Quem não tem dinheiro vai viver de quê?


Quem tem dinheiro não o vai perder e quem não o tem vai para a miséria mais absoluta. Daí, como é óbvio, os conflitos sociais vão disparar e vai haver muita gente na rua à procura de comida.


Sempre tive como máxima no jornalismo que o nosso papel, entre outros, é antever problemas. A função dos jornalistas não é serem mensageiros do Diário da República, órgão oficial do Governo – embora existam outros, não oficiais –, mas sim denunciar os problemas com que a população se debate. Sejam ricos, pobres, brancos, negros, amarelos, LGBT, polígamos, etc.

Há quem opte por ser apenas pé de microfone do Governo, atitude louvável mas que apenas revela a pequenez da sua vida. “O ministro tal ligou-me”, ai que excitação, pavoneiam-se os jornalistas do regime. Independentemente dos “fretistas”, que os há em todo o lado, a realidade não se faz de acordo com os partidos que estão no Governo ou na oposição.

É na rua, falando com todos, que percebemos os problemas reais. E a realidade, neste momento, é cruel. A sociedade portuguesa assenta, e muito, em negócios familiares e de quem vive da jorna: do salário ao dia que não deixa recibos para trás. É mau? Seguramente. Mas são todos os largos milhares que trabalhavam na restauração, jardinagem, oficinas, cabeleireiros familiares, como empregadas domésticas, nos bares e discotecas, entre tantos outros, que não vão ter dinheiro para comprar comida nos próximos tempos.

O que será dessas pessoas? Nesta edição damos conta do drama das prostitutas que, apesar do perigo público, e não respeitando qualquer estado de emergência, se veem obrigadas a trabalhar para o seu sustento. A verdade é que nenhum país do sul, no que à Europa diz respeito, estava preparado para enfrentar um drama destes, em que não há trabalho, logo não há dinheiro.

Pode parecer completamente louco, mas a União Europeia tem de fazer um reset e começar tudo de novo. É preciso um “Plano Marshall” para revigorar a economia das empresas e das pessoas. Não faz sentido que os políticos e as grandes fortunas não aprendam nada com esta nova realidade. Quem tem dinheiro não o vai perder e quem não o tem vai para a miséria mais absoluta. Daí, como é óbvio, os conflitos sociais vão disparar e vai haver muita gente na rua à procura de comida. Não é que ela não exista, o problema é que muita gente não vai ter dinheiro para a comprar.