Mea culpa


Peço desculpa pelas constantes tentativas de contacto telefónico com o Centro Nacional de Pensões, sem êxito.


Senhora secretária de Estado da Justiça:

Eu, cidadão contribuinte, reformado, venho junto de Vossa Excelência pedir humildemente desculpa pelos desmandos que tenho cometido ao longo da minha vida de pagador de impostos.

Acusou Vossa Excelência recentemente os cidadãos que, certamente por masoquismo, decidem acordar às primeiras horas da manhã para se colocarem numa fila numa Loja do Cidadão, com o objetivo de tirarem ou renovarem o cartão de cidadão.

Pois eu fui recentemente um dos milhares de cidadãos que foram sistematicamente, à mesma hora, para tentar conseguir uma senha para renovar o cartão de cidadão. De facto, tem toda a razão. Só mesmo péssimos cidadãos é que decidem atrapalhar aqueles eficientes serviços públicos, resolvendo ir para uma fila duas ou três horas antes da abertura dos serviços. Francamente!

Em meu nome e desses cidadãos, as minhas sinceras desculpas.

Aproveito também para solicitar a Vossa Excelência que estenda as minhas desculpas a outros colegas seus, nomeadamente aos da Segurança Social e da Saúde.

Peço desculpa pelas constantes tentativas de contacto telefónico com o Centro Nacional de Pensões, sem êxito. Estou certamente a ligar à mesma hora que muitos outros cidadãos, o que só dificulta o serviço.

Peço ainda desculpa pelas cartas que enviei e não tiveram, naturalmente, resposta. Estou certamente a escrever ao mesmo tempo que outros cidadãos. Tanto correio, de facto, só atrapalha. E, certamente, os responsáveis da Segurança Social não estão lá para responder a cidadãos malcomportados.

Peço também desculpa por, algumas vezes, atrapalhar as urgências hospitalares, felizmente com pouca frequência mas que, mesmo assim, só ajuda à confusão reinante.

Enfim, Excelência, tenho de lhe pedir desculpa por não me limitar ao meu dever de cidadão: pagar impostos.

No futuro, vou tentar não incomodar os serviços públicos, esperar os meses (ou anos) necessários para que a Segurança Social resolva os meus problemas e, sobretudo, tentar não adoecer.

Obrigado por tudo e, mais uma vez, as minhas desculpas por existir.

 

Jornalista