A esquerda pode boicotar greves, a direita seria fascista


Alguém consegue imaginar um partido de direita a decretar serviços mínimos de 40%?


Recordo-me vagamente do início da Guerra do Golfo – há acontecimentos mais antigos que tenho mais nítidos na memória -, mas sei que houve uma correria aos supermercados, já que existia o receio de que os alimentos pudessem começar a escassear nas prateleiras. Já agora, um apontamento à parte: se a população portuguesa não aumentou, como é possível terem aparecido tantas grandes superfícies comerciais nos últimos anos? Nos anos 90, as pessoas passavam fome? Mistérios.

Mas vem esta conversa a propósito da suposta greve dos motoristas de matérias perigosas, vulgo combustíveis, e dos motoristas de matérias perecíveis, vulgo comida.

Se o Governo está preparado para levar a cabo a maior requisição civil de que há memória em democracia – fala-se em 40%, mas também existe quem queira 70% – no que ao transporte de combustíveis diz respeito, o que farão com os produtos alimentares? Vão colocar militares a transportar leite do dia, couves, alfaces, carne e peixe para as grandes superfícies? Vão tentar matar a greve dessa forma? Mas onde é que está o direito à mesma? Alguém consegue imaginar um partido de direita a decretar serviços mínimos de 40%?

Seria impossível, até porque seriam considerados fascistas e ninguém quer ficar com essa fama. Já a esquerda pode fazer tudo em nome da estabilidade social e em prol do povo, que não pode ficar sem gasolina e sem comida.

Por tudo isto, será muito curioso assistir à famosa greve que terá, supostamente, início a 12 de agosto, quando meio país – aquele que pode – estará de férias ou a regressar a casa. Não creio que o Governo vá mostrar-se tão inábil como na última greve dos camionistas de matérias perigosas. É certo que já foram feitos apelos para que os automobilistas encham os depósitos antes da dita paralisação, mas Pedro Nuno Santos, devidamente aplaudido pelo BE e pelo PCP, já deve estar em negociações com os militares da GNR e com aqueles que estão nos quartéis das Forças Armadas para serem os motoristas de serviço. Afinal, o povo unido jamais será vencido.