Reações. As críticas e avisos ao novo Governo

Reações. As críticas e avisos ao novo Governo


Marta Temido e Tiago Brandão Rodrigues são os ministros mais contestados. Continuidade de Van Dunem aplaudida pelos agentes da justiça. Patrões satisfeitos por Siza Vieira ter ganho peso dentro do Governo.


Minutos depois de serem conhecidos os nomes dos 19 ministros que vão fazer parte do próximo Governo, foram vários os sindicatos, confederações e associações que começaram a lançar as primeiras críticas. Os ministros da Saúde, Educação, Justiça e Administração Interna são os alvos do maior número de farpas dos sindicatos.

E tendo em conta que do elenco de 19 governantes 14 estavam no anterior executivo e foram reconduzidos nas suas pastas, os sindicatos e associações não perderam tempo e aproveitaram para lembrar as medidas que têm vindo a reclamar e que ainda não foram aplicadas.

Médicos e enfermeiros contra Marta Temido

No geral, os médicos, os enfermeiros e os técnicos de diagnóstico lamentam a recondução de Marta Temido como ministra da Saúde. O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, considera que a decisão em manter a ministra revela que António Costa “não está a saber aproveitar a nova oportunidade que os portugueses lhe deram” frisando que Marta Temido “nada fez de significativo” pela saúde.

Também a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) diz esperar que a ministra – que tomou posse há um ano no anterior Governo para substituir Adalberto Campos Fernandes – tenha “mais poderes” para “negociar” várias medidas para os médicos.

Uma “grelha salarial condigna, uma dedicação exclusiva opcional” e uma “gestão democrática nos hospitais e centros de saúde” são algumas das exigências, diz o presidente João Proença.

Já o Sindicato Independente dos Médicos saúda Marta Temido pela recondução não deixando de avisar que é necessário “fortalecer e salvar” o SNS, lembrando que o “desinvestimento na última década está a conduzi-lo para um perigosíssimo beco sem saída”.

Do lado dos enfermeiros, Guadalupe Simões, presidente do Sindicato dos Enfermeiros, diz que a expectativa está, agora, no Orçamento do Estado para 2020 e sublinha que “não há SNS sem a melhoria das carreiras profissionais”.

Preocupações que são também levantadas pelo Sindicato dos Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica que salientam que “são públicos e notórios os problemas que estão a existir de falta de recursos humanos, de falta de meios e de falta de investimento”.

Brandão Rodrigues alvo de fortes críticas

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, é o alvo das críticas mais duras. Apesar de ser o primeiro governante da pasta da Educação a cumprir o mandato de quatro anos e a ser reconduzido, não foi com ânimo que os professores ficaram a saber que Brandão Rodrigues se vai manter no cargo. O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, não perdeu tempo para dizer que a continuação do ministro é “uma afronta e uma provocação” aos professores recusando reconhecer “méritos” para a sua recondução. Para a Federação Nacional da Educação (FNE) a continuidade do ministro “era bastante expectável” e João Dias da Silva vê a “vantagem de conhecer os dossiers que estão por resolver”. Já as escolas salientam que o importante, agora, é conhecer quem são os secretários de Estado lembrando que eram eles “a alma” do Ministério da Educação.

Manuel Heitor divide setor

A recondução de Manuel Heitor aos comandos do Ensino Superior e da Ciência gerou alguma surpresa. O i sabe que o ministro tinha manifestado vontade de não continuar no próximo Governo. E para os professores do Ensino Superior a recondução de Manuel Heitor provoca uma “desilusão para milhares de pessoas”. Para o presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), Gonçalo Velho, o ministro representa a “continuidade de um conjunto de problemas que vêm do passado” e, por isso, “não são esperadas grandes mudanças”.

A mesma opinião não tem o Conselho de Reitores que ficou agradado com a recondução de Manuel Heitor por ter uma “postura de diálogo” e conhecer “os problemas e as soluções” para o setor. Também o Conselho Coordenador dos Politécnicos diz estar “satisfeito” com a continuação de Manuel Heitor no cargo, não deixando de avisar que no Ensino Superior há o “desafio claro” do “aumento efetivo” das verbas do Orçamento do Estado para o setor.

Van dunem gera surpresa

Também a recondução de Francisca van Dunem na pasta da Justiça gera surpresa. No entanto, os vários sindicatos do setor dizem ter disponibilidade e abertura para continuar a dialogar com a ministra. Apenas o Sindicato dos Registos e Notariado se diz descontente e vê com “muita preocupação” a recondução da governante. Para o presidente da estrutura sindical, Arménio Maximino, van Dunem não teve a “sensibilidade adequada” para resolver os problemas dos registos e notários.

Mas tanto os juízes, como os funcionários judiciais e os magistrados do Ministério Público dizem que a recondução da ministra foi a “melhor opção” e dizem que “não têm qualquer problema em trabalhar” com a governante nas reformas do setor.

PSP cobra promessas de Cabrita

Assim que foi anunciada a recondução de Eduardo Cabrita como ministro da Administração Interna, a PSP disse que o governante pode “começar imediatamente a resolver aquilo que foi prometido”. O presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP), Paulo Rodrigues, frisou ainda que a continuidade do ministro vem “beneficiar aquilo que é a ação do Governo” porque Cabrita “já conhece os problemas da polícia” ficando “sem argumentos” para adiar as promessas.

Os bombeiros “aprovam” a recondução do ministro com o presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares, a considerar que Eduardo Cabrita tem “o perfil adequado” para o setor tendo uma postura de “diálogo aberto e franco”.

Patrões satisfeitos com Siza Vieira

O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, não só foi reconduzido na pasta como ganhou mais poder. Além de ter sido promovido a ministro de Estado, Siza Vieira passou a ser o número dois do executivo, substituindo Santos Silva. Uma promoção que foi elogiada tanto pelo presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, João Vieira Lopes, como pelo presidente da Confederação Empresarial (CIP), António Saraiva. Para os patrões, a subida de Siza Vieira revela um “sinal positivo” e uma “maior aposta na Economia e menos no Orçamento”.