A fronteira entre a Venezuela e a Colômbia foi reaberta, este sábado, por ordem do Presidente Nicolás Maduro. A fronteira estava encerrada desde dia 22 de fevereiro, o dia antes de o autoproclamado Presidente interino, Juan Guaidó, ter tentado fazer entrar ajuda humanitária norte-americana e colombiana no país, que foi bloqueada pelo Governo de Maduro.
A decisão surge um dia depois do autoproclamado Presidente anunciar que num futuro próximo não haverão novas rondas negociais com o Governo, que até agora têm decorrido em Oslo, com mediação sueca. Apesar do Presidente venezuelano continuar a ter pleno controlo do aparelho de Estado – graças ao apoio do exército – Guaidó mantém como condição mínima a saída de Maduro do poder. “Se estas negociações não nos aproximam” desses objetivos, proclamou o líder da oposição aos seus apoiantes, “são inúteis”.
Contudo, a saída de Maduro parece cada vez mais improvável, dada a perda de ímpeto de Guaidó – que está há meses nas ruas –, e às divisões dentro da oposição, como reconheceu o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo. “O nosso quebra-cabeças, que é manter a oposição [venezuelana] unida, provou-se diabolicamente difícil”, terá dito Pompeo, segundo o Washington Post.
Enquanto a disputa política continua, milhares de venezuelanos dirigiram-se à fronteira, formando longas filas logo de madrugada. Muitos deles arrastando malas e bagagem, enquanto esperavam que as autoridades verificassem os seus documentos. Alguns deslocaram-se à Colômbia para comprar os alimentos e medicamentos que escasseiam no seu país, que sofre uma profunda crise económica. Agravada pelas pesadas sanções impostas pelos Estados Unidos, que terão causado perdas de mais de 17 mil milhões de euros, só em 2018, segundo as autoridades venezuelanas.
“Vou a Bucaramanga buscar os remédios da minha avó, que é hipertensa”, contou à EFE Merwin Léon, um dos muitos venezuelanos que atravessaram a Ponte Internacional Simón Bolivar, rumo a Bucaramanga, capital do estado vizinho. A avó de Merwin é uma das 300 mil pessoas em risco por falta de medicamentos, devido às sanções contra a Venezuela. Que terão causado pelo menos 40 mil mortes entre 2017 e 2018, de acordo com um relatório do think tank norte-americano Center for Economic and Policy Research (CEPR).
Um dos economistas responsável pelo estudo do CEPR, Jeffrey Sachs, afirmou que “as sanções norte-americanas procuram deliberadamente destruir a economia venezuelana, de modo a levar a uma mudança de regime”. Notando que isso “se enquadra na definição de castigo coletivo de uma população civil, como descrito nas convenções de Genebra e Haia”.
Ao contrário de Merwin, nem todos os venezuelanos que atravessaram a fronteira planeiam regressar. Boa parte juntou-se aos mais de quatro milhões de pessoas que já fugiram da Venezuela, segundo as estimativas das Nações Unidas. Cerca de um milhão de pessoas sairiam do país só nos últimos sete meses, tornando os venezuelanos a maior população de refugiados do mundo. A maioria procurou refúgio na América Latina, sobretudo na Colômbia e no Peru, que “estão a fazer a sua parte para responder a esta crise sem precedentes”, segundo a ONU. Que alerta que “não se pode esperar que o continuem a fazer sem ajuda internacional”.