Os invisíveis do espetáculo


São mais de 1500 postos de trabalho diretos e cerca de 3 mil indiretos, muitos em situação de precariedade, que não lhes permite aceder a apoios sociais de desemprego.


Por vontade deles, seriam invisíveis mas, como não podem, vestem-se de preto para serem discretos. Quando vamos a um concerto ou um festival nem damos conta da existência de um miniexército de técnicos que, com precisão cirúrgica, se move no fundo do palco. São esses e outros profissionais do espetáculo que fazem tudo acontecer.

Técnicos de som, iluminação, vídeo, riggers, stage hands, roadies e tantas outras coisas que muitos de nós não sabemos sequer o que querem dizer. No palco, são essenciais mas, na crise, a invisibilidade prejudica-os. 

Com a proibição e o cancelamento de festivais, conferências, produções audiovisuais e concertos, sem casamentos, nem bailes, nem festas ou romarias, ficaram sem trabalho. Os concertos em casa e os espetáculos online, ainda que pagos aos artistas, dispensam muitos destes profissionais vocacionados para montar palcos, luzes, som em eventos maiores ou menores mas, geralmente, ao vivo.

Num setor onde os apoios escasseiam, muitos ficaram simultaneamente sem rendimento e sem acesso a apoios. Segundo um inquérito realizado pela Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos (APSTE), “durante o mês de maio, 93% das empresas associadas não efetuaram despedimentos até à data, mas 60% recorreram ao layoff”.
São muitos meses sem rendimento num setor em que a retoma não se prevê para breve. Não há horizonte de esperança que não seja o da erradicação da pandemia e ninguém sabe quando isso vai acontecer. Com muitos trabalhadores já a passar dificuldades, a preocupação aumenta quando ouvimos que “56% das empresas disseram-nos que a partir de julho não terão capacidade para assegurar os pagamentos”.

São mais de 1500 postos de trabalho diretos e cerca de 3 mil indiretos, muitos em situação de precariedade, que não lhes permite aceder a apoios sociais de desemprego. Num país onde trabalhar para a cultura é ser precário, a pandemia veio recordar a necessidade de lutar por estatutos profissionais dignos, regimes contributivos justos e apoios para aguentar esta gente enquanto a retoma não chegar.

Se não há horizonte para o regresso ao trabalho dos profissionais do espetáculo, cabe ao Governo garantir que a sua única perspetiva não é passar fome. É preciso direcionar apoios para preservar estes empregos, até porque, um dia, tudo isto vai resolver-se, ou talvez reinventar-se, e todos vamos querer voltar aos Santos Populares, às festas e aos festivais. 
“Queremos um dia voltar” foi o mote do protesto organizado pelos técnicos do espetáculo que, na passada terça-feira, encheu o Terreiro do Paço de flight cases (as caixas pretas usadas para transportar equipamento). Centenas de pessoas, trabalhadores independentes ou das empresas, empresários e gente solidária juntaram-se para reivindicarem “apoios governamentais que nos ajudem a sobreviver”. 

Estão certos. Para que, um dia, todos possamos voltar aos espetáculos é preciso impedir que este setor sufoque lentamente, o que seria um desastre para a cultura em Portugal. 

Deputada do Bloco de Esquerda

Os invisíveis do espetáculo


São mais de 1500 postos de trabalho diretos e cerca de 3 mil indiretos, muitos em situação de precariedade, que não lhes permite aceder a apoios sociais de desemprego.


Por vontade deles, seriam invisíveis mas, como não podem, vestem-se de preto para serem discretos. Quando vamos a um concerto ou um festival nem damos conta da existência de um miniexército de técnicos que, com precisão cirúrgica, se move no fundo do palco. São esses e outros profissionais do espetáculo que fazem tudo acontecer.

Técnicos de som, iluminação, vídeo, riggers, stage hands, roadies e tantas outras coisas que muitos de nós não sabemos sequer o que querem dizer. No palco, são essenciais mas, na crise, a invisibilidade prejudica-os. 

Com a proibição e o cancelamento de festivais, conferências, produções audiovisuais e concertos, sem casamentos, nem bailes, nem festas ou romarias, ficaram sem trabalho. Os concertos em casa e os espetáculos online, ainda que pagos aos artistas, dispensam muitos destes profissionais vocacionados para montar palcos, luzes, som em eventos maiores ou menores mas, geralmente, ao vivo.

Num setor onde os apoios escasseiam, muitos ficaram simultaneamente sem rendimento e sem acesso a apoios. Segundo um inquérito realizado pela Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos (APSTE), “durante o mês de maio, 93% das empresas associadas não efetuaram despedimentos até à data, mas 60% recorreram ao layoff”.
São muitos meses sem rendimento num setor em que a retoma não se prevê para breve. Não há horizonte de esperança que não seja o da erradicação da pandemia e ninguém sabe quando isso vai acontecer. Com muitos trabalhadores já a passar dificuldades, a preocupação aumenta quando ouvimos que “56% das empresas disseram-nos que a partir de julho não terão capacidade para assegurar os pagamentos”.

São mais de 1500 postos de trabalho diretos e cerca de 3 mil indiretos, muitos em situação de precariedade, que não lhes permite aceder a apoios sociais de desemprego. Num país onde trabalhar para a cultura é ser precário, a pandemia veio recordar a necessidade de lutar por estatutos profissionais dignos, regimes contributivos justos e apoios para aguentar esta gente enquanto a retoma não chegar.

Se não há horizonte para o regresso ao trabalho dos profissionais do espetáculo, cabe ao Governo garantir que a sua única perspetiva não é passar fome. É preciso direcionar apoios para preservar estes empregos, até porque, um dia, tudo isto vai resolver-se, ou talvez reinventar-se, e todos vamos querer voltar aos Santos Populares, às festas e aos festivais. 
“Queremos um dia voltar” foi o mote do protesto organizado pelos técnicos do espetáculo que, na passada terça-feira, encheu o Terreiro do Paço de flight cases (as caixas pretas usadas para transportar equipamento). Centenas de pessoas, trabalhadores independentes ou das empresas, empresários e gente solidária juntaram-se para reivindicarem “apoios governamentais que nos ajudem a sobreviver”. 

Estão certos. Para que, um dia, todos possamos voltar aos espetáculos é preciso impedir que este setor sufoque lentamente, o que seria um desastre para a cultura em Portugal. 

Deputada do Bloco de Esquerda