Esta segunda-feira, as pessoas em situação de sem-abrigo vão manifestar-se, pela primeira vez, em frente à Assembleia da República. O protesto foi marcado por um grupo de pessoas que vivem na rua e, em comunicado, referem que “a revolução que vai haver não é de cravos nem de rosas, é de sem abrigo”.
Estas pessoas dizem sentir-se desprezadas todos os dias e que cada vez há mais pessoas a viver na rua. “A promessa de Marcelo Rebelo de Sousa foi tirar os sem-abrigo da rua, dar-lhes dignidade e dar-lhes uma casa, mas cada vez há mais despejos, mais desemprego, mais pessoas na rua e menos respostas”, lê-se no comunicado.
Neste momento, há pessoas que, depois de terem ficado sem emprego, deixaram de conseguir pagar a renda e a única solução que encontraram foi viver na rua. E, depois de estar na rua, a situação complica-se a cada dia. “Ninguém dá trabalho a um sem-abrigo. Perguntam-nos ‘onde reside?’, respondemos ‘na rua’. E aí já não há conversa, a entrevista acaba ali”, diz o grupo que está a organizar a manifestação.
As alternativas ao chão da rua são os albergues, mas as pessoas em situação de sem-abrigo recusam essa opção. “Não têm condições, têm percevejos, porcaria, quartos pequenos com 18 pessoas, as pessoas roubam-se umas ás outras. Cada pessoa tem um número, ali o nome não existe. Quando se entra para ali, é como uma prisão: não és mais do que um número”, acrescentou o grupo. Esta segunda-feira, as pessoas em situação de sem-abrigo pedem uma morada: “A Câmara Municipal de Lisboa e a Santa Casa da Misericórdia têm tanta casa fechada, queremos abri-las e organizá-las”.
A manifestação acontece uma semana depois dos despejos no Largo de Santa Bárbara, na freguesia de Arroios. O grupo Seara, uma associação recente de apoio às pessoas em situação de sem-abrigo, foi despejado por seguranças privados enviados pelos novos proprietários do edifício. A associação ocupou o prédio no início de maio, alegando que o mesmo estava abandonado e que tanto a PSP como a Câmara Municipal de Lisboa foram devidamente informadas, apesar de nunca ter existido uma resposta. As pessoas que estavam a dormir no edifício foram realojadas pela autarquia de Lisboa – algumas encaminhadas para a Santa Casa da Misericórdia, outras para centros de acolhimento -, sendo esta solução temporária.