem muito tempo. Ao i, revelou que poderá ser sol de pouca dura.

“Aqui felizmente não choveu. Mas as crianças estão a esperar pela entrada na escola cá fora. Nos dias de chuva vai ser difícil essa espera. À entrada não havia ajuntamentos, havia até bastante ordem. Aquilo que eu duvido é que se consiga manter este nível de disciplina, tanto em alunos como em funcionários, durante muito tempo”, confessou.

A mesma organização não aconteceu no Jardim de Infância e Primeiro Ciclo do Bárrio, em Roriz, Barcelos, onde pais e encarregados de educação bloquearam o acesso à escola com troncos nas entradas do edifício e tarjas colocadas no gradeamento. Exigem distanciamento físico e protestam contra o encerramento de uma sala de aulas, bem como contra a existência de turmas mistas.