Alverca é a solução apontada por Carmona Rodrigues, ex-presidente da Câmara de Lisboa, para um novo hub em Lisboa e a funcionar como complemento do aeroporto da Portela. A ideia é funcionar como uma alternativa ao projeto Montijo e o estudo já foi apresentado ao Ministério das Infraestruturas em nome da sociedade civil.
A proposta deste grupo de especialistas – que inclui um ex-presidente da APA e José Furtado, especialista português no setor – prevê que a infraestrutura conte com a construção de mais uma pista – usa as três já existentes, totalizando as quatro – e seja capaz de gerir 75 milhões de passageiros e 500 mil movimentos anuais de aviões. No entanto, numa primeira fase, a ideia é abranger apenas 67 milhões de passageiros. “É uma solução que conta com melhores acessos, apresenta menor impacto ambiental, apesar de contemplar uma pista sobre o mouchão, e terá menos custos face à solução Montijo, que continua em cima da mesa, tanto que terá a vantagem de funcionar com os acessos rodoferroviários existentes, o que simplifica bastante todo este projeto”, referiu ao i José Furtado, um dos responsáveis por este projeto
. Como funcionaria? A Portela seria transformada em aeroporto secundário e receberia apenas viagens de médio curso, enquanto Alverca receberia os voos de longo curso. “Neste caso, o hub seria em Alverca e não na Portela, como está previsto com a solução Montijo. Não há nenhuma cidade da Europa com um hub no centro da cidade”, garante.
Os promotores do estudo sobre Alverca agora lançado dizem ainda que a opção pelo Montijo foi da concessionária, e não do Governo. Afirmam que ainda há tempo para debate nesta questão, que dizem ter consequências de longo prazo para o país. “A solução Montijo é má demais. A pista não tem comprimento e apresenta maiores impactos ambientais”, refere José Furtado, acrescentando que “facilmente o Governo poderá apresentar outra alternativa, já que esta figura contratual está presente no contrato que foi celebrado”. Ao mesmo tempo, chama a atenção para os prazos de conclusão, que no caso de Alverca são mais curtos: 2024 para 2029, no caso do Montijo.
Mas a ideia desta localização não é nova. Em abril, o presidente do Aliança também tinha apontado esta solução. De acordo com Pedro Santana Lopes, esta seria a alternativa “mais lógica e mais racional”, apontando razões de “acesso”, “segurança” ou “rapidez”, pondo de parte a ideia do Montijo.
Desde logo, apontou Santana Lopes, “90% das origens e destinos” passam por Lisboa, considerando ser um “número significativo”. Tendo em conta que Alverca fica na mesma margem que Lisboa, é a “solução certa, do lado certo”, defende.
O responsável afirmou ainda que a solução de Alverca era “mais valiosa” porque seria possível “aproveitar a linha ferroviária que já existe, com ligação nacional e internacional”, sendo este um “ativo inestimável” Além disso, a ligação de transportes a Alverca seria “mais rápida” face ao Montijo, que exige um investimento para o reforço “de barcos ou para a construção de uma nova ponte”.
E as vantagens não ficam por aqui. De acordo com o projeto apresentado pelo Aliança, em Alverca era possível aumentar a “capacidade de tráfego aéreo, muito superior à solução do Montijo”, havendo ainda a “possibilidade de gestão unitária” dos dois complexos aeroportuários: o do Humberto Delgado e o de Alverca. Ao mesmo tempo, considerou que esta opção traduzia “mais segurança, com menos voos a sobrevoar zonas povoadas”.
Resistência
Mas enquanto vão sendo apresentadas outras alternativas ao Montijo, esta infraestrutura continua a sofrer uma série de impasses. Ainda ontem, o proTEJO – Movimento pelo Tejo propôs o chumbo do estudo de impacto ambiental (EIA) por apresentar “impactos negativos significativos” e questionou se o projeto “será viável em termos de operacionalidade e segurança”.
Segundo o movimento, o EIA “não estudou todas as alternativas complementares e/ou substitutivas ao atual aeroporto de Lisboa (…) que tenham em conta diferentes cenários de procura e o menor impacto ambiental possível”. Recorde-se que o estudo admitiu que existem ameaças para a avifauna e efeitos negativos sobre a saúde da população, devido ao ruído, caso a construção seja realizada.
A ANA – Aeroportos e o Estado assinaram a 8 de janeiro o acordo para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa. Trata-se de um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028, que inclui o aumento do Aeroporto Humberto Delgado e a criação do novo aeroporto. E os números falam por si: a abertura do Montijo aos voos civis permitirá criar 800 empregos indiretos por cada milhão de passageiros. Isto significa que no primeiro ano de operação desta infraestrutura, que nasce para aliviar a esgotada Portela, o tecido empresarial da Margem Sul do Tejo terá um reforço de 5600 postos de trabalho.
Os números juntam-se aos cinco mil empregos prometidos pela ANA para o novo aeroporto e que duplicarão quando o aeroporto complementar ao Humberto Delgado estiver em velocidade de cruzeiro. Ainda na semana passada, o presidente do conselho de administração da TAP, Miguel Frasquilho, afirmou que a expansão da TAP depende da construção do novo aeroporto no Montijo, algo por que a companhia aérea portuguesa “espera ansiosamente”. “É muito importante para nós porque nos permitirá crescer no Aeroporto Humberto Delgado”, sublinhou, afirmando que apesar das obras que ali estão a ser realizadas, “se não houver um complemento [Montijo] (…) no espaço de três, quatro anos”, a principal infraestrutura aeroportuária nacional “tornará a ficar esgotada”.
Uma história de impasses
Quando a construção do novo aeroporto na Ota já era tida como certa, a polémica em torno da localização instalou-se, com os partidos da direita a questionar se a Ota seria a melhor solução técnica e económica, e a esquerda preocupada com o financiamento. O abate de cerca de cinco mil sobreiros, a movimentação de 50 milhões de metros cúbicos de terra, o desvio da ribeira do Alvarinho e a necessidade de expropriar 1270 hectares foram algumas falhas apontadas a esta localização.
Mas seguiram-se outras alternativas, após estudos realizados por várias associações. Por um lado, surgiu a alternativa do Campo de Tiro de Alcochete – uma ideia avançada pela Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), entidade que promoveu a realização do estudo que apresentou esta localização como alternativa à Ota. A solução não agradou a Mário Lino e acabou por ficar famosa com a sua expressão “jamais”.
O governante considerou que a Margem Sul era um “deserto”, pelo que “jamais” poderia receber o novo aeroporto. “O que acho faraónico é fazer o aeroporto na Margem Sul, onde não há gente, onde não há escolas, onde não há hospitais, onde não há cidades nem indústria, comércio, hotéis, e onde há questões da maior relevância que é necessário preservar”, referiu.
Depois de muito impasse, a solução considerada para avançar foi Alcochete e acabou por ser anunciada pelo próprio José Sócrates. As conclusões do relatório ambiental final sobre o novo aeroporto foram favoráveis à construção da infraestrutura.
Entretanto surgiu a ideia do Montijo, primeiro pelas mãos da Associação Comercial do Porto. Na altura, o seu presidente, Rui Moreira, considerava que “o investimento numa pista e um barracão no Montijo ia ser quase nulo” e, ao mesmo tempo, evitava expropriações. Uma localização que acabou por ser defendida, mais tarde, pelo Governo de Passos Coelho e foi mantida depois pelo Executivo socialista.