Crónica sobre quando o meu fascismo é melhor que o teu…


A horda dos fanáticos ultrapolitizados, militantes das causas fracturantes e não só, signatários e impulsionadores destas sucessivas cruzadas, não percebem na imbecilidade do seu fanatismo que Salazar deve ter um museu, exactamente por causa deles.


Há, ao que parece, um número ainda não certo – rezam as notícias que sejam entre 5 mil a 10 mil portugueses – que acham que podem e devem definir, de acordo com as suas importantes consciências e sólidos princípios morais, além de putativo superior discernimento, quais as baias admissíveis e os faróis morais daquilo que os restantes nove milhões novecentos e noventa e tal mil podem, ou não, visitar e/ou conhecer, e que são os que se opõem à ideia de que pode haver um museu (privado) sobre Salazar.

Muito curiosamente, ou talvez não, também Salazar tendia a querer controlar aquilo que os restantes podiam ou não fazer e, aparentemente, a avaliar pelas reações (passado mais de meio século da morte do visado), estas luminárias aspiram, afinal e tão-só, a ser como ele foi. É o famoso fascismo da esquerda radical.

Do muito que se aponta à ditadura salazarista pontificam, entre outros, os pecados da censura, da falta de liberdade política, do partido e do pensamento únicos, das listas dos livros, das obras e dos autores proibidos e da falta de liberdades essenciais vividas durante a alegada ditadura fascista da União Nacional.

Quem tenha a mundividência necessária já notou que o novo paradigma da esquerda dos tiques salazarentos dos neofascistas do Bloco e quejandos, que perseguem a sombra e a memória de um morto que não voltará, é este: diabolizar o homem e tudo e todos os que não afinem por este diapasão e opor-se a tudo o que não seja uma manifestação mais ou menos nostálgica do caminho para o socialismo, ou seja, usar a mesma receita e chamar fascista quem o aponte.

Ao que parece, celebram o fim da ditadura do Estado Novo, mas aspiram a que, afinal, tudo seja exactamente igual, desde que o pensamento único e dominante seja o seu. É a lógica Robles dos fascistas de esquerda: a especulação imobiliária do outros é que é má e a deles é, afinal, sempre e necessariamente virtuosa.

Esta é a horda dos fanáticos ultrapolitizados, militantes das causas fracturantes e não só, signatários e impulsionadores destas sucessivas cruzadas, que na imbecilidade do seu fanatismo não percebem que Salazar deve ter um museu, exactamente por causa deles, e da sua versão em cada época.

A um tempo, para que não esqueçamos essa página da história, mas sobretudo para nos lembrarmos por que razão houve, em 28 de Maio de 1926, uma revolução pacífica que desceu de Braga até Lisboa e instalou, sem necessidade de nenhum PREC, um regime autoritário de sinal contrário, que estes ora tanto abominam, e que durou quase meio século, com grande aceitação popular durante muitos desses anos.

Estes idiotas de hoje em dia são, pois, os herdeiros morais dos muitos desmandos da i República e das suas lutas intestinas. Indignam-se com os mortos da Guerra Colonial e são indiferentes às vítimas da i Guerra Mundial, quando o Portugal das esquerdas revolucionárias carbonárias e jacobinas, que tanto glorificam e com o qual vivem pacificamente, enviou para as trincheiras de França 50 mil soldados impreparados e mal armados, de onde não voltaram quase oito mil soldados, um número quase idêntico ao das baixas de todos os teatros de guerra durante a Guerra Colonial, que durou década e meia.

Desconhecem, ou branqueiam, a barbaridade dos episódios desta putativa democracia dos golpes sucessivos, de um clima de quase guerra civil constante em que, num período de 16 anos, a República Portuguesa teve sete Parlamentos, oito Presidentes da República, 39 Governos, com 40 chefes diferentes, uma junta constitucional e uma junta revolucionária. E em que entre 1920 e 1926 houve 23 Governos.

Altura em que as perseguições políticas atingiram os píncaros da barbárie do sadismo e da violência. Relatos do episódio da noite sangrenta e do camião fantasma, com fuzilamentos e execuções sumárias ao gosto da Revolução Bolchevique superam em muito – pese o silêncio vergonhoso destes neomoralistas e a ausência de qualquer reacção conhecida contra esta barbárie – todas as muitas violências da PIDE em sadismo, crueldade e, provavelmente, também em número de vítimas.

Este clima de intolerância, experimentalismo e fervor revolucionário do combate das esquerdas republicanas, tão parecido na matriz com o destes ditadores dos costumes dos nossos dias, que se matavam ao tiro e à bomba pelo acesso ao depauperado orçamento famélico do Estado, foi, pois, o caldo de cultura perfeito para se instalar uma ditadura duradoura como reacção natural a tal estado de violência, loucura e afrontamento aos valores tradicionais.

Perceber como Salazar chega ao poder e porquê é um exercício fundamental para quem queira perceber a história e as dinâmicas sociais do séc. xx. Um museu é uma entre muitas soluções para se aprender com os erros do passado.

O risco de o construir não é o de branquear o Estado Novo, o risco é antes o de, não o construindo, permitir que se branqueie a cruzada dos neofascistas e que nada se tenha aprendido sobre o custo de dar aos alucinados extremistas a dianteira dos valores. No século passado, isso custou-nos quarenta e tal anos de ditadura.

P. S. Neste recatado mês de Agosto e às escondidas dos eleitores que ainda veraneiam, nem de propósito, Costa, às escondidas dos portugueses e com aquela lealdade a que nos vem habituando, transformou as escolas do país no acampamento de verão do Bloco de Esquerda ao publicar um despacho, 7274/2019 de 16/8, que é um aborto jurídico que nega a ciência a favor de uma ideologia obscura e segue uma agenda política que nada tem que ver com igualdade, mas sim com alucinação ideológica, em violação flagrante da Constituição Portuguesa.

 

Advogado na norma8advogados

pf@norma8.pt

Escreve à quinta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990