Pulseira amarela ou a eutanásia à portuguesa


Atendem quantas pulseiras amarelas no tempo devido? Ontem, talvez pelo eco que se fez do caso de Lamego, ficou a saber-se que outro utente dos hospitais públicos, neste caso o de Beja, morreu no dia 31 de janeiro, depois de esperar mais de três horas por um médico, apesar de também ter recebido a pulseira…


Há uns anos, uma médica amiga que estava envolvida, de alguma forma, no processo de avaliação aos novos profissionais de saúde contou-me como ficou chocada com uma das respostas dos candidatos: “O que o leva a ser médico?”, era a pergunta. Uma boa percentagem respondeu que a principal motivação era a financeira. Na semana passada, ao ouvir a viúva de um homem que morreu no hospital de Lamego depois de esperar seis horas para ser visto por um médico, apesar de na triagem ter recebido pulseira amarela – segundo o protocolo de Manchester, os doentes que recebem tal pulseira têm de ser vistos no espaço máximo de uma hora –, fiquei a pensar na história que a minha amiga me tinha contado há uns bons anos. “Quando o meu marido começou a desfalecer, os médicos, para aí uns seis, começaram a aparecer de todos os lados”, disse, mais coisa menos coisa, a viúva a um canal de televisão que não me recordo qual. Não estava lá e, por isso, não posso dizer por que razão um doente com pulseira amarela esperou seis horas, mas seria de os responsáveis do hospital explicarem como tal foi possível. É que a senhora falou em seis médicos que surgiram do nada. Qual a razão para isto acontecer? É por a comunicação social não matraquear de manhã à noite o tema? Os tais seis médicos, se é que todos o eram, estiveram sempre ocupados com casos mais graves? Haverá estudos sobre o que fazem os médicos quando estão no serviço de urgências? Atendem quantas pulseiras amarelas no tempo devido? Ontem, talvez pelo eco que se fez do caso de Lamego, ficou a saber-se que outro utente dos hospitais públicos, neste caso o de Beja, morreu no dia 31 de janeiro, depois de esperar mais de três horas por um médico, apesar de também ter recebido a pulseira amarela. A ministra da Saúde não tem nada a dizer sobre isto? O bastonário dos médicos também se mantém em silêncio? Não será então melhor acabarem com o protocolo de Manchester? É que, se acabar, já ninguém questiona por que motivo um doente urgente fica horas à espera de ser atendido. Digamos que passa a ser uma forma de eutanásia à portuguesa.