A balbúrdia num país à beira de um ataque de nervos


 Acontece que D. Dolores está hospitalizada e, como tal, não devia receber qualquer visita de quem quer que fosse que tenha estado num país de risco. Esta história é bem o retrato de como estamos a enfrentar o drama do coronavírus. Com os pés.


É a grande balbúrdia e ninguém se entende. Há universidades que decidem fechar, enquanto outras continuam abertas. Há câmaras que encerram ginásios, piscinas ou bibliotecas, e outras mantêm tudo aberto. Há teatros e cinemas às escuras enquanto, noutras localidades, os espetadores podem continuar a frequentar esses locais.

Há algum dado concreto – se excetuarmos os casos de Lousada e Felgueiras – para as decisões serem tão díspares? Não. O que se passa é que o país não aprendeu com os bons exemplos – Macau – nem com os maus – Itália. Chegámos ao ridículo de mandar para casa milhares de alunos, que aproveitaram essa liberdade para fazerem festas uns com os outros e com mais alguns.

Os casos de Lousada e de Felgueiras são sintomáticos. Quem devia estar de quarentena anda a passear a sua classe pelas ruas das duas localidades, e, quem sabe, noutras zonas do país. Não sou técnico de saúde, mas não é preciso ser um génio para perceber que há alguma coisa que não bate certo. Em Macau, onde não há nenhum caso positivo – houve dez, mas passaram a negativo –, ninguém entra na região sem ser controlado.

Quem atesta que não esteve em nenhuma zona “contaminada” mas passou por países onde há casos conhecidos, mesmo que poucos, é sujeito a um despiste de seis a oito horas em que lhe é medida a temperatura de duas em duas horas. Quem saiu de um dos países críticos – China, Coreia do Sul, Japão, Itália, Espanha, França e Alemanha – fica obrigatoriamente de “catorzena”, leia-se 14 dias isolado.

Já em Itália é a tal balbúrdia que se estende a Portugal. Por cá, quem vem de algum desses países não é sujeito a qualquer controlo nos aeroportos. Isto faz algum sentido? Um exemplo: Ronaldo saiu de Turim e pôde ir ver a mãe ao hospital. O jogador, com a melhor das intenções, quis ir dar conforto à sua progenitora. Acontece que D. Dolores está hospitalizada e, como tal, não devia receber qualquer visita de quem quer que fosse que tenha estado num país de risco. Esta história é bem o retrato de como estamos a enfrentar o drama do coronavírus. Com os pés.