Não vai ficar tudo bem


Há muito que a humanidade vê no arco-íris um sinal de esperança. Na Bíblia, encontramo-lo na história de Noé.


Ninguém ficou indiferente à mensagem que tem sido amplamente divulgada e que junta um arco-íris à frase “Vai ficar tudo bem”. Por cá, exigimos a verdade e por isso pedimos que os órgãos oficiais sejam transparentes nos números que apresentam, nas previsões, nas promessas e em tudo o que envolve a pandemia de covid-19. Mas queremos mesmo que nos digam toda a verdade?

Desde muito cedo que a humanidade vê no arco-íris um sinal de esperança. Na Bíblia, encontramo-lo na história de Noé.

Por ser um homem justo e bom, Deus escolhe Noé para recomeçar. Recordemos que a visão sobre Deus, segundo o Antigo Testamento, é a de um justiceiro e vingador a quem deveríamos temer e agradar. É neste contexto que Ele, ao ver a decadência dos homens, decide, em tom de castigo, aniquilar a humanidade de modo a começar de novo. Provoca um dilúvio que em pouco tempo dizima todas as nações à face da terra, dando à descendência de Noé a possibilidade de gerar uma nova linhagem e fazendo surgir nos céus um arco-íris como sinal da aliança que determina celebrar com os homens. Daí em diante, sempre que alguém o visse, recordar-se-ia desta aliança: nunca mais voltar a exterminar o ser humano da face da Terra. Quem é cristão vê na ressurreição de Cristo, festejada recentemente, a certeza de que tudo ficará bem. Esta ideia já tem pelo menos dois milénios, mas de pouco nos tem servido.

Voltando à questão inicial. Não, não vai ficar tudo bem. Quem morreu não volta, a economia ficará arrasada, haverá menos dinheiro ao final do mês e muitas empresas hão de fechar definitivamente. Aliás, o que significa “ficar tudo bem”? Por acaso será voltar à normalidade das nossas vidas, tal como eram antes da pandemia? Significa voltar a produzir desenfreadamente, poluindo cada vez mais a natureza? Significa voltar a não ter tempo para os filhos, para toda a família que nos rodeia ou simplesmente para escutar a brisa da manhã? Se assim for, então definitivamente que não, não ficará tudo bem. Voltará a estar tudo mal.

Porque não sou um pessimista por natureza, vejo nas dificuldades oportunidades. E porque nenhum de nós é intrinsecamente mau, pode ser que haja espaço para algumas mudanças. Recorde-se que, no mínimo, o nosso bem não deve ser um mal para o outro. Queremos a verdade, mas temos medo dela. Estamos assustados com o que pode vir a acontecer-nos. Especula-se, mas não se sabe ao certo o que verdadeiramente nos espera. Ocorre-me, por isso, a imagem do pai que contempla o filho e, num momento terminal, lhe segreda: “Vai ficar tudo bem”.

 

Professor e investigador


Não vai ficar tudo bem


Há muito que a humanidade vê no arco-íris um sinal de esperança. Na Bíblia, encontramo-lo na história de Noé.


Ninguém ficou indiferente à mensagem que tem sido amplamente divulgada e que junta um arco-íris à frase “Vai ficar tudo bem”. Por cá, exigimos a verdade e por isso pedimos que os órgãos oficiais sejam transparentes nos números que apresentam, nas previsões, nas promessas e em tudo o que envolve a pandemia de covid-19. Mas queremos mesmo que nos digam toda a verdade?

Desde muito cedo que a humanidade vê no arco-íris um sinal de esperança. Na Bíblia, encontramo-lo na história de Noé.

Por ser um homem justo e bom, Deus escolhe Noé para recomeçar. Recordemos que a visão sobre Deus, segundo o Antigo Testamento, é a de um justiceiro e vingador a quem deveríamos temer e agradar. É neste contexto que Ele, ao ver a decadência dos homens, decide, em tom de castigo, aniquilar a humanidade de modo a começar de novo. Provoca um dilúvio que em pouco tempo dizima todas as nações à face da terra, dando à descendência de Noé a possibilidade de gerar uma nova linhagem e fazendo surgir nos céus um arco-íris como sinal da aliança que determina celebrar com os homens. Daí em diante, sempre que alguém o visse, recordar-se-ia desta aliança: nunca mais voltar a exterminar o ser humano da face da Terra. Quem é cristão vê na ressurreição de Cristo, festejada recentemente, a certeza de que tudo ficará bem. Esta ideia já tem pelo menos dois milénios, mas de pouco nos tem servido.

Voltando à questão inicial. Não, não vai ficar tudo bem. Quem morreu não volta, a economia ficará arrasada, haverá menos dinheiro ao final do mês e muitas empresas hão de fechar definitivamente. Aliás, o que significa “ficar tudo bem”? Por acaso será voltar à normalidade das nossas vidas, tal como eram antes da pandemia? Significa voltar a produzir desenfreadamente, poluindo cada vez mais a natureza? Significa voltar a não ter tempo para os filhos, para toda a família que nos rodeia ou simplesmente para escutar a brisa da manhã? Se assim for, então definitivamente que não, não ficará tudo bem. Voltará a estar tudo mal.

Porque não sou um pessimista por natureza, vejo nas dificuldades oportunidades. E porque nenhum de nós é intrinsecamente mau, pode ser que haja espaço para algumas mudanças. Recorde-se que, no mínimo, o nosso bem não deve ser um mal para o outro. Queremos a verdade, mas temos medo dela. Estamos assustados com o que pode vir a acontecer-nos. Especula-se, mas não se sabe ao certo o que verdadeiramente nos espera. Ocorre-me, por isso, a imagem do pai que contempla o filho e, num momento terminal, lhe segreda: “Vai ficar tudo bem”.

 

Professor e investigador