Há muitos anos vi um filme, de cujo nome não me recordo, mas em que James Cagney, um ator que fazia muitas vezes o papel de gângster, é condenado à morte. Como havia vários jovens na sala onde lhe seria infligido o castigo fatal, um padre seu amigo tenta convencê-lo a gritar, dizendo que tinha medo e que não queria morrer, para que outros aprendizes de malfeitores não seguissem o seu exemplo. Certo é que o mafioso, não tendo medo de morrer, anuiu ao pedido do padre, vendo-se depois as imagens de desilusão dos seguidores da personagem que James Cagney interpretava.
Com as devidas distâncias, ontem lembrei-me desse filme quando Pardal Henriques, o porta-voz e assessor do sindicato dos motoristas de matérias perigosas, anunciou o fim da greve. Depois, o comunicado oficial foi lido pelo presidente do sindicato, não sem que Pardal Henriques lhe fosse dando dicas ao ouvido. Uma situação patética, diga-se.
Calculo que muitos camionistas que perderam dinheiro nestes sete dias de greve tenham ficado desiludidos, pois quem estica a corda tanto como o sindicato o fez é para levar a sua luta até ao fim. E, aqui, só pode haver uma interpretação: se agora ameaçam fazer greve às horas extraordinárias e ao trabalho ao fim de semana e aos feriados caso não cheguem a acordo com a Antram na próxima terça-feira, não se percebe porque não começaram a sua reivindicação por aí.
Certo é que os portugueses estão aliviados, apesar de a greve não se ter feito sentir muito, e o Governo tem mais uma estrondosa vitória. Abafou os grevistas, deixou a oposição e a geringonça à toa e surge aos olhos da opinião pública como determinado e sem contemplações com grevistas que interferem com os seus carros.
Por fim, Pardal Henriques. O homem foi um dos grandes derrotados desta telenovela e o seu futuro político pode ter ficado em causa, apesar de ter sido um dos principais responsáveis pelos aumentos já garantidos para todos os camionistas.