No país do excedente e da luz com IVA de 23%


Se pode ser discutível até que ponto a descida do IVA da luz resolve os problemas, e se serão outras as medidas necessárias, torna-se difícil festejar o primeiro Orçamento com excedente em democracia e que mantém, por agora, o IVA da luz na taxa máxima num país onde um terço da população de uma região…


Um estudo do Instituto Politécnico da Guarda, que será apresentado esta terça-feira, conclui que um terço dos habitantes das Beiras e serra da Estrela vive em condições indignas e em situação de “grave carência habitacional”, seja em questões de acessibilidade, saneamento ou conforto térmico.

Depois de a reta final da aprovação do Orçamento no Parlamento ter ficado marcada pelos avanços e recuos na descida do IVA da eletricidade – uma discussão que acabou por resumir-se, no seu ocaso, a quem estava com quem, mais do que ao que faria ou não diferença na vida dos portugueses –, o alerta leva-nos de novo à realidade de um país que aparece nos rankings como dos melhores sítios para viver, mas onde as desigualdades continuam a ser tremendas e uma parte considerável da população não tem meios suficientes para o que devia ser básico: ter uma casa de banho, ligar um aquecedor, isolar janelas e portas.

Se pode ser discutível até que ponto a descida do IVA da luz resolve os problemas, e se serão outras as medidas necessárias, torna-se difícil festejar o primeiro Orçamento com excedente em democracia e que mantém, por agora, o IVA da luz na taxa máxima num país onde um terço da população de uma região vive em condições indignas.

Não bate certo. Resta saber o que concluiria um estudo destes a nível nacional, conhecidas que são as dificuldades crescentes em ter casa nas grandes cidades e periferias e as pessoas que se veem hoje de novo na necessidade de viver em quartos porque os salários só lhes dão para isso.

Antes deste trabalho do IPG, não faltavam indicadores: dois milhões de portugueses em risco de pobreza, um quinto que não consegue aquecer a casa, com as repercussões que isso tem no dia-a-dia e na saúde pública – por algum motivo estaremos entre os países onde as mortes mais aumentam no inverno. Talvez com exemplos concretos deste estudo da Guarda, o problema se torne mais premente e ajude a ordenar prioridades e políticas. Dá que pensar: é para este interior que quem se mudar vai receber um apoio de 4800 euros?