Faltam menos de dois meses para as eleições legislativas, mas o PSD continua a dar sinais de divisão, com Rui Rio no centro das críticas. Depois de Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, ter acusado a direção do partido de estar “em greve de combate político”, o líder do PSD/Porto resolveu tornar público o seu desencanto. “Rio não podia ter desiludido mais”, escreve num texto sobre a elaboração das listas, nas redes sociais, Hugo Neto.
O presidente da concelhia do Porto começa por garantir que só pretendia falar a seguir às eleições legislativas, mas a ausência da direção do partido em plena greve dos motoristas fê-lo mudar de ideias. Hugo Neto afirma que “a ausência total do PSD, durante duas longas semanas, num período político crítico é inaceitável e apresenta um odor demasiado forte a uma incompetente arrogância”.
O presidente da concelhia do Porto entrou em rutura com Rui Rio por causa dos nomes escolhidos pela direção nacional para integrar as listas para as eleições legislativas. Neste texto, publicado na sua página do Facebook, garante que transmitiu ao presidente do PSD “o quão grave e errado sinal seria deixar de parte um dos melhores do PSD, como Miguel Pinto Luz, ou, de forma mais covarde e menos assumida, relegar para a inelegibilidade Maria Luís Albuquerque”.
O líder do PSD/Porto arrasa as escolhas feitas pela direção do partido para o distrito. Considera “totalmente incompreensível” que “não assegurem nenhum dos critérios lógicos para a construção de uma lista de deputados. Tenho estima por alguns dos candidatos mas, salvo raras e honrosas exceções, como a de Álvaro Almeida, as escolhas feitas não asseguram reforço de competências técnicas ao grupo parlamentar. Também não representam as bases do partido, não garantem equilíbrio territorial e não cruzam verdadeiramente o partido com o melhor da nossa sociedade”.
“Gente sem qualidade” Hugo Neto, que trabalhou com o agora líder do PSD na Câmara do Porto e foi seu apoiante desde a primeira hora, vai mais longe e confessa que “nas listas, como no trabalho político diário, Rio não podia ter desiludido mais”. E acusa o líder de se ter rodeado de “gente sem qualidade” e de se ter tornado “um presidente do PSD sem rumo nem estratégia”. O social-democrata termina o desfile de críticas à atuação de Rui Rio com a garantia de que a concelhia do Porto vai apelar aos militantes para que “votem PSD”, mas não poderia “validar, com o nosso silêncio cúmplice, um processo kafkiano que envergonharia Francisco Sá Carneiro”.
PSD ausente O processo de elaboração das listas foi bastante conturbado no PSD e, apesar da proximidade das eleições legislativas, o partido não consegue aparecer unido aos olhos do eleitorado. Ontem, num artigo no i, Carlos Carreiras não escondia o receio de que o PS tenha “uma vitória esmagadora”. O autarca de Cascais e ex-vice-presidente do partido durante a liderança de Passos Coelho apontou o dedo a Rui Rio por o PSD estar “há muito ausente, em greve de combate político” e não estar “a cumprir os serviços mínimos”.
A direção do partido não respondeu às críticas internas. David Justino, vice-presidente do PSD, numa conferência de imprensa sobre a greve dos motoristas, disse que não fará “nenhum comentário” porque o partido está concentrado nos problemas do país. Aos que têm criticado a ausência do líder, David Justino deixou a garantia de que “Rui Rio está de férias, mas não está incomunicável”.