Basta de vandalismo discursivo: Já chega o que chega!


Algumas intervenções públicas não rebaixam apenas quem as assume; atentam sobretudo contra a confiança que os cidadãos devem ter nas instituições democráticas.


A discussão política, a expressão de opiniões e comentários, o simples diálogo social e até, mais recentemente, a análise de temas científicos que ocorrem nos média e nas redes sociais têm vindo a ser crescentemente infetadas pelo vírus da boçalidade, por um doloso vandalismo verbal e escrito.

Não me refiro à afirmação direta e contundente de opiniões – durante muito tempo criticada na seráfica sociedade portuguesa de antigamente –, mas ao gosto primário pela agressão e insinuação ultrajantes que, afinal, nada têm de sincero ou corajoso.

Se os média são, frequentemente, responsáveis e coniventes com tal prática, pois ignoram e não filtram os comentários mais soezes que, muitas vezes, a coberto do anonimato ou de alcunhas ridículas, são neles expressos cobardemente, mais grave, muito mais grave, é o que se passa em algumas redes sociais, como acontece, por exemplo, no Facebook.

Nestas últimas, muita gente parece despir-se de todo o tipo de civilidade indispensável ao são convívio social e à dialética democrática, revelando-se como verdadeiramente é: gente sem qualquer pejo em, despudoradamente, agredir os outros.

Muito desse estilo boçal nasceu, é sabido, nos debates televisivos sobre desporto, em especial sobre futebol.

O mundo cão de muitos debates sobre futebol e, sobretudo, sobre a vida dos seus clubes e dirigentes, deu o mote, e o circo mediático logo aplaudiu e aceitou reproduzi-lo noutros palcos, muitas vezes, até com os mesmos protagonistas.

Mas o que é mais grave, o que nos deve fazer pensar seriamente sobre o que se está a passar, é a inadequada condição institucional e funcional de alguns dos intervenientes em alguns desses formatos e plataformas de discussão pública.

A coberto – e mesmo a descoberto – desses meios formais e informais de expressão, podemos ler intervenções, chocantes umas e, no mínimo, pouco criteriosas outras, de alguns políticos, funcionários públicos, agentes policiais e até magistrados, cidadãos que, pela sua condição, estão, ou deviam estar, obrigados a um comportamento cívico exemplar.

Casos há em que nada nem ninguém, inclusive nas instituições que devem servir, lhes parece merecer o mínimo respeito ou consideração.

Nenhum tema, por mais sério e merecedor de apurado cuidado e sensibilidade de tratamento, os demove do uso irrestrito de um palavreado menos próprio nos grupos de discussão fechados ou abertos em que participam.

Tais intervenções não rebaixam, no entanto, apenas quem as assume; atentam sobretudo contra a confiança que os cidadãos devem ter nas instituições democráticas.

Por isso são tão do agrado dos novos populistas – aqui e em outros países –, que as incentivam e delas usam e abusam para minar a democracia.

Sempre lutei e defendi o direito da livre intervenção na vida pública de funcionários, magistrados e mesmo dos elementos das forças policiais, direito que, por isso, sempre pratiquei sem reservas, sem que ninguém me tenha acusado de rudeza e de ofender quem quer que fosse.

Sempre fui, também, contra todo o tipo de censura na expressão da crítica ao teor das decisões políticas, judiciais ou administrativas.

Enquanto dirigente sindical, ainda jovem, e em momentos verdadeiramente delicados no relacionamento hierárquico da magistratura a que pertenço, então muito mais formal do que hoje, dei inclusive a cara na defesa de colegas acusados injustamente, em meu entender, de exercerem tal direito.

Mas, dito isto, era bom que, hoje, as instituições democráticas e as hierarquias das magistraturas, das forças policiais e da função pública atentassem na boçalidade crescente de alguma da atual intervenção pública dos que nelas servem.

É que certo tipo de linguagem que alguns usam nas suas intervenções públicas – quando não já profissionais –, descobre também, não raramente, o tipo agressivo de relacionamento que praticam com os cidadãos.

Mesmo quando não revestem natureza criminal, tais discursos demonstram, em todo o caso, objetiva e abertamente, uma inadequada incompreensão dos que os fazem em relação às funções que exercem e à cultura das instituições democráticas em que se integram.

Tais discursos não podem, por isso, ser pura e simplesmente ignorados; antes devem, com todo o cuidado e contenção democrática, ser alvo da atenção e de uma intervenção pedagógica por parte dos responsáveis por essas instituições.

Se nada for feito a este respeito, é o serviço público, a maioria dos seus servidores e os cidadãos em geral que sairão agravados; são a democracia e as liberdades cívicas que sairão a perder.

 

 


Basta de vandalismo discursivo: Já chega o que chega!


Algumas intervenções públicas não rebaixam apenas quem as assume; atentam sobretudo contra a confiança que os cidadãos devem ter nas instituições democráticas.


A discussão política, a expressão de opiniões e comentários, o simples diálogo social e até, mais recentemente, a análise de temas científicos que ocorrem nos média e nas redes sociais têm vindo a ser crescentemente infetadas pelo vírus da boçalidade, por um doloso vandalismo verbal e escrito.

Não me refiro à afirmação direta e contundente de opiniões – durante muito tempo criticada na seráfica sociedade portuguesa de antigamente –, mas ao gosto primário pela agressão e insinuação ultrajantes que, afinal, nada têm de sincero ou corajoso.

Se os média são, frequentemente, responsáveis e coniventes com tal prática, pois ignoram e não filtram os comentários mais soezes que, muitas vezes, a coberto do anonimato ou de alcunhas ridículas, são neles expressos cobardemente, mais grave, muito mais grave, é o que se passa em algumas redes sociais, como acontece, por exemplo, no Facebook.

Nestas últimas, muita gente parece despir-se de todo o tipo de civilidade indispensável ao são convívio social e à dialética democrática, revelando-se como verdadeiramente é: gente sem qualquer pejo em, despudoradamente, agredir os outros.

Muito desse estilo boçal nasceu, é sabido, nos debates televisivos sobre desporto, em especial sobre futebol.

O mundo cão de muitos debates sobre futebol e, sobretudo, sobre a vida dos seus clubes e dirigentes, deu o mote, e o circo mediático logo aplaudiu e aceitou reproduzi-lo noutros palcos, muitas vezes, até com os mesmos protagonistas.

Mas o que é mais grave, o que nos deve fazer pensar seriamente sobre o que se está a passar, é a inadequada condição institucional e funcional de alguns dos intervenientes em alguns desses formatos e plataformas de discussão pública.

A coberto – e mesmo a descoberto – desses meios formais e informais de expressão, podemos ler intervenções, chocantes umas e, no mínimo, pouco criteriosas outras, de alguns políticos, funcionários públicos, agentes policiais e até magistrados, cidadãos que, pela sua condição, estão, ou deviam estar, obrigados a um comportamento cívico exemplar.

Casos há em que nada nem ninguém, inclusive nas instituições que devem servir, lhes parece merecer o mínimo respeito ou consideração.

Nenhum tema, por mais sério e merecedor de apurado cuidado e sensibilidade de tratamento, os demove do uso irrestrito de um palavreado menos próprio nos grupos de discussão fechados ou abertos em que participam.

Tais intervenções não rebaixam, no entanto, apenas quem as assume; atentam sobretudo contra a confiança que os cidadãos devem ter nas instituições democráticas.

Por isso são tão do agrado dos novos populistas – aqui e em outros países –, que as incentivam e delas usam e abusam para minar a democracia.

Sempre lutei e defendi o direito da livre intervenção na vida pública de funcionários, magistrados e mesmo dos elementos das forças policiais, direito que, por isso, sempre pratiquei sem reservas, sem que ninguém me tenha acusado de rudeza e de ofender quem quer que fosse.

Sempre fui, também, contra todo o tipo de censura na expressão da crítica ao teor das decisões políticas, judiciais ou administrativas.

Enquanto dirigente sindical, ainda jovem, e em momentos verdadeiramente delicados no relacionamento hierárquico da magistratura a que pertenço, então muito mais formal do que hoje, dei inclusive a cara na defesa de colegas acusados injustamente, em meu entender, de exercerem tal direito.

Mas, dito isto, era bom que, hoje, as instituições democráticas e as hierarquias das magistraturas, das forças policiais e da função pública atentassem na boçalidade crescente de alguma da atual intervenção pública dos que nelas servem.

É que certo tipo de linguagem que alguns usam nas suas intervenções públicas – quando não já profissionais –, descobre também, não raramente, o tipo agressivo de relacionamento que praticam com os cidadãos.

Mesmo quando não revestem natureza criminal, tais discursos demonstram, em todo o caso, objetiva e abertamente, uma inadequada incompreensão dos que os fazem em relação às funções que exercem e à cultura das instituições democráticas em que se integram.

Tais discursos não podem, por isso, ser pura e simplesmente ignorados; antes devem, com todo o cuidado e contenção democrática, ser alvo da atenção e de uma intervenção pedagógica por parte dos responsáveis por essas instituições.

Se nada for feito a este respeito, é o serviço público, a maioria dos seus servidores e os cidadãos em geral que sairão agravados; são a democracia e as liberdades cívicas que sairão a perder.